O Tanoeiro da Ribeira

domingo, agosto 08, 2021

ALEGRIA DOS AVÓS

No dia 15 de maio, ‘Dia Internacional da Família’, recebi do P. Justino, pároco de Vila Nova de Paiva, a mensagem: “Que Deus abençoe e proteja as nossas famílias”. Em resposta, escrevi-lhe: “Acabo de chegar da celebração que se realizou na igreja de S. Nicolau, no Porto, onde nossos netos mais velhos frequentam a catequese. Estivemos todos, incluindo as mais pequeninas, com apenas dois anos”. No final dessa celebração, animada pelo carinho das catequistas e pela doçura das crianças, o pároco, P. Jardim, convidou toda a assembleia a recitar em coro a ‘Oração do Papa Francisco à Sagrada Família’, previamente distribuída: “Sagrada Família de Nazaré, faz renascer em nós a estima pelo silêncio, torna as nossas famílias cenáculo de oração e transforma-as em pequenas Igrejas domésticas, renova o desejo de santidade, sustenta o nobre cansaço do trabalho, da educação, da escuta, da recíproca compreensão e perdão. Cada família seja morada acolhedora de bondade e de paz para as crianças e os idosos…”. Sim, quando os anos já se alongam, é uma alegria poder participar nestas celebrações e sentir, em nosso redor, o calor dos netos que trilham caminhos que nossos pais nos ensinaram e nós procurámos transmitir aos nossos. A comunidade paroquial, que tão bem nos acolhe, sabe valorizar e aproveitar os momentos mais significativos do ano litúrgico para provocar estes encontros de família. Merece o nosso louvor e a nossa gratidão. A minha oração de ação de graças fez-se emoção quando a Eva, que estava sentada junto dos pais, veio ter connosco, trepou para o meu colo e, com a carita encostada à minha, sussurrou-me ao ouvido: “Avô, és bonito. Eu tinha muitas saudades a tu”. Também a Luz, menos extrovertida, subiu para o nosso banco e encostou a cabecita ao braço da avó, sem palavras mas com um sorriso que nos encheu a alma. Esta pandemia, que a todos oprime, dificulta os contactos. Todos sentimos essa falta. E as mais novinhas de um modo muito especial porque não compreendem o afastamento dos avós. No dia 14 de julho – Dia Nacional da França – a RTP2 transmitiu o último episódio da série “De Gaulle – Prestígio e Intimidade”. Surpreendeu-me a cena derradeira. Passa-se num enorme descampado de largos horizontes. Vê-se o velho General, que marcou a história da França e da Europa, de costas. Está só, de pé, imponente como sempre, mas acabrunhado. De repente, uma menina quebra a pacatez do cenário, corre até ele e abraça as pernas do seu avô. De Gaulle, o grande homem da guerra e da política, vira-se, sorri-lhe, afaga-a na cabeça, toma a mão da neta e levanta a cabeça, olha em frente, fixa as lonjuras. Ficou-me a emoção dessa imagem bela e impressiva. Tudo isto me veio à mente no ‘Dia dos Avós’ e recordei o texto de Tolentino Mendonça que, há tempos, me enviou um amigo a quem o nascimento do neto transfigurou a vida e, mesmo, o seu modo de estar e conviver. ”Desde que o Tiago nasceu, parece outro”, comentam os amigos. Como é bela esta força da vida que nos renova o ser e a esperança! - “Os avós são mestres de uma arte esplêndida e rara: a arte de ser. Os avós sabem tornar um mero encontro quotidiano numa apetitosa celebração. Sabem olhar e olhar-nos sem pressas, vendo-nos esperançosamente mais adiante.” Para os avós, os netos são rebuçados que adoçam as amarguras da idade e alimentam a esperança num novo amanhã. (28/7/2021)