O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, novembro 29, 2022

NA CASA DA MÚSICA

Há já uns anitos que nossos netos nos vêm oferecendo, como prenda de Natal, a assinatura duma série de concertos na Casa da Música. O deste ano chama-se “Sinfónica Série Descobertas 2022” com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, e o último foi em 17 de novembro com: ‘Anticipations (2019), em estreia mundial, encomenda da Casa da Música, com a presença do seu compositor, Philippe Manoury; Sinfonia Fantásctica (1830), obra-prima de Hector Berlioz, com apenas 27 anos. Um concerto magnífico até pelo contraste das composições. Foi uma bela iniciativa dos pais que a todos aproveita: às crianças, que bem cedo entram no universo da Casa da Música; a eles, que já não têm de cuidar da prenda a oferecer; a nós, porque nos eleva o espírito e cria rotinas benfazejas. Ao aproximar-se o Natal, deixo-vos esta sugestão que poderá fazer crescer a presença de portugueses na Casa da Música, uma oferta cultural que os turistas bem aproveitam, como comprovo sempre que assisto a um concerto. Hoje, porém, quero falar do concerto “Ventos Americanos” que não pertence a essa ‘assinatura anual’. Aconteceu no dia 13 de novembro e foi organizado pela Banda Sinfónica Portuguesa que, nascida e com sede no Porto, adquiriu grande prestígio internacional bem expresso nos vários prémios com que foi agraciada como o 1ºPrémio no 60º aniversário do World Music Contest, na Holanda, em 2011. Ao receber a ‘folha da sala’, agradou-me verificar que dos 58 instrumentistas (Flauta, 3; Oboé, 3; Fagote, 2; Clarinete, 14; Saxofone, 7; Trompa, 5; Trompete, 6; Trombone, 4; Eufónio, 2; Tuba, 2; Percussão, 7; Contrabaixo, 1; Harpa, 1; Piano, 1) só um não tinha nome português. Esta valorização veio confirmar a crescente presença de músicos nacionais que, ao longo dos anos, tenho verificado na Orquestra Sinfónica. Estão de parabéns os jovens artistas, as escolas que os formam e as instituições que sabem exponenciar os seus talentos. Com elevado profissionalismo e exímia qualidade, presentearam-nos com três composições de música contemporânea. Na primeira -’Cloudburst (1995) - de Eric Whitacre, surpreendeu-me o contraste entre os momentos fortes, acentuados pela percussão, e os tempos de introspeção de que realço um solo da flauta. Surpreendente foi também o final em que os músicos, silenciados os instrumentos, se uniram num ‘estalar de dedos’ que se foi esvanecendo… A segunda – ‘Reflets - Concerto para saxofone alto e banda’ (2014) – teve a particularidade de o solista de saxofone ser o próprio compositor, Vincent David. Encantou-nos com o virtuosismo e a vivacidade da sua interpretação que atingiu o clímax no ‘encore’ final em que, por seu convite, a assembleia, num murmúrio de boca fechada, acompanhou a melodia e marcou o ritmo. Na terceira – ‘Sinfonia nº 3, Urban Landscapes (2020) – Franco Cesarini é uma metáfora da cidade de Chicago. O primeiro andamento começa de modo suave, é ‘a cidade de madrugada’. Segue-se um momento mais enérgico que representa o acordar e culmina com o sol do meio-dia. O segundo representa a noite e abre com a melancolia dum solo do corne inglês. No terceiro, como num jogo de espelhos, entrechocam-se os temas anteriores, No final do concerto, o maestro colombiano que dirigiu o concerto, José Rafael Vilaplana, emocionou a assistência ao dizer: “Os meus vizinhos pedem para que eu, quando estiver no estrangeiro, diga que a Colômbia não é apenas coca e narcotraficantes. A Colômbia é arte e cultura. A Colômbia é mensageira de paz”. O concerto, que honra a Banda Sinfónica que o tocou e a Casa da Música que o acolheu, terminou, com toda a gente de pé, numa ovação longa e emocionada. Ao enfatizar a qualidade artística desta banda sinfónica, quero homenagear as muitas ‘bandas’que enriquecem a cultura de vilas e aldeias da nossa terra e dão brilho às nossas festas e romarias. Quantas memórias de infância, especialmente ligadas à ‘Festa do Menino’, eu tenho da Banda Musical de S. Martinho (Campo, Valongo) e do seu regente, Mestre António Teixeira. A minha homenagem. (30/11/2022)

