A PROPÓSITO DO "5 DE OUTUBRO"
Vinha de longe o gosto do Porto pela
República. Mas que República? Já em 25 de abril de 1848, A
República, jornal clandestino,
escrevia: "República! Governo da igualdade. De amor entre todos
os homens! E Portugal quer a República? Dizemos que sim; porque o
homem está sempre disposto a abraçar e seguir o bem".
Entre os
republicanos do Porto, avulta Rodrigues de Freitas. Eleito deputado
em 1871, foi o primeiro a pronunciar a palavra “república” no
Parlamento. Em 1874, declara-se adepto da “fórmula republicana ,
fórmula que chegaria como produto da evolução social, como
resultado do amadurecimento democrático e que não podia ser uma
nova forma de governo imposta pela força (ou seja, pela revolução)”
. É acusado de “ser inimigo da indústria, fautor de greves e
republicano que prendia concitar à desordem os seus concidadãos”.
Em 1886, é eleito pelo Porto como primeiro deputado republicano num
Parlamento monárquico. Dele disse Sampaio Bruno: “ a conduta deste
homem político inspirava confiança, alevantava os ânimos, indicava
que não estava tudo definitivamente perdido para uma terra de que
brotavam ainda tão grandes, altivas, antigas virtudes cívicas,
representava uma das grandes forças da nacionalidade portuguesa”.
Os republicanos receberam grande
impulso com o Ultimato inglês e a imprensa de João Chagas, que
então surgiu, no Porto: A República onde
colaboravam Basílio Teles, Rodrigues de Freitas e Sampaio Bruno; A
República Portuguesa, mais
radical, que queria levar “a toda a parte, como a chama de um
facho, o espírito da insurreição”. Culminou na revolução de
“31 de janeiro de 1891” que fracassou. Mas o movimento
republicano continuou e chegou à implantação da República em
1910. Porém, como diz Fernando de Sousa, “a República de 1891 era
bem diferente da República implantada em 1910.” Alves da Veiga,
João Chagas, Basílio Teles, Bruno, todos sofreram desilusões com a
República de 1910. Sampaio Bruno, “republicano, filósofo e
místico do Porto”, ainda tentou expor as suas ideias mas acabou
por se remeter ao silêncio, suportando as acusações de “talassa”
(monárquico) e “reaccionário”. Em 1911, descontente com o
radicalismo do Governo Provisório e zangado com as tropelias
sectárias no Porto, como o assalto à Associação Católica e ao
Circulo Católico, escreve: “retiro-me, completa e absolutamente
enojado, da vida política portuguesa”. Batera-se por uma República
assente na “solidariedade colectiva” e na indissociável trilogia
“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Anos antes escrevera “Uma
alma não é verdadeiramente republicana se nela não habitar outro
sentimento; transcendental, de origem divina. É o da humanidade.”
(cf. Figuras da Cultura do Porto nas comemorações da
República – Actas das Conferências)
(7/10/2015)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home