O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, julho 22, 2015

O Pequeno Pastor


As andorinhas enchem os beirais,
já se ouve o cuco nas serras,
A flor do linho borda a azul
As agras da beira-rio,
E, nas leivas, debicam boieiras.

O pequeno pastor,
no monte, sozinho,
vigia o gado que retouça
a erva fresca das cavadas.
E descobre um ninho de gaio
lá bem no alto dos pinheiros.
Um zumbido rodopia,
nas flores mourejam abelhas.
Numa ramada, verdejam videiras
onde carriças escondem o ninho.
Um chasco, cor de cinza,
disfarça os ovos
em touça de carqueja.

Tudo floresce. É primavera.

Os bois não abocanham
o tojo que esconde espinhos
no amarelo queimado das flores.
Borboletas esvoaçam suaves
Em lampejos de luz e cor.
Os estorninhos riscam o céu
Com o negro das asas.
Num sobreiro, duas pegas esvoaçam
Em augúrio de boa sorte.
E num carvalho, o pica-pau marca o ritmo
duma sinfonia sem partitura.
Tojos, giestas, carquejas matizam amarelos
com o violeta da queiró
que papoilas salpicam de sangue
e estevas debruam de brancura.

E o pequeno pastor,
de alma enamorada, canta:
A primavera tem lindas flores,
todas diferentes nenhumas iguais
A primavera vai e volta sempre,
a mocidade vai e não volta mais”.
Contempla… admira… Sonha…
E esquece as ovelhas que esgaçam
os rebentos tenros das videiras.
- Ai, que desgraça!...
Corre, gesticula, grita.
E as ovelhas saboreiam
o petisco da transgressão…
É tempo do regresso.
Dolentes, já bateram as “trindades”
Na capela de Terronhas
e o sol escondeu-se na serra da Pia.

Amanhã outro dia virá….”