O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, dezembro 10, 2015

APÓSTOLA DA MISERICÓRDIA



Ao longo da vida, cruzei-me repetidas vezes com memórias de Sílvia Cardoso.

 Nado e criado em Campo, Valongo, bem cedo ouvi falar da “Casa dos Retiros da Granja” e de D. Sílvia que “era uma santa”. 
Na década de cinquenta, encontrei-a no livro “O anjo das três loucuras” do P. Moreira das Neves. 
Na década de seguinte, participei em retiros da Ação Católica na “Casa de Retiros do Falcão”, em cuja rua ainda há quem recorde o edifício e a “santa senhora”.
Em 1975/76, todas as manhãs a saudava ao passar junto da sua estátua, quando me dirigia para a escola em Paços de Ferreira onde lecionava e permanecia viva a sua memória. 
Na década de oitenta e seguintes, numa escola do Porto frequentada por alunos de Paços de Ferreira, os pais falavam-me da sua bondade. 
Nos últimos anos, ouvi e li várias textos de Monsenhor Ângelo Alves, meu professor de Filosofia. Recentemente, assisti à apresentação de Clematites para Deus, onde D. Sílvia foi evocada como “apóstola da misericórdia” e “bálsamo para os mais carenciados” .
O último encontro foi uma agradável surpresa. Deu-se no livro A Paixão do Bugio, de Alberto Jorge Marinho, editado em 1989, cuja protagonista é uma “enjeitada”. Embora não fosse seu propósito, ele mostra bem como as “pessoas idosas” lembram com saudades a “mãe dos pobres” a quem chamavam carinhosamente “Sílvia dos Retiros”.

“Olha, Maria Rita... a tua mãe foi encontrada em necessidade no Porto. D. Sílvia teve pena dela e trouxe-a para a Casa do Retiro. O primeiro gesto de Sílvia foi levá-la a uma casa de comidas, na Rua da Madeira. Só depois do estômago recomposto é que lhe perguntou se ela queria ir para a Casa da Granja. Era como uma “filha pródiga” que voltava ao lar da mãe Sílvia Cardoso.” (…) “D. Sílvia dos Retiros era capaz de compreender o seu caso... Todavia, D. Sílvia era para a enjeitada uma recordação tão doce como vaga! O que dela sabia era fruto de conversas da “tia” Alice, que lhe mostrava o retrato de uma senhora magra e simples, com um sorriso meigo nos lábios finos... E as pessoas idosas da terra falavam de Sílvia dos Retiros como de uma verdadeira “Mãe dos Pobres”, que até fazia “milagres” no mesmo jeito do velho padre Cruz! Embora o povo continuasse a chamar ao casarão “Casa do Retiro” há muito que D. Sílvia tinha saído de lá (...) Em vez de raparigas a fazer costura ou a cuidar do jardim (D. Sílvia tinha paixão por flores e até fazia experiências para novas espécies, usando a sua longa experiência de “fazer casamentos” com plantas, desde a infância nos jardins da casa da Torre em Paços de Ferreira, onde nascera)...“

“Santa senhora”, “Anjo das três loucuras”, “Sílvia dos retiros”, “Mãe dos pobres”, “Bálsamo para os mais carenciados” … “Apóstola da Misericórdia”.

( 9/12/2015)