APÓSTOLA DA MISERICÓRDIA
Ao longo da vida, cruzei-me repetidas
vezes com memórias de Sílvia Cardoso.
Nado e criado em Campo,
Valongo, bem cedo ouvi falar da “Casa dos Retiros da Granja” e de
D. Sílvia que “era uma santa”.
Na década de cinquenta,
encontrei-a no livro “O anjo das três loucuras” do P.
Moreira das Neves.
Na década de seguinte, participei em retiros da
Ação Católica na “Casa de Retiros do Falcão”, em cuja rua
ainda há quem recorde o edifício e a “santa senhora”.
Em
1975/76, todas as manhãs a saudava ao passar junto da sua estátua,
quando me dirigia para a escola em Paços de Ferreira onde lecionava
e permanecia viva a sua memória.
Na década de oitenta e seguintes,
numa escola do Porto frequentada por alunos de Paços de Ferreira, os
pais falavam-me da sua bondade.
Nos
últimos anos, ouvi e li várias textos de Monsenhor Ângelo Alves,
meu professor de Filosofia. Recentemente, assisti à
apresentação de Clematites para Deus,
onde D. Sílvia foi evocada como “apóstola da misericórdia” e
“bálsamo para os mais carenciados” .
O último encontro
foi uma agradável surpresa. Deu-se no livro A Paixão do Bugio,
de Alberto Jorge Marinho, editado em 1989, cuja protagonista é uma
“enjeitada”. Embora não fosse seu propósito, ele mostra bem
como as “pessoas idosas” lembram com saudades a “mãe dos
pobres” a quem chamavam carinhosamente “Sílvia dos Retiros”.
“Olha, Maria Rita... a tua mãe foi
encontrada em necessidade no Porto. D. Sílvia teve pena dela e
trouxe-a para a Casa do Retiro. O primeiro gesto de Sílvia foi
levá-la a uma casa de comidas, na Rua da Madeira. Só depois do
estômago recomposto é que lhe perguntou se ela queria ir para a
Casa da Granja. Era como uma “filha pródiga” que voltava ao lar
da mãe Sílvia Cardoso.” (…) “D. Sílvia dos Retiros era capaz
de compreender o seu caso... Todavia, D. Sílvia era para a enjeitada
uma recordação tão doce como vaga! O que dela sabia era fruto de
conversas da “tia” Alice, que lhe mostrava o retrato de uma
senhora magra e simples, com um sorriso meigo nos lábios finos... E
as pessoas idosas da terra falavam de Sílvia dos Retiros como de uma
verdadeira “Mãe dos Pobres”, que até fazia “milagres” no
mesmo jeito do velho padre Cruz! Embora o povo continuasse a chamar
ao casarão “Casa do Retiro” há muito que D. Sílvia tinha saído
de lá (...) Em vez de raparigas a fazer costura ou a cuidar do
jardim (D. Sílvia tinha paixão por flores e até fazia experiências
para novas espécies, usando a sua longa experiência de “fazer
casamentos” com plantas, desde a infância nos jardins da casa da
Torre em Paços de Ferreira, onde nascera)...“
“Santa senhora”, “Anjo das três
loucuras”, “Sílvia dos retiros”, “Mãe dos pobres”,
“Bálsamo para os mais carenciados” … “Apóstola da
Misericórdia”.
( 9/12/2015)
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