terça-feira, novembro 22, 2022

NÃO DEIXES DESFAZER 0 SONHO

Onze anos são passados sobre a sua morte (29/10/2011) e ainda me parece estar a vê-lo entrar na ‘nossa’ livraria. Não esquecerei a afabilidade do seu sorriso nem a fidalguia do seu porte… Há dias, recebi um email que dizia: “João, ao mexer na ‘velha papelada’, saltaram-me estes três pequenos poemas oferecidos pelo P. Mário Salgueirinho”. Esta evocação fez-me recordar o mestre a quem a Voz Portucalense muito deve. Quem não se lembra do colorido luminoso do seu ‘Vitral’? O meu amigo Joaquim Barbosa, autor do email, é originário duma família, que vivia bem perto do santuário do Bom Jesus de Barrosas, que muito apoiou o P. Salgueirinho nos seus tempos de estudante. Foi aí que, bem cedo, se lhe tornou familiar. Nessa casa, ainda menino, conheceu também D. Manuel Martins que, pouco tempo antes do seu falecimento, lhe manifestou a sua gratidão pelo modo como era acolhido quando acompanhava o seu amigo e condiscípulo. O P. Salgueirinho nunca deixou de cultivar os laços afetivos que lhe vinham desse tempo e nunca foi esquecido por aqueles que muito lhe queriam. Foi no seio desta família que conheci o sacerdote que, já anteriormente, admirava e acompanhava na “oração da manhã” transmitida pela Rádio Renascença. Emocionei-me ao receber estas lembranças que, agora, partilho convosco. São poemas de que ele tinha particular estima e que, certamente, muitos conhecem. Ao recordá-los, poderá aflorar aos olhos uma furtiva lágrima de saudade. I - SOFRIMENTO “Sofres? Que é afinal a tua dor / diante do sofrer do inocente? / Da criança que nasce no mar das lágrimas / sem saúde, sem pão, sem afeto, / morrendo lentamente… Sofres? Que é afinal a tua doença / diante da tortura viva do incurável? / Já sem esperança no saber dos homens, cada minuto longo que passa / é suplício permanente e implacável. Sofres? Que é afinal teu sofrimento? / -Teus desgostos, tuas angústias, / diante da desdita de tanta gente / sem alegria, sem carinho, / porque o sol do amor / jamais aqueceu o seu caminho… Sofres? Afinal, a cruz das tuas dores / cabe na sombra esbatida / da cruz de tantos outros sofredores…” II - SOLIDÃO “Sentes um vazio amargo / que te gela a vida, noite de dia, / Ninguém se lembra…/ Ninguém fala, ninguém escreve / ninguém dá uma presença breve / ninguém abre o coração / para aquecer essa solidão… Sentes um vazio amargo. / Tens gente mas não tens amor / - gente que não sintoniza, / não partilha, não sorri / não acarinha, não sente… Derrete o gelo da tua solidão! / Estende o pensamento, chispa luz / a quantos se arrastam tristemente / num mundo de sofrimento como os teus. / Mergulha o olhar nas tuas trevas / e encontrarás o sorriso perene de Deus.” III - NÃO TERÁ ENCANTO A VIDA… “Não deixes desfazer o sonho / Que te faz correr, / Que te faz sorrir, / Que te faz sofrer! Não deixes morrer o entusiasmo / Que te faz criar, / Que te faz lutar, / Que te faz vencer! Não deixes arrefecer o amor / Que te despertou, / Que te inquietou, / Que te apaixonou! Com sonhos desfeitos, / Com esperança perdida, / Sem entusiasmo e sem amor, / Não terá encanto a vida…” Que estes poemas reavivem em nós a lembrança dum sacerdote que sabia estar presente nas horas mais significativas da nossa vida, Jamais esquecerei as palavras de conforto e esperança que escreveu e me enviou, em janeiro de 2010, aquando do falecimento no nosso filho mais novo e o carinho com que, no início de 2011, acariciou a cabecita do nosso neto mais velho que acabava de nascer. Deixo-vos um dos últimos ditos sapienciais que lhe ouvi: “Ao envelhecer, crescem em nós três defeitos de que nos devemos acautelar: vaidade - achamos que fomos os maiores-; avareza - agarramo-nos ao dinheiro como tábua de consolação; desconfiança - pensamos que todos nos querem enganar”. “Não deixes desfazer o sonho…” Que a sua voz e os seus poemas não deixem de ecoar no âmago da nossa vida. (23/11/2022)

quarta-feira, novembro 16, 2022

A TEÓLOGA MAIS IMPORTANTE...

