O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, setembro 16, 2015

UMA NUVEM PROTETORA


Há dias, leitora amiga enviou-me um email que dizia: “Hoje, gostaria de perguntar-lhe qual o significado desta estranha sensação de bem estar, paz interior, de alegria quando falo ou penso no “Francisco”. Sempre rezei com ele e por ele aquando do seu longo calvário. Depois que ressuscitou, continuo a rezar lembrando-o. Continuo a falar com ele. Acredito na comunicação dos santos. Parece que me protege”.

Este testemunho trouxe-me à mente as palavras do papa Francisco, em 30 de outubro de 2013 na Praça de S. Pedro: “ A comunhão dos santos vai além da vida terrena, vai além da morte e dura para sempre. Esta união entre nós vai além e continua na outra vida; é uma união espiritual que nasce do Batismo e não vem separada da morte, mas, graças a Cristo ressuscitado, é destinada a encontrar a sua plenitude na vida eterna. Há um vínculo profundo e indissolúvel entre quantos são ainda peregrinos neste mundo – entre nós – e aqueles que atravessaram o limiar da morte para entrar na eternidade. Todos os batizados aqui na terra, as almas do Purgatório e todos os beatos que estão já no Paraíso formam uma só grande família. (…) Temos esta beleza! É uma realidade nossa, de todos, que nos faz irmãos, que nos acompanha no caminho da vida e nos faz encontrar-nos de novo no céu. Sigamos por este caminho com confiança, com alegria. Um cristão deve ser alegre, com a alegria de ter tantos irmãos batizados que caminham com ele; apoiado pela ajuda dos irmãos e das irmãs que fazem esta estrada para ir para o céu; e também com a ajuda dos irmãos e das irmãs que estão no céu e rezam a Jesus por nós. Avante por este caminho com alegria!”

Razão tinha aquele casal que neste verão, ao passar por Fátima, se demorou na “Capela das Aparições”, num longo silêncio. Quando regressavam ao carro, sentaram-se à sombra duma árvore e partilharam o sentido da oração silenciosa. Ambos tinham dado graças pelo dom da vida, pelos filhos e netos, pelos amigos. E enquanto isto faziam, os olhos começaram a humedecer-se. Havia uma sombra no seu pensamento: quem muito amavam já havia partido para a eternidade. Fizeram silêncio, olharam o céu. Uma pequena nuvem começava a encobrir o sol que escaldava. E concluíram que há nuvens que escurecem e nuvens que protegem. Nuvens aterrorizadoras e nuvens benfazejas. “Acreditamos na “Comunhão dos Santos” e damos graças a Deus pela nuvem protetora que temos no Céu.” Entreolharam-se. Evocaram os versos de Ferreira de Brito: ” Mesmo que tenhamos vontade infinita de chorar/ Ergamos as mãos e vamos rezar...”. 
E de Santo Agostinho: “Rezem, sorriam, pensem em mim./ Eu não estou longe,/ Apenas estou /do outro lado do Caminho.../ A vida continua, linda e bela.”

Mas nem sempre a Fé consegue silenciar as lágrimas que humedecem o coração.

( 16/9/2015)