O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, junho 06, 2018

INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL E O SILÊNCIO


 

No suplemento “dinheiro vivo” (JN, 28/4/2018), surpreendeu-me o título: “Dez gestores revelam como um retiro ajuda a decidir melhor. Todos praticam, de formas diferentes, o estar em silêncio”.

E a autora, Elisabete Tavares, continua: “Nos negócios, a inteligência espiritual tornou-se um requisito, num mundo em que a inteligência artificial ganha espaço”.

Esta afirmação está em linha com o que escreveu a filósofa americana Dana Zohar: "A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual".

Esta referência à “inteligência espiritual” fez-me recordar o que já escrevi (VP, 10/10/2016): O Dr. Albino Moreira possuía aquela “inteligência espiritual”, fonte de liberdade e consciência crítica, de que falava Santa Edith Stein”. Esta filósofa, bem como Annah Arendt, já havia abordado este terceiro tipo de inteligência. No entanto, foi Dana Zohar que o reavivou nos nossos dias.

O primeiro tipo, a “inteligência intelectual” (QI) está na base do pensamento racional e lógico. O segundo, a “inteligência emocional” (QE) realiza o pensamento associativo, reconhecedor de padrões emotivos. A descoberta do QE veio demonstrar que o QI, tido, até então, como medida única da inteligência, não era suficiente. Não basta ser-se um génio se não se souber lidar com as emoções.

Mais recentemente, está a ser valorizada a “inteligência espiritual” (QS) que alarga os horizontes das pessoas, ajuda-as a lidar com o cerne das questões, torna-as mais criativas e com necessidade de dar significado à vida.

Dana Zohar baseia-se em pesquisas de cientistas de várias partes do mundo que descobriram, no cérebro, o chamado "Ponto de Deus", uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas. Segundo ela, as pessoas com bom QS praticam e estimulam o autoconhecimento profundo; orientam-se por valores, regem-se por ideais; têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade; têm uma visão holística do real; celebram a diversidade; têm independência; perguntam-se sempre "por quê?"; possuem a capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo bem como o dom da espontaneidade e da compaixão.

Deixo-vos com dois testemunhos do supramencionado suplemento: “Acabo de concluir dez dias de meditação em silêncio”; “Não tenham medo de ouvir o que vos diz o coração”.

Silêncio… meditação… ouvir o coração…

Não é por acaso que se multiplicam os “Encontros de Silêncio” como o que, no verão passado, presenciei no Mosteiro de Sobrado dos Monxes, na Galiza. Não será para respirar silêncio que muitos percorrem o Caminho de Santiago? Na sua maioria, vão em grupos mas caminham separados e nunca vi nenhum com fones de ouvido nem ao telemóvel…(6/6/2018)