Em homenagem ao professor e humanista, laureado, em 2009, com o ‘Prémio de Cultura Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes’, a quem o Presidente da Assembleia da República invocou como “Mestre de várias gerações” (JN, 24/10), apraz-me relevar o texto “A teóloga mais importante da minha vida foi a minha mãe”, (7Margens, 23/10). Nele, o jornalista António Marujo afirma: “Inspirado pelo pensamento social católico, admirador de personalidades como o padre, teólogo, filósofo e paleontólogo jesuíta Teilhard de Chardin, o líder da Democracia Cristã italiana Alcide de Gasperi ou o bispo português da Beira (Moçambique), Sebastião Soares de Resende, Adriano Moreira foi o político português que mais se assumiu como da corrente democrata-cristã”. O artigo oferece-nos, em anexo, a entrevista publicada na revista Fátima XXI, em maio de 2014, de que, com vénia, respiguei algumas falas. Merece ser lida na sua versão integral. António Marujo - “O que é para si, hoje, ter fé? Adriano Moreira - “A teóloga mais importante da minha vida foi a minha mãe. (…) Toda a minha educação religiosa foi feita pela minha mãe e a definição que ela me deu de Deus é que Deus é companheiro. Esta é uma definição que eu nunca esqueço e me acompanhou para sempre.” Para logo acrescentar: - “Deus é uma referência que está sempre presente, sobretudo quando se trata de assumir responsabilidades, tomar decisões que afectam o outro: uma sociedade mais justa, momentos difíceis da vida”. A uma pergunta sobre o mundo atual, respondeu: – “A sociedade do bem-estar, de esperança, de dignidade humana respeitada está extremamente deteriorada e essa deterioração teve e tem expressão na degradação da escala de valores. Para mim, este exemplo chega. O valor das coisas foi substituído pelo preço das coisas. E os valores fundamentais foram subvertidos pelos valores instrumentais. A eficácia, que tem a sua melhor expressão no lucro, é valor superior a qualquer dos valores fundamentais”. P. – Quando falamos de crise de valores, de que crise falamos? R. – Esquecemo-nos que é preciso colocar o respeito no lugar da tolerância. Há valores fundamentais sobre os quais não pode haver tolerância. Naturalmente, isso acontece em todas as áreas culturais. (…) A busca do paradigma comum é fundamental, mas ela torna-se mais difícil quando a pertença às igrejas institucionalizadas está a ser diminuída. (…) As estatísticas dizem agora que a filiação a uma Igreja institucionalizada, sobretudo na Europa e no Ocidente, em geral, está a diminuir e a diminuir severamente.” P. – Mas as pessoas não se desligam de Deus… R. – “O apelo à transcendência está, todavia, a aumentar e isso é que dá origem a estas redes de organizações com as quais se preocupam as autoridades espirituais e políticas. (…) Para mim, um valor comum é este: cada homem é um fenómeno que não se repete na história da humanidade. (…) É inegociável e irrenunciável.” P. – O afastamento das pessoas em relação ao religioso instituído, em contraste com o crescimento da busca da espiritualidade, do apelo à transcendência, não se relaciona também com a crise das instituições religiosas? R. – “Tomando o exemplo do cristianismo, há sempre três perspectivas a considerar. Uma é a da fé – o Cristo da fé; outra é o Cristo da história – em relação ao qual aparecem muitas vezes divergências de opinião, como é natural; a outra é a crise da própria Igreja, como agora está a acontecer. Neste momento, é esta instituição religiosa que está a ser objecto de ataques e feridas reais que todos conhecem e isso deve ser enfrentado.” Esta resposta, dada há mais oito anos, reveste-se da maior pertinência nos dias que passam, como escreveu D. François Bustillo: “Quantas dores, quantas faltas, quantos tsunamis, por causa dos costumes! Não é fácil aceitar escândalos tão graves que desfiguram o rosto da Igreja. Vivemos como numa Sexta-Feira Santa em que somos estigmatizados e condenados. A violência dos clamores: ‘crucificai-O, crucificai-O! ‘da multidão de ontem é semelhante aos gritos da multidão mediática de hoje. O gemido é discreto mas doloroso” (A vocação do padre perante as crises, pág. 14)). (16/11/2022)

