O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, maio 04, 2016

UMA FONTE PARA DOIS RIOS




O Boletim D. António Barroso, no seu último número, lembrou as palavras que D. António Barroso apresentou no primeiro encontro da “Associação dos Médicos Católicos”. A revista Vida Católica publicou-o, em 1915, com a seguinte justificação: “Notabilíssimo discurso proferido por DOM ANTÓNIO BARROSO, Bispo do Porto, na inauguração do I Congresso dos Médicos Católicos. A atualidade candente do assunto, a forma conceituosamente elevada como o benemérito Prelado versa tão melindroso problema, numa síntese extremamente luminosa, são, por de sobejo, motivo a acreditarmos que fazemos obra grata aos nossos leitores, encastoando na Vida Católica a joia literária que é a brilhante oração de S. Ex.ª Rev.ma”.

Nesse discurso, D. António começa por afirmar: “É com o mais vivo júbilo que saúdo os ilustres e dedicados médicos, hoje aqui reunidos em Congresso, em nome dos salutares princípios católicos. O médico é um admirável benfeitor da humanidade, e no exercício da sua nobre e difícil profissão, encontra-se não raro ao lado do padre, chamado pela voz imperiosa do dever à cabeceira do enfermo, para aureolar a alma com a luz bendita da graça e lhe incutir coragem e resignação nas aperturas do sofrimento.”

De seguida, descreve, com fino recorte literário, várias das manifestações que mostram o valor e a beleza da vida: “Estremece na fibra da erva e no roble das florestas; palpita no inseto que rasteja no prado e na águia que corta triunfantemente os ares; no peixe que cruza o oceano e na fera que ruge nos bosques; tem ostentações de força no leão e fulgurações surpreendentes no homem.”

E interroga: “Donde vem, pois, a vida, tão admirável no seu movimento íntimo e em todos os seus fenómenos?”

Para responder, começa por enunciar a resposta dos “adversários da crença tradicional” para quem a vida é produto “das forças físicas e químicas”. Em contraponto, recorre às experiências de Pasteur e à afirmação de Virchow no Congresso de Munique dos naturistas alemães, em 1877: “A geração espontânea... não está provada de modo algum... Duvidamos que ela possa ser aceite como patenteando a origem da vida”. E conclui que “para explicar satisfatoriamente a vida é preciso recorrer a Deus”. Em jeito de síntese, afirma: “Razão e Fé são dois raios que partem do mesmo foco, dois rios que correm da mesma fonte; esse foco, essa fonte é Deus, Deus scientiarum Dominus est”

E termina: “É em nome de Deus – Senhor de toda a luz e centro de toda a verdade – que eu declaro aberto este prestigioso congresso dos médicos católicos do meu país”.

A “Associação dos Médicos Católicos” honra-se do seu ilustre patrono. Nós também e, no “Dia da Voz Portucalense”, na igreja de Santo Ildefonso, vamos rezar pela declaração oficial da sua santidade.


(4-5-2016)