SAUDADE - CAMINHO DO CORÇÃO PARA DEUS
Este título, com ressonâncias do “Itinerarium Mentis
in Deum” de S. Boaventura, foi enviado por Torres Queiruga ao VI Colóquio Luso-Galaico
(cf. VP, 30/5/2018). Nele, assume a “ideia geral da Saudade, feita
simultaneamente de presença e ausência, lembrança ao mesmo tempo triste e
alegre, seja como recordação, antecipação ou presença não reconhecida”
Nesta ascensão para Deus, o filósofo-teólogo
demora-se em quatro patamares de contemplação:
1º- Em «Os salmos ou a saudade de Deus, fonte e meta
das saudades humanas», diz: “Descoberto Deus como origem absoluta, abre-se um
horizonte sem limites e um caminho difícil e acidentado, porém apoiado numa
fidelidade que não falha. Toda a ausência concreta está alimentada pela
promessa da plenitude inscrita no coração da criatura. Toda a saudade humana
leva a marca indelével da saudade de Deus”. Reflete sobre os salmos 41/42, 2-3;
136/137, 5-6; e muito especialmente 136/137 – «Os rios de babilónia».
2º- Prossegue com «Santo
Agostinho ou o esforço da reflexão no assombro do sentimento”. Analisa a
afirmação agostiniana «Senhor, fizeste-nos para ti e nosso coração está saudoso
enquento não descansar em ti», para concluir: “A intuição do génio logrou
sintetizar numa breve frase, a essência mesma da dinâmica da saudade. Tanto a
origem insondável como a meta ansiada recebem nome expresso e reconhecido”.
3º- Em «São João da Cruz ou a ausência na presença»,
afirma que, nele, “toda a realidade se faz transparência da presença amada.
Porém não se anula a ausência, senão que aumenta a saudade clamando pela
incompletude da presença”. E acrescenta: “A tensão resolve-se pela força da
presença que, após a passagem pela «noite escura», nimba de gozosa esperança
toda a sua poesia”.
4º- E termina com «Rosalía de Castro ou a presença
na ausência». Esclarece que, nela, os muitos rostos
da saudade culminam na Saudade com maiúscula – o encontro com a totalidade do
ser e com o sentido último da existência. Embrenha-se na análise do poema
“Campanas de Bastabales” de que traduzo os últimos versos - “Vem a noite...,
morre o día. / Os sinos tocam longe / O toque da Ave María. / Eles tocam pra
que reze / Eu não rezo, que os suspiros / Afogando-me parece /Que por mim têm
que rezar.”
E apresenta um paralelismo: “Suas palavras
evocam quase à letra S. Paulo aos Romanos, o cerne inefável da esperança
cristã: «Do mesmo modo, o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza; porque não
sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém. (8,26)». Para concluir:
“Pelo milagre maravilhoso e inesgotável da comunhão humana, dois génios unem-se
para levantar a ponta do mistério que somos e nos habita. E nós mergulhamos no
mistério do homem e na profundidade de Deus”.
Como
é bom que os teólogos sejam mestres em filosofia e ouçam o coração…
(26/9/2018)
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