quarta-feira, novembro 09, 2022

MÚSICA GREGORIANA NA CAPELA DE FRADELOS

O canto gregoriano, com raízes pré-cristãs na salmodia das sinagogas judaicas e influências da música mediterrânica, foi reorganizado, no final do século VI, por S. Gregório Magno que lhe deu estatuto de canto oficial da Igreja. Daí o nome deste canto que inspirou a música erudita e popular europeias e está na matriz dos cantares tradicionais portugueses por influência dos mosteiros que povoavam as nossas terras. Em 1995, por inspiração do Cónego Ferreira dos Santos, um grupo de antigos alunos dos seminários do Porto, liderado por Belarmino Soares, então maestro do Coro de S. Tarcísio, decidiu criar o Coro Gregoriano do Porto para homenagear o seu professor P. Luís Rodrigues e preservar um património cultural que se ia perdendo. A qualidade do seu trabalho fê-lo, rapidamente, ultrapassar as soleiras da igreja da Lapa onde deu os primeiros passos com o motete ‘Rorate’ no primeiro domingo do Advento. Por solicitação das mais variadas instituições de índole cultural, científica e religiosa - autarquias, universidades, museus, irmandades, paróquias e outras - as suas vozes encheram catedrais e mosteiros, igrejas e capelas, auditórios e salas de espetáculos, desde o rio Minho até ao Baixo Alentejo. E chegaram à ‘Sala do Senado’ na Assembleia da República a pedido do seu presidente, Dr. Jaime Gama. No ‘Ano Xacobeo’ de 2010, por convite do Deão da Catedral de Santiago de Compostela, Cónego José Maria Diaz, solenizou a ‘Misa do Peregrino’ do dia 11 de dezembro, presidida pelo Cardeal D. Carlos Valejo, bispo emérito de Sevilha. No dia 9 de maio de 2012, cantou em Roma, na Praça de S. Pedro, durante a ‘Audiência Geral ‘do Papa Bento XVI que, posteriormente, lhe agradeceu e abençoou os seus componentes, em carta enviada pela Nunciatura Apostólica. Para salvaguardar o seu tesouro e despertar os grupos litúrgicos para a espiritualidade da música gregoriana, gravou quatro discos, de mil CD’s cada, o primeiro dos quais se encontra esgotado. Porém, a sua vocação primeira foi o serviço à liturgia dominical. Com o Coro de São Tarcísio, começou por cantar a Missa do meio-dia na igreja da Lapa onde permaneceu vários anos. No início deste século, a pedido do P. Moreira, reitor da igreja da Trindade, passou a fazer-se ouvir, no último domingo de cada mês, na Missa das 18 horas, celebrada pelo Cónego Rui Osório. E fê-lo sempre com muito gosto e cuidado, até que a pandemia veio interromper a sua participação. Os anos passaram… Com o tempo, o espírito vai-se aprimorando mas a voz vai definhando… Com o falecimento de quatro dos seus cantores e os imprevistos da idade, já não pode assegurar um volume de voz adequado à grandeza desse templo. E assim, com uma palavra de gratidão ao seu reitor, Cónego José Fabião, viu-se na necessidade pôr fim a uma colaboração de muitos anos numa igreja onde sempre foi bem acolhido. Dado que o sentido de serviço se mantém, o coro passará a cantar a missa do 3º domingo de cada mês, na capela de Fradelos, onde, por deferência do Cónego Álvaro Mancilha, já tem vindo a ensaiar. Esta capela, dedicada a Nossa Senhora da Boa Hora e situada no cruzamento das ruas Guedes de Azevedo e Sá da Bandeira, passa despercebida face à volumetria do Siloauto que a ‘esmaga’. É o único vestígio da toponímia antiga e teve origem na ‘Fonte de Fradelos’ junto do ribeiro homónimo, que, no frontispício, ostentava a imagem de Nossa Senhora da Boa Hora, ainda hoje, a sua padroeira. De exterior simples, o seu interior faz dela uma joia escondida da azulejaria portuguesa. As paredes da nave e as laterais da capela-mor estão recobertas por painéis da autoria de Jorge Colaço, o mesmo autor dos azulejos do átrio da estação de S. Bento. E retratam a vida de Santa Teresa de Lisieux, com base na “História de uma Alma’ que ela própria escreveu. Será já no próximo dia 20 - ‘Domingo de Cristo Rei’ – na missa das 11h30, que a espiritualidade do canto gregoriano irá sintonizar com a simbologia dos painéis que têm como fio condutor a ‘rosa de Santa Teresinha’. (9/11/2022)

quarta-feira, novembro 02, 2022

RESSONÂNCIAS...

