O Tanoeiro da Ribeira

sábado, abril 07, 2018

COINCIDÊNCIAS...


Com este título, publiquei um texto, em 5 de março de 2014, a propósito da nomeação de D. António Francisco para bispo do Porto, dando nota da boa impressão que me tinha ficado dum encontro fortuito em 2007.

O mesmo acontece agora. Foi há muitos anos.

Em 1994, meu filho João participou em Vilar de Perdizes num “Campo de Trabalho” organizado pelo P. António Fontes com a colaboração do seminarista Heitor Antunes. No ano seguinte, ordenado presbítero, o P. Heitor convidou-nos para a “Missa Nova” na igreja de Mourilhe. O almoço foi servido ao ar livre. No seu início, entabulei conversa com o companheiro de mesa. Quando soube que éramos do Porto, disse-me que dava aulas na faculdade de Teologia e se chamava Manuel Linda. Foi longa, muito longa a nossa conversa… Começámos por falar de teologia e logo surgiu a década de sessenta e seus contrastes. Época de grande fecundidade teológica com uma plêiade de teólogos que muito influenciou os trabalhos do Concílio: Rahner, Congar, Chenu, de Lubac, Jean Daniélou, Schillebeeckx, Hans Küng, Metz, von Balthasar, Ratzinger, o futuro Bento XVI. Mas, apesar disso, continuávamos a estudar pelos velhos compêndios, muitos deles em latim. Lembro o entusiasmo com que mandei vir de Espanha o “Vocabulario de Teologia Bíblica” de X. Léon Dufour. Acabado o curso, o velho tratado de Noldin foi suplantado pela “Lei de Cristo” de Häring, e o compêndio de Tanquerey silenciado pelos documentos conciliares que iam saindo, apoiados por livros que chegavam de Espanha, de que lembro “Conceptos  Fundamentales de la Teologia”.

Porque estávamos em terra fronteiriça, veio à baila a relação Portugal - Galiza. Falei-lhe dos meus amigos galegos que D. António recebera na sua casa em Milhundes, na Páscoa de 1970 e com quem teve uma longa conversa sobre a enculturação do cristianismo na alma galega. Mostrou-se surpreendido e muito interessado. Falámos de D. António que ambos admirávamos e também de Torres Queiruga que fazia parte do grupo mencionado. Aproveitei a oportunidade para lhe falar do desejo que este teólogo tinha de publicar artigos em português, na revista galega “Encrucillada” que fundara e dirigia.

Sensibilizou-me a simpatia do seu acolhimento e a generosidade da sua atenção. Ficou-me a abrangência das suas análises e a coragem das suas afirmações.

Simplicidade no ser, clareza no pensar, bom senso e determinação no agir são qualidades que vi confirmadas por amigos comuns, como aconteceu na última viagem que fiz a Terras do Barroso.

Como em 2014, concluo: “Coincidências…Sinais que abrem caminhos de Esperança”.

 

D. Manuel, seja bem-vindo e só desejo que se faça realidade o ideal que deixou bem claro na primeira mensagem que dirigiu à Diocese:
“Procurarei reconduzir a Igreja a uma tal simplicidade evangélica que a constitua referencial ético para o mundo atual.” (28/3/2018)