O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, junho 13, 2018

"HOMEM INTEIRO"


Amigo,

“Em Lágrimas…” foi o título que me surgiu, na tarde da tua “passagem”. E logo, em turbilhão, me assaltaram emoções, memórias, e outros títulos como “Homem de uma só face”, “Espírito sem teias nem peias”. No dia seguinte, a página Eternamente Rui Osório do “teu” Jornal de Notícias deu-me o título final. Sempre foste “Homem Inteiro”. Posso afirmá-lo sem receio porque te conheço há 65 anos. A amizade, porém, fortaleceu-se no ano letivo 1959/60, quando íamos ao Centro de Produção da Renascença, gravar o programa radiofónico “ Horizontes Pastorais”, da responsabilidade dos alunos do Seminário da Sé. Inicialmente, na rua da Alegria, depois em Sá da Bandeira. Nos testes de microfone, foste o selecionado para ler os textos. Já então eras a nossa voz.

Quando, em 1964, foste nomeado para coadjutor, eu já vivia em Campanhã onde os jovens, de então, ainda hoje te recordam com saudade. Quantas conversas tivemos com troca de expetativas e experiências e comentários dos documentos conciliares que iam saindo…Os anos passaram e tu não esqueceste. Ainda, em 27 de agosto passado, o recordavas na recensão que, no JN, fizeste ao livro No Princípio foi assim: “F. era um jovem padre quando lhe foi confiada, em 1964, a missão de criar uma paróquia num dos bairros mais emblemáticos da Invicta – o Cerco do Porto. Aí, com as orientações teológicas e pastorais do Concílio Vaticano II, nasceu a paróquia de Nossa Senhora do Calvário”. 

Numa dessas conversas, confessaste-me que andavas a estudar espanhol. Perante o meu espanto, esclareceste: -“ D. Florentino quer que eu vá estudar jornalismo para Pamplona e, para isso, tenho de fazer um exame de língua espanhola.

A partir daí, levantaste voo. Mas esses voos não te afastaram dos amigos. Como ficaste feliz quando, em 1997, o Coro Gregoriano do Porto, formado por antigos colegas teus do seminário, começou a cantar a Eucaristia que celebravas na igreja da Trindade! Arranjavas sempre tempo para uma conversa, no final. Como nos sabia bem!...

Não foi por acaso que o Coro, em 2011 – já tu eras o pároco - gravou o seu último CD, na igreja de S. João da Foz. Com que alegria nos acolheste!

E por falar na Foz, não posso esquecer o que, em 1995 - acabavas de ser nomeado seu pároco - me disseste, na rua de Santa Catarina: - “Como sabes, sempre disse que gostaria de ser pároco”. Lembro ainda as tuas palavras, ao iniciar a visita do grupo Boa Memória à igreja que tanto admiravas: - “Um apaixonado é sempre um exagerado. E eu sou um apaixonado…”

É com muito carinho que guardamos o teu livro “Foz do Douro de 1216 a 2016 – 800 anos da paróquia de S. João da Foz”. Lembramos o sorriso do teu rosto na sua apresentação e agradecemos a ternura da tua dedicatória.

Ainda no dia 3 de maio me dizias: “Estou a melhorar”… Saudade…

(13/6/2018)