PARTILHA DE AFETOS
Em 10 de
junho, o Santo Padre disse que a fraqueza dos nossos familiares
pode ser uma escola de vida se for acompanhada da oração e da
presença afetuosa dos seus membros.
Naquele
dia 17 de julho, já lá vão muitos anos, o “pequeno pastor” não
saiu com o gado para o monte, como era seu hábito de todas as
manhãs. Ficara a ajudar a mãe a fazer o “jantar” para os
vizinhos que tinham vindo ajudar a “arrancar batata”. Como não
havia água canalizada, a mãe teve de ir à fonte buscar um caneco.
Enquanto isso, e por sua ordem, o filho foi ao quinteiro procurar a
carqueja mais seca para ela acender a fogueira quando chegasse. Ao
descer a escadaria de granito sem corrimão, falseou-lhe um pé, caiu
e as costelas flutuantes perfuraram-lhe o baço. No outro dia, foi
levado de urgência para um hospital do Porto e, de urgência, tinha
de ser operado. Mas só o seria se o pai se responsabilizasse pelo
pagamento da conta hospitalar. Nesse tempo, não havia Serviço
Nacional de Saúde... e quem não podia pagar... O pai não tinha
dinheiro e, em momento de aflição, nem sabia como o arranjar, mas
não hesitou: -” se há uma esperança, opere-se.” E o
menino, que tinha feito a primeira comunhão no mês anterior, foi
operado. Penou quatro dias entre a vida e a morte. O pai sempre o
acompanhou. Enquanto isso, a mãe, cerradas as portadas das janelas,
mantinha apagada a lareira e, com as vizinhas, rezava a Santa Justa,
cuja capela branquejava lá longe no alto da serra. E foi no dia da
sua festa que ele começou a melhorar. Salvou-se. Nunca lhe foi dito
quanto se gastou nem os sacrifícios que a família teve de suportar
para pagar o que pedira emprestado. E a despesa total rondou os vinte
contos... Uma quantia muito significativa na década de quarenta do
século passado. Que o digam os mais antigos...
A gravidade
da “operação” fragilizou-o e retardou a sua entrada na escola,
mas a família logo decidiu que, se “tivesse cabeça para aprender,
deveria seguir os estudos”. E estudou à custa do exíguo pecúlio
familiar, enquanto os irmãos continuaram a amealhar para a casa, no
trabalho duro do campo. Sem um queixume ou outra motivação que não
fosse o amor à família.
Razão tem
o Papa Francisco quando na mensagem para o Dia Mundial das
Comunicações Sociais. escreveu: “Na família é sobretudo a
capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e
silêncios, rir e chorar juntos, entre pessoas que não se escolheram
e todavia são tão importantes uma para a outra...(...) Além disso,
num mundo onde frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia
discórdia, polui com murmurações o nosso ambiente humano, a
família pode ser uma escola de comunicação feita de bênção”.
Benditos
pais e felizes os filhos que crescem em tais famílias!
22/7/2015)
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