O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, agosto 30, 2017


REZE POR MIM

Conheci-os em tempos e lugares bem distantes… O Padre Cunha foi na década de cinquenta do século passado. Era, então, meu colega de carteira, no Seminário de Vilar o, agora, diácono Freitas Soares que me pediu uma letra para uma festa da Ação Católica na sua terra. E ainda hoje, passados 60 anos, sempre que me encontro com a Rosinha, uma das meninas que a cantou, gostamos de cantarolar: “Desci ao jardim um dia / Estava tudo perfumado. / Colhi uma flor à sorte / Colhi-te a ti, Tabuado”. Foi nessa ocasião que me encontrei com o seu pároco, um sacerdote, na flor da vida, cheio de dinamismo e entusiasmo pastoral, que tratava os paroquianos pelo seu próprio nome. Passados uns anos, voltei à sua igreja românica, com a Schola Cantorum do Seminário, para cantar uma Missa de Festa. E assim nasceu uma admiração que os anos solidificaram.

Ao Néné conheci-o uns trinta anos mais tarde, na Associação Nun’Álvares de Campanhã, no Porto, quando, a pedido do pároco de então, Cónego Amadeu, orientava a catequese dos jovens mais velhos. Ele era, então, um rapaz, dinâmico e com forte sentido de liderança, já com responsabilidades de chefia no 9º Agrupamento do CNE, em Campanhã. A vida conduziu-nos por caminhos diferentes e perdi-lhe o rasto.

O que me terá levado a juntar nesta evocação duas pessoas que conheci em circunstâncias tão diversas? Foi mais um dos gestos proféticos com que o Papa Francisco nos surpreende. Quem no-lo revelou foi D. António na homilia do “Dia Voz Portucalense”, no Monte da Virgem. Contou que era grande a vontade do P. Cunha, o antigo pároco de Tabuado e agora o mais idoso sacerdote português, de se encontrar com o Santo Padre, em Fátima. O que veio a acontecer na manhã do dia treze de maio passado. O Papa Francisco, depois de lhe afagar a cabeça, acolheu-o num prolongado abraço. E, após uma conversa, tão fraterna quão carinhosa, emocionado, beijou-lhe as mãos e pediu: “Reze por mim todos os dias”. E se isto não fosse já bastante, mais surpreendidos ficaram os presentes quando o Santo Padre se virou para o senhor Artur Reis que acompanhou o P. Cunha na viagem a Fátima, como seu cuidador na Casa Sacerdotal, e disse: “Beijo estas mãos que cuidam dos meus padres. Muito obrigado.”

E qual não foi o meu espanto quando o Cónego Fernando Milheiro, meu pároco, me informou que este senhor Artur era, nem mais nem menos, o Nené que eu conhecera na sua juventude. Quão insondáveis, os caminhos de Deus!

Que magnífica lição de humildade e gratidão nos deu o nosso querido Papa! Que bondade e pureza de coração! Que grandeza de alma!

Sejamos capazes de seguir o seu exemplo, com obras e em verdade, e então a Igreja será, como Cristo quer, Povo de Deus, Luz do Mundo, Mãe e Mestra em Humanidade.

(30/8/2017)