Uma confidência… Gosto de ler os meus textos depois de publicados. E porquê? Porque a escrita é um ato solitário, já a leitura é um ato solidário. Quando escrevo, faço-o na solidão do escritório e no silêncio dos sentidos. O texto é um produto individual. Ao ser publicado, deixa de o ser e faz-se coletivo. O que era apenas meu, passa a ser de todos os seus leitores que o recriam de acordo com a sua subjetividade. Ao lê-lo na VP, sou um igual, sinto-me em comunhão com quem comigo partilha dessa leitura. A sensação de pertença avoluma-se quando me chegam mensagens que ampliam o seu conteúdo. No ‘Dia dos Fiéis Defuntos’, quero partilhar convosco três dessas ressonâncias que agradeço. Chegaram-me em tempos diferentes, mas todas falam de ‘fiéis’ que já partiram para a ‘Casa do Pai’. Bem merecem a nossa memória e as nossas orações. A primeira faz-se eco do texto sobre o Dr. Albino Aroso: ‘Eram tempos novos e controversos’. “Foi nesse tempo que conheci o Dr. Albino Aroso. Recordo-o como homem bem-apessoado, porte distinto com a simpatia e o sorriso estampado no rosto. Afável, acolhedor, soube interpretar a mulher, a sua saúde, como ninguém. Ao divulgar o uso da pílula contraceptiva deu-lhe tranquilidade e segurança; pela formação de equipa multidisciplinar na sua consulta, em que incluiu o Psiquiatra, o Psicólogo, possibilitou a abordagem global da sua saúde. Foi também uma forma de divulgar e ensinar métodos pouco conhecidos entre nós que muito a valorizou. Até aí, o casal pouquíssimos recursos tinha para gerir responsavelmente a dimensão da sua família. Saber, simpatia, rectidão são atributos que lhe couberam. É justo que se recorde e homenageie um Homem que, quer como médico, quer como professor e palestrante, tanto fez pelo bem-estar da Mulher. Bem-haja, Dr. Albino (Maria Margarida C. Silva, antiga docente da Escola Superior de Enfermagem Ana Guedes,)”. A segunda refere-se ao P. José Maria Cabral Ferreira: ‘Contemplativo na ação’. “O nosso Conselheiro Espiritual, Padre Zé Maria, ocupava um lugar discreto, frequentemente silencioso, atento e reverente, no nosso meio. Com uma palavra, às vezes, ‘A Palavra’ decisiva, porque apoiada e assente na Mensagem Evangélica. Humanamente falando, ele representava uma mais-valia para todos os casais pois dava-nos a sua experiência, a sua idoneidade, a sua mundividência que é uma espécie de alavanca para fazer mexer o mundo, ou os nossos mundos pessoais e relacionais, tantas vezes atormentados e confusos no meio da espuma destes dias cinzentos. E aí estava o seu conselho sábio, avisado, prudente e razoável a restituir-nos essa parte de nós que estava escondida, adormecida, oculta e que de imediato se torna semente a germinar, solução a ponderar, hipótese a confirmar, presença a discernir (Manuela e José Melo, das Equipas de Nossa Senhora)”. A terceira fala de D. Sebastião Leite de Vasconcelos: “Em honra de S. José” “A propósito do teu artigo na VP, confirmo que, efetivamente, o Bispo fundador das Oficinas de São José jaz sepultado no talhão privativo da Santa Casa da Misericórdia do Porto, no Cemitério do Prado do Repouso, em jazigo de pedra, muito bonito mas a precisar de obras de restauro. No ano passado, o Bispo de Beja quis trasladar para a Diocese os restos mortais do seu Bispo. A SCMP mostrou-se aberta e cooperante, mas um familiar, creio que remoto, mostrou-se contrário. Julgo que se muniu de um parecer de um advogado ou, pelo menos, ameaçou contestar em tribunal o direito de trasladação. Perante isso, o Bispo de Beja e o Vigário Geral desistiram do intento. (Francisco Ribeiro da Silva, Mesário do Culto e da Cultura da Santa Casa da Misericórdia do Porto)”. Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua. Descansem em paz. Ámen (2/11/2022)