O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 07, 2018

"LEVANTO MINHAS MÃOS..."



A história construiu castelos que se afrontam: Tui e Valença; Monção e Salvaterra. A geografia fez aproximações. Se a história separou, a geografia uniu. O rio Minho foi a grande estrada que facilitou a permuta entre as povoações das suas margens. Na Idade Média, os rios mais que barreiras, criavam pontes de vizinhança.

O concerto que o Coro Gregoriano do Porto apresentou na igreja matriz de Caminha, em 28 de julho passado, abriu com uma homenagem à raiz cultural que une as povoações ribeirinhas do rio Minho. E fê-lo com a leitura de “Cantigas de Amigo”: «Ai flores, ai flores de verde pino», do nosso rei D. Dinis, e «Ondas do mar de Vigo», do jogral galego Martim Codax. A que juntou duas “Cantigas de Santa Maria”, de Afonso X, em galaico-português. Como é belo este lirismo saudoso de que falava Castelao…

A realização deste concerto, junto à foz do Minho, fez crescer em nós o desejo de ir à procura das suas origens. E fomos…

Por terras de Lugo, subimos a serra de Meira. Ao chegar a Pedregal de Irimia, admirámos o carinho com que o povo galego aconchega o nascimento do Rio Minho a que chamam “Pai dos rios galegos”. São muitas as placas que o engrandecem. Numa lê-se:

 “Pedregal de Irimia é o primeiro lugar onde se pode ver a auga formando caule do Rio Miño. Trs o seu passo pola terra que o viu nascer, continúa o seu camiño dirección a Lugo, seguindo o seu percorrido co desexo de alcanzar terras pontevedresas, onde fai fronteira com Portugal. Com 343 km de lonxitude “, os seus últimos 76 km servem de fronteira.



E há poemas, feitos de saudade como o do “poeta de Meira”, Avelino Dias:

“Craro Rio Miño… Por eso te quero mais. Quizabes tuas augas levan  As bágoas de miña nai” (mãe).

É um lugar feito de contrastes. Ao fundo duma alongada penedia, nasce, sob a frescura dum arvoredo, um fio de água que, qual bebé, balbucia de pedra em pedra.

Sobre a origem deste pedregal, a lenda fala duma pastora já idosa. Perante o ataque dos lobos, a anciã correu atrás deles atirando-lhe pedras e deixando cair as que tinha no regaço. As pedras começaram a crescer monte abaixo, abrindo a terra e deixando sair um pequenino regato. O Minho nasce aqui.

É muito significativo que o “Movimento dos Crentes Galegos” tenha realizado aqui a sua primeira “Romaxe, em 16/9/1978, sob o lema “Eu renazo galego” e dado à sua revista o título “Irimia”.

Sentimo-nos em casa, apesar da distância. O rio Minho também é português. Como nos soube bem refrescar os pés naquelas águas virginais!

 
 
 
 
 
Em terra de silêncio, o céu fez-se mais próximo. Um hino de louvor brotou-nos do coração. E, como Melquisedec, rezamos: “Levanto as minhas mãos para o Senhor, Deus Altíssimo, que criou o céu e a terra” - Gn 14,21. (6/3/2018)