O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 09, 2016

DE PEQUENINO...


 

 Pitágoras, já lá vão mais de dois mil e quinhentos anos, escrevia: “Educai as crianças e não será preciso castigar os homens”.

Há cerca de cinquenta anos, num tribunal americano, o juiz virou-se para a mãe dum jovem que acabava de condenar e disse-lhe: “Se a senhora tivesse usado um chinelo quando ele era criança, talvez agora não o estivesse aqui a chorar”.

Vem isto a propósito da entrevista (Visão nº 1196) de Javier Urra que acaba de publicar O Pequeno Ditador cresceu, na esteira de O Pequeno Ditador. Confirma o que já dissera Ángel Peralbo, em O Adolescente Indomável: “Há pais que vivem com vergonha, que se sentem mal e fracassados pelo que têm de enfrentar”.

Javier Urra interessou-se pela educação quando “assistiu a um momento que jamais esqueceu: um miúdo empurrou a mãe e deixou-a caída no chão. Acabou a tropeçar nela. A mãe levantou a cabeça e perguntou-lhe: «Magoei-te?». Pensei que aquilo era contra natura. Acabei a descobrir que, nestas circunstâncias, sofre a mãe, sofre o filho, sofre a sociedade, e é um sintoma de que algo vai mal”.

Na entrevista, contrapõe: “Antigamente, ser filho significava agradecer aos pais a vida que lhe tinham dado. Hoje, vemos adolescentes a dizer aos pais, ou pior, à mãe: «Foste tu que me pariste, agora aguenta-me. Eu não te pedi para nascer» ”.

Os graves problemas dos adolescentes “começaram quando tinham 4,5 ou 6 anos. E os pais dizem que não conseguem lidar com eles. E se sentem dificuldades nessas idades, mais tarde então, nem imaginam. Vivem embrulhados em pequenas coisas. «Ai, como lhe digo que não? Ai, como vai ser? E se o traumatizo?» Vivem com demasiados medos”. Não querendo parecer antiquados, “decidem que os filhos podem ter toda a liberdade, ao mesmo tempo que os superprotegem, não lhes impondo limites. Não são capazes de lhes dizer que não, receiam que sintam qualquer frustração, meteram na cabeça que a forma como foram educados já não serve. Se calhar era a melhor”.

Deixa alguns conselhos: “Temos de educar para a autonomia com responsabilidade. Fazê-los ajudar e doar do seu a quem não tem, ensiná-los a ser altruístas. E dar valor ao que têm. O mundo não é como o vemos, o mundo somos nós e os outros todos em volta.Temos de educar as crianças para o otimismo mas também para que sejam resilientes, para que saibam que quando algo corre mal podem sempre dar a volta”.

Em síntese: Nem medos nem complexos de culpa. O que se pede aos pais é coerência, bom senso, capacidade de amar e sancionar com equilíbrio e oportunidade. A criança não pode pagar pelas más disposições dos pais. O castigo deve surgir sempre como um gesto de amor dorido e não de descontrolo emocional. Clareza sem tibiezas nem ziguezagues. Já Jesus dizia “ Seja o vosso falar: Sim, sim; Não, não (Mt, 5,37).

(
9-3-2016)