"LEVANTO MINHAS MÃOS..."
A
história construiu castelos que se afrontam: Tui e Valença; Monção e
Salvaterra. A geografia fez aproximações. Se a história separou, a geografia
uniu. O rio Minho foi a grande estrada que facilitou a permuta entre as
povoações das suas margens. Na Idade Média, os rios mais que barreiras, criavam
pontes de vizinhança.
O
concerto que o Coro Gregoriano do Porto apresentou na igreja matriz de Caminha,
em 28 de julho passado, abriu com uma homenagem à raiz cultural que une as
povoações ribeirinhas do rio Minho. E fê-lo com a leitura de “Cantigas de
Amigo”: «Ai flores, ai flores de verde pino», do nosso rei D. Dinis, e «Ondas
do mar de Vigo», do jogral galego Martim Codax. A que juntou duas “Cantigas de Santa Maria”, de Afonso X, em
galaico-português. Como é belo este lirismo saudoso de que falava Castelao…
A
realização deste concerto, junto à foz do Minho, fez crescer em nós o desejo de
ir à procura das suas origens. E fomos…
Por
terras de Lugo, subimos a serra de Meira. Ao chegar a Pedregal de Irimia,
admirámos o carinho com que o povo galego aconchega o nascimento do Rio Minho a
que chamam “Pai dos rios galegos”. São muitas as placas que o engrandecem. Numa
lê-se:
“Pedregal de Irimia é o primeiro lugar onde se
pode ver a auga formando caule do Rio Miño. Trs o seu passo pola terra que o
viu nascer, continúa o seu camiño dirección a Lugo, seguindo o seu percorrido
co desexo de alcanzar terras pontevedresas, onde fai fronteira com Portugal.
Com 343 km de lonxitude “, os seus últimos 76 km servem de fronteira.
E
há poemas, feitos de saudade como o do “poeta de Meira”, Avelino Dias:
“Craro
Rio Miño… Por eso te quero mais. Quizabes tuas augas levan As bágoas de miña nai” (mãe).
É
um lugar feito de contrastes. Ao fundo duma alongada penedia, nasce, sob a
frescura dum arvoredo, um fio de água que, qual bebé, balbucia de pedra em
pedra.
Sobre
a origem deste pedregal, a lenda fala duma pastora já idosa. Perante o ataque
dos lobos, a anciã correu atrás deles atirando-lhe pedras e deixando cair as
que tinha no regaço. As pedras começaram a crescer monte abaixo, abrindo a
terra e deixando sair um pequenino regato. O Minho nasce aqui.
É
muito significativo que o “Movimento dos Crentes Galegos” tenha realizado aqui
a sua primeira “Romaxe, em 16/9/1978, sob o lema “Eu renazo galego” e dado à
sua revista o título “Irimia”.
Sentimo-nos
em casa, apesar da distância. O rio Minho também é português. Como nos soube
bem refrescar os pés naquelas águas virginais!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home