O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 13, 2016

AS GAIVOTAS...


 

Há dias, passeávamos numa praia do norte quando um bando de gaivotas brancas coreografava, no azul do céu, um bailado de sonho ao ritmo das ondas e ao som do mar. Que delícia!... E apeteceu-me cantar: “Uma gaivota voava, asas de vento coração de mar”. Estávamos maravilhados quando minha esposa deu um grito de susto. Uma gaivota tinha deixado cair sobre ela um grande mexilhão que acabara de apanhar nos rochedos. Ainda bem que não foi outra coisa… Como são bonitas as gaivotas quando não estão sobre a nossa cabeça! Até dão para fazer poesia e cantar… Mas quando pousam sobre as nossas casas, sujam os nossos carros ou esvoaçam sobre nós, as coisas mudam de figura. E ficamos a pensar em muitos outros comportamentos. Veio-me à mente aquela senhora que é tão amiga dos gatos da rua que todos os dias lhes vai levar comida. Mas bem longe da porta dela… Em sua casa não quer nenhum. E daquele senhor que não tinha carro nem garagem, mas, como era muito amigo das pombas e gaivotas, todos os dias lançava restos de comida sobre as garagens dos vizinhos que bem protestavam porque não podiam estacionar os carros na rua, nem estender roupa nos pátios…. É tão bonito ser amigo esporádico e sem compromissos! E aquelas pessoas que são muito simpáticas para a vizinhança mas infernizam a vida de quem com elas vive. Como diz o povo, não faltam “santos, fora; diabos em casa”. Dizia-se antigamente que quando se introduzia a causa de canonização dum sacerdote, a primeira pessoa que o tribunal eclesiástico ouvia era a sua “canónica”(assim se chamava à empregada doméstica dum padre) porque era ela quem melhor o conhecia. Não custa nada ser boa pessoa à distância, o difícil é sê-lo para quem nos atura todos os dias. Não é por acaso que se diz que a caridade bem ordenada começa em casa, por aqueles que nos são mais próximos. Para já não falar dos patrões que até recebem comendas e medalhas de benemerência, mas são parcos nos vencimentos e fartos nas exigências para com seus trabalhadores…. E daqueles que se arvoram em defensores dos operários mas tratam com sobranceria e abusam de quem de si depende. E pensei naqueles que se associam a grandes campanhas na internet, mas, no dia-a-dia, nada fazem pelos outros. E daqueles que clamam contra a corrupção dos poderosos sem-vergonha, e muito bem, mas, quando precisam, não deixam de recorrer à velha “cunha”…Nas Eucaristias, há quem, ao Ofertório, cante a plenos pulmões Fora eu rico, Senhor, e muito Vos daria”, mas quando o cesto passa…. E aquele homem que se dizia apaixonado pela humanidade mas não tinha paciência para ninguém em concreto, que referiu D. Manuel Clemente na conferência “Virtualidades do Associativismo Local” em Matosinhos (11 de março). Abstrações…Palavras…

Como são bonitas as gaivotas à distância!…

( 13-4-2016)