CANDEIAS DE NOSSA SENHORA
Três meses são passados sobre a morte duma cristã
cuja luz não pode ficar debaixo do alqueire (cf. Mt 5,15)
No dia 4 de julho, a crónica do P. Lino Maia, na VP,
tinha por título “Obra de Nossa Senhora das Candeias”. E terminava: ”Maria
Carolina Furtado Martins foi uma das fundadoras da Obra. Faleceu no dia 1 de
julho, nesta cidade em que é verdadeiro ícone da caridade cristã e da
solidariedade crente”.
No funeral a que presidiu, D. João Miranda
confidenciou: “Não privei muito com D. Carolina. Mas conheci o suficiente da
Obra que ela com outras fundou. Quis servir a Igreja nas pessoas dos mais
pobres e inventou uma fórmula de o conseguir, consagrando a vida e a de muitas
das suas companheiras ao trabalho do Evangelho. À semelhança de Maria, D.
Carolina disse SIM à vontade de Deus, não se negou nem poupou em
esforços.“
Era estudante quando comecei a admirar três
Professoras de Moral, conhecidas apenas pelo nome próprio: Carolina, Rogélia e
Érica. E isto aconteceu quando, nos primeiros anos da década de sessenta, um
grupo de seminaristas - com o incentivo do seu reitor, P. Miguel Sampaio e o
apoio de D. Florentino - abriu a igreja de S. Lourenço (dos Grilos) aos moradores
do bairro da Sé, um viveiro de gente pobre que lhe ficava à ilharga e criaram
um parque infantil onde as crianças das redondezas brincavam sob o olhar atento
duma “madrinha”. Quanto lhes agradou esta iniciativa juvenil e como a
acompanharam!
A minha admiração foi crescendo à medida que fui
conhecendo como se entregavam de alma-e-coração a ajudar e promover as alunas
mais pobres e mais vulneráveis. E faziam-no à custa dos seus parcos recursos
económicos. Doação total… Era o início da Obra de Nossa Senhora das Candeias.
Tudo o que a Igreja fazia para valorizar os mais
necessitados merecia a sua atenção e apreço. Com que entusiasmo acompanharam os
alvores da “Obra Diocesana de Promoção Social”!
Primícias do Vaticano II, estas duas Obras de Igreja
nasceram, bem próximas no tempo e no espírito.
Apraz-me registar o que, no ano passado, escreveu o
presbítero que acompanhou a Obra Diocesana nas suas origens: “A partir de 3 de
novembro de 1964, passei a viver no bairro do Cerco do Porto. Quem me mobilou a
casa foram as senhoras da Obra de Nossa Senhora das Candeias a quem muito
agradeço pelo seu testemunho de serviço aos pobres, pela sua simplicidade de
vida e até porque, nos meus primeiros tempos em que vivia sozinho, era a uma
das suas casas que ia almoçar, gratuitamente. A pobreza evangélica foi a marca
que deixaram na minha casa. Ainda em finais de 1972, D. António se admirou com
as estantes de tijolos em que guardava meus livros”
Termino com o apelo que D. João Miranda deixou no
final da sua homilia: “Dona Carolina acendeu uma CANDEIA. Não seja ela
apagada”.
(2/10/2018)
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