O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, outubro 03, 2018

CANDEIAS DE NOSSA SENHORA



Três meses são passados sobre a morte duma cristã cuja luz não pode ficar debaixo do alqueire (cf. Mt 5,15)

No dia 4 de julho, a crónica do P. Lino Maia, na VP, tinha por título “Obra de Nossa Senhora das Candeias”. E terminava: ”Maria Carolina Furtado Martins foi uma das fundadoras da Obra. Faleceu no dia 1 de julho, nesta cidade em que é verdadeiro ícone da caridade cristã e da solidariedade crente”.

No funeral a que presidiu, D. João Miranda confidenciou: “Não privei muito com D. Carolina. Mas conheci o suficiente da Obra que ela com outras fundou. Quis servir a Igreja nas pessoas dos mais pobres e inventou uma fórmula de o conseguir, consagrando a vida e a de muitas das suas companheiras ao trabalho do Evangelho. À semelhança de Maria, D. Carolina disse SIM à vontade de Deus, não se negou nem poupou em esforços.“ 

Era estudante quando comecei a admirar três Professoras de Moral, conhecidas apenas pelo nome próprio: Carolina, Rogélia e Érica. E isto aconteceu quando, nos primeiros anos da década de sessenta, um grupo de seminaristas - com o incentivo do seu reitor, P. Miguel Sampaio e o apoio de D. Florentino - abriu a igreja de S. Lourenço (dos Grilos) aos moradores do bairro da Sé, um viveiro de gente pobre que lhe ficava à ilharga e criaram um parque infantil onde as crianças das redondezas brincavam sob o olhar atento duma “madrinha”. Quanto lhes agradou esta iniciativa juvenil e como a acompanharam!

A minha admiração foi crescendo à medida que fui conhecendo como se entregavam de alma-e-coração a ajudar e promover as alunas mais pobres e mais vulneráveis. E faziam-no à custa dos seus parcos recursos económicos. Doação total… Era o início da Obra de Nossa Senhora das Candeias.

Tudo o que a Igreja fazia para valorizar os mais necessitados merecia a sua atenção e apreço. Com que entusiasmo acompanharam os alvores da “Obra Diocesana de Promoção Social”!

Primícias do Vaticano II, estas duas Obras de Igreja nasceram, bem próximas no tempo e no espírito.

Apraz-me registar o que, no ano passado, escreveu o presbítero que acompanhou a Obra Diocesana nas suas origens: “A partir de 3 de novembro de 1964, passei a viver no bairro do Cerco do Porto. Quem me mobilou a casa foram as senhoras da Obra de Nossa Senhora das Candeias a quem muito agradeço pelo seu testemunho de serviço aos pobres, pela sua simplicidade de vida e até porque, nos meus primeiros tempos em que vivia sozinho, era a uma das suas casas que ia almoçar, gratuitamente. A pobreza evangélica foi a marca que deixaram na minha casa. Ainda em finais de 1972, D. António se admirou com as estantes de tijolos em que guardava meus livros”

Termino com o apelo que D. João Miranda deixou no final da sua homilia: “Dona Carolina acendeu uma CANDEIA. Não seja ela apagada”.

(2/10/2018)