O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, maio 16, 2018

TERRORISMO DE SACRISTIA



Desculpem a violência do título. Hesitei. Impeliram-me as palavras do Santo Padre. Eu conto.

Há dias, meu amigo Zé Miguel enviou-me, por correio eletrónico, um vídeo onde se vê o Papa Francisco a falar com jovens, em Roma, no dia 19 de março.

O Papa, com o humor que lhe conhecemos, começa por contar “uma piada sobre uma fofoqueira”.

“Um cardeal simpático me contou que conheceu um sacerdote com um grande senso de humor que tinha na paróquia uma mulher muito fofoqueira que falava de todos e de tudo e vivia tão perto da igreja que, da janela do seu quarto, podia ver o altar. A senhora ia à Missa todos os dias e, depois, passava as outras horas do dia andando pela paróquia, falando dos outros. Um dia, ela ficou doente e ligou para o sacerdote para dizer: “Estou de cama com uma gripe muito forte. Por favor, você pode trazer a comunhão para mim?”. O sacerdote respondeu: “Não se preocupe. Com a língua grande que você tem, da sua janela você consegue chegar ao tabernáculo”. O Santo Padre sorriu e ouviram-se risos na sala.

E o Papa continuou, já com um ar mais sério, enquanto na sala os risos se iam progressivamente apagando…

 “Mas, diga-me, em uma paróquia onde os fiéis fofocam todo o dia contra todos e contra o sacerdote, o pobre sacerdote está sozinho e sem o testemunho de Cristo na comunidade”.

O rosto do Papa vai-se tornando cada vez mais sombrio… E explica:

“Menciono o tema da fofoca porque, para mim, é uma das coisas mais feias nas comunidades cristãs”. Suspende a palavra para enfatizar: “Sabiam que a fofoca é terrorismo?” Com o semblante, já muito carregado, insiste: “A fofoca é um terrorismo?”

E com muita firmeza na voz e gravidade no rosto, responde:

“Sim, porque um fofoqueiro faz a mesma coisa que um terrorista: aproxima-se, fala com a pessoa, joga a bomba da fofoca, destrói e vai-se embora.”

A denúncia dos mexeriqueiros é uma preocupação permanente do nosso Papa. Noutras ocasiões, chama-lhe hipócritas até porque, por vezes, essas línguas viperíneas são das mais enfronhadas nos serviços da Igreja.

Face às suas palavras, três atitudes são possíveis:

A primeira é de indiferença, não ligar importância e esquecer que ele é o nosso Pai na Fé.

A segunda é olhar à volta e começar a murmurar - Olha fulano… é isto mesmo. E beltrana, ela é que devia ouvir estas palavras…

A terceira é parar para pensar: Não terei eu alimentado a coscuvilhice, falando ou ouvindo? Se dizer mexericos é mau, ouvi-los não é melhor, mesmo quando fazemos um ar de piedoso espanto… Qual vai ser a minha?

 (Nota: O “Dicionário Houaiss” enumera 74 sinónimos de mexerico, tais como alcovitice, bisbilhotice, boato, chocalhice, coscuvilhice, dito, diz-que-disse, enredo, falatório, fofoca, indiscrição, intriga, lambança, maledicência, murmuração, novidade, onzenice, pauzinhos, tramoia, trica…)
(16/5/2018