O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, outubro 07, 2015

A PROPÓSITO DO "5 DE OUTUBRO"


Vinha de longe o gosto do Porto pela República. Mas que República? Já em 25 de abril de 1848, A República, jornal clandestino, escrevia: "República! Governo da igualdade. De amor entre todos os homens! E Portugal quer a República? Dizemos que sim; porque o homem está sempre disposto a abraçar e seguir o bem".
Entre os republicanos do Porto, avulta Rodrigues de Freitas. Eleito deputado em 1871, foi o primeiro a pronunciar a palavra “república” no Parlamento. Em 1874, declara-se adepto da “fórmula republicana , fórmula que chegaria como produto da evolução social, como resultado do amadurecimento democrático e que não podia ser uma nova forma de governo imposta pela força (ou seja, pela revolução)” . É acusado de “ser inimigo da indústria, fautor de greves e republicano que prendia concitar à desordem os seus concidadãos”. Em 1886, é eleito pelo Porto como primeiro deputado republicano num Parlamento monárquico. Dele disse Sampaio Bruno: “ a conduta deste homem político inspirava confiança, alevantava os ânimos, indicava que não estava tudo definitivamente perdido para uma terra de que brotavam ainda tão grandes, altivas, antigas virtudes cívicas, representava uma das grandes forças da nacionalidade portuguesa”.
Os republicanos receberam grande impulso com o Ultimato inglês e a imprensa de João Chagas, que então surgiu, no Porto: A República onde colaboravam Basílio Teles, Rodrigues de Freitas e Sampaio Bruno; A República Portuguesa, mais radical, que queria levar “a toda a parte, como a chama de um facho, o espírito da insurreição”. Culminou na revolução de “31 de janeiro de 1891” que fracassou. Mas o movimento republicano continuou e chegou à implantação da República em 1910. Porém, como diz Fernando de Sousa, “a República de 1891 era bem diferente da República implantada em 1910.” Alves da Veiga, João Chagas, Basílio Teles, Bruno, todos sofreram desilusões com a República de 1910. Sampaio Bruno, “republicano, filósofo e místico do Porto”, ainda tentou expor as suas ideias mas acabou por se remeter ao silêncio, suportando as acusações de “talassa” (monárquico) e “reaccionário”. Em 1911, descontente com o radicalismo do Governo Provisório e zangado com as tropelias sectárias no Porto, como o assalto à Associação Católica e ao Circulo Católico, escreve: “retiro-me, completa e absolutamente enojado, da vida política portuguesa”. Batera-se por uma República assente na “solidariedade colectiva” e na indissociável trilogia “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Anos antes escrevera “Uma alma não é verdadeiramente republicana se nela não habitar outro sentimento; transcendental, de origem divina. É o da humanidade.” (cf. Figuras da Cultura do Porto nas comemorações da República – Actas das Conferências)

(7/10/2015)