O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, janeiro 13, 2016

MEMORIAL DE AFETOS


“O homem nobre é apenas um homem que abriu o seu coração à Sabedoria” (Susanna Tamaro)
Lembrei esta afirmação ao ler o livro “Reverendo Padre Remígio Alves de Freitas – Memoriale” (VP, 23/12/2015).
D. Manuel Martins, seu aluno no seminário de Trancoso, testemunha: “O Padre Remígio marcou-nos pela sua simplicidade quase a cheirar a pobreza e desprendimento”. Também D. Armindo, ao falar dele, acrescentava: “Foi meu professor”.
 Se deixou marcas nos oito anos que lecionou no seminário, quão profundas não serão as que o perpetuam em Gemunde onde paroquiou mais de cinquenta...
 A autora, “alguém que o conhece desde menina da Comunhão Solene”, quis “evocar tão importante vulto que, pelo seu carisma, personalidade ímpar de enorme bondade, dedicação e amor, marcou positiva e indelevelmente sucessivas gerações”. Revisitou a sua memória que enriqueceu com documentos, fotografias e testemunhos. 
Nesta sinfonia “colectiva” de gratidão, quatro andamentos me prenderam a atenção. Ouçamos...

* Um Pastor que conhece e “cheira às ovelhas”, como quer o papa Francisco. 

- “Homem de muita sabedoria e de uma humildade enorme, com um conhecimento profundo da vida, com muito afecto pelas crianças e pelos mais desprotegidos, sempre com uma palavra de consolo para dar e sem algum interesse pelos bens materiais”. 
- “Foi um verdadeiro pai, no início austero, exigente e disciplinador e, no fim, um verdadeiro avô, dócil, tolerante, ouvindo e aconselhando com muita ternura e enorme paciência.” 
- “Para que ninguém ficasse sem missa durante a semana, ele adaptava o horário à vida de trabalho”. - “Ao explicar a homilia aos domingo, fazia-o com um enquadramento nas vivências do momento. Para além disso, diferenciava o seu vocabulário em função da população que tinha na sua frente.”
 - “Estava sempre disponível para nos ouvir e aconselhar e fazia-o de forma adequada e precisa porque nos conhecia muito bem”.

* Um Cristão modesto e desprendido. 

- “Não tinha vaidade, era simples e despojado de quase tudo. Nunca senti no nosso padre a vontade de ter algo mais do que o que era estritamente necessário para a sua sobrevivência.“ 
- “A bicicleta foi o seu único meio de transporte pessoal mais evoluído. … Vaidade não constava do seu léxico”.

* Um Homem de grande cultura: 

- “Mas o que mais me espantou foi a sua enorme erudição, aliada à sua extrema simplicidade e clareza. Não tinha pretensões nem fazia alarde do seu saber.”

* Um lema de vida 

- “ Diz na sua lápide onde jaz Faz da tua vida uma caminhada para o Céu. Mais do que homenagens, importa recordá-lo e aprender dele essa lição: Faz da tua vida uma caminhada para o Céu”.

“Figuras como esta não podemos deixar morrer”, escreveu D. Manuel Martins.

Gemunde está de parabéns. A gratidão dá sentido e perfume à vida.


(13/1/2016)