ABUSO DO PODER
“O Estado atual é especialista em inverter a ordem
das coisas: ele, que é subsidiário da sociedade, está a fazer desta a auxiliar
– tolerada, para já – dos seus tentáculos.” (VP, 28/11/2018)
O Estado goza do poder soberano. Não recebe ordens
de nenhum poder externo e, a nível interno, está acima das instituições que
enquadra no seu ordenamento jurídico. Mas se a soberania implica o respeito
pelos outros Estados, também exige que suas leis respeitem a identidade e o
carisma das instituições. Quando os Órgãos de Soberania e seus funcionários se
julgam senhores absolutos, o poder, embora democrático na origem, torna-se
totalitário no exercício. Daí, o abuso do poder. Um exemplo…
No dia em que foi publicada a denúncia que abre esta
crónica, ouvi o relato angustiado dum amigo, de Santa Maria de Avioso. Dizia:
“ A minha irmã, de 58 anos de idade, padece, desde
há longos anos, de perturbações mentais que não justificam internamento
psiquiátrico. Porém, dada a dificuldade em conviver de forma conveniente,
tornou-se necessário integrá-la em atividades ocupacionais adaptadas, o que foi
tentado ao longo de muitos anos sem que, nos vários estabelecimentos que
frequentou, obtivesse uma estabilidade satisfatória. Há cerca de nove anos,
passou a viver na instituição de Beire ao tempo ainda sob a responsabilidade do
Padre Baptista. As suas melhoras foram evidentes. A integração fez-se de modo
tão satisfatório que, a partir de certa altura, participava mesmo nos trabalhos
habitualmente desempenhados pelo pessoal da instituição. Não era, de forma
alguma, uma imposição, mas, com compreensão e ajuda, tornou-se uma atividade
natural.
No dia 5 de novembro, fui com ela almoçar a Penafiel
e o seu comportamento revelou-se como estando a passar por uma das suas
melhores fases.
Dois dias depois, sem qualquer aviso, foi retirada
da casa do Calvário por imposição da Segurança Social. No dia seguinte, 8 de
novembro, desloquei-me a Beire onde soube da transferência dos utentes, com
manifesta falta dos mais elementares cuidados, devidos a pessoas doentes, e o
seu “depósito” noutras instituições desconhecidas de quem as tinha a seu
cuidado e dos seus familiares.
Com outras pessoas, desloquei-me à GNR de Paredes
que nos aconselhou a contactar os Serviços de Segurança Social, no Porto, aonde
fomos, no dia seguinte. Só então consegui saber que minha irmã se encontrava
num Lar de Idosos, bem longe do Calvário.
Quando, no dia 12 de novembro, a fui visitar,
encontrei-a num estado deprimente. Sentada, a chorar, pedia para sair dali. Não
sei o que fazer.”
Razão tinha o presidente da CNIS ao dizer: “Há um
desrespeito muito grande por parte de quem fiscaliza. Não somos contra a
fiscalização. Mas chegam lá, com uma grelha. A satisfação dos utentes não
conta. Andam à procura de criminosos. Veem os dirigentes como criminosos” (JN,
4/12/2018).
(12/12/2018)
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