O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, julho 22, 2015

PARTILHA DE AFETOS


Em 10 de junho, o Santo Padre disse que a fraqueza dos nossos familiares pode ser uma escola de vida se for acompanhada da oração e da presença afetuosa dos seus membros.
Naquele dia 17 de julho, já lá vão muitos anos, o “pequeno pastor” não saiu com o gado para o monte, como era seu hábito de todas as manhãs. Ficara a ajudar a mãe a fazer o “jantar” para os vizinhos que tinham vindo ajudar a “arrancar batata”. Como não havia água canalizada, a mãe teve de ir à fonte buscar um caneco. Enquanto isso, e por sua ordem, o filho foi ao quinteiro procurar a carqueja mais seca para ela acender a fogueira quando chegasse. Ao descer a escadaria de granito sem corrimão, falseou-lhe um pé, caiu e as costelas flutuantes perfuraram-lhe o baço. No outro dia, foi levado de urgência para um hospital do Porto e, de urgência, tinha de ser operado. Mas só o seria se o pai se responsabilizasse pelo pagamento da conta hospitalar. Nesse tempo, não havia Serviço Nacional de Saúde... e quem não podia pagar... O pai não tinha dinheiro e, em momento de aflição, nem sabia como o arranjar, mas não hesitou: -” se há uma esperança, opere-se.” E o menino, que tinha feito a primeira comunhão no mês anterior, foi operado. Penou quatro dias entre a vida e a morte. O pai sempre o acompanhou. Enquanto isso, a mãe, cerradas as portadas das janelas, mantinha apagada a lareira e, com as vizinhas, rezava a Santa Justa, cuja capela branquejava lá longe no alto da serra. E foi no dia da sua festa que ele começou a melhorar. Salvou-se. Nunca lhe foi dito quanto se gastou nem os sacrifícios que a família teve de suportar para pagar o que pedira emprestado. E a despesa total rondou os vinte contos... Uma quantia muito significativa na década de quarenta do século passado. Que o digam os mais antigos...
A gravidade da “operação” fragilizou-o e retardou a sua entrada na escola, mas a família logo decidiu que, se “tivesse cabeça para aprender, deveria seguir os estudos”. E estudou à custa do exíguo pecúlio familiar, enquanto os irmãos continuaram a amealhar para a casa, no trabalho duro do campo. Sem um queixume ou outra motivação que não fosse o amor à família.
Razão tem o Papa Francisco quando na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. escreveu: “Na família é sobretudo a capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos, entre pessoas que não se escolheram e todavia são tão importantes uma para a outra...(...) Além disso, num mundo onde frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia discórdia, polui com murmurações o nosso ambiente humano, a família pode ser uma escola de comunicação feita de bênção”.
Benditos pais e felizes os filhos que crescem em tais famílias!

22/7/2015)