O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, setembro 23, 2015

O HOMEM DAS HORAS DIFÍCEIS


No dia 6 de setembro, a Liga dos Amigos de D. António Barroso promoveu mais uma romagem ao túmulo deste missionário que foi Bispo do Porto.


Quando pelas 11 horas depositaram uma coroa de flores junto do seu túmulo, os romeiros, com a roupa encharcada de suor, tinham percorrido, por caminhos acidentados e com sol abrasador, o percurso do cortejo fúnebre que, no dia 5 de setembro de 1918, transportou os restos mortais de D. António desde Barcelos até Remelhe. A romagem, iniciada na igreja do Senhor Bom Jesus da Cruz, culminou com a Eucaristia presidida pelo atual pároco e concelebrada pelos padres António Júlio Limpo Trigueiros, SJ, natural de Remelhe e investigador da vida de D. António Barroso, e Manuel Jerónimo Nunes, Vigário Geral da Sociedade Missionária da Boa Nova. Na homilia, este missionário começou por realçar a palavra de Isaías no cativeiro da Babilónia: “ Tende coragem, não temais”. Situou o Evangelho na viagem que Jesus, repudiado pelos conterrâneos, fez pelo território pagão da Decápole onde foi bem acolhido. E lembrou S. Tiago para quem Deus não faz aceção de pessoas. E continuou. D. António Barroso, homem das horas difíceis e sem medo, é um exemplo para os nossos dias. Foi o primeiro, por entre perigos e doenças, a missionar o abandonado Reino do Congo, no norte de Angola. Sagrado Bispo, quis estender ao interior de Moçambique as missões que se limitavam à faixa costeira. Percorreu todo o território mas não teve tempo de realizar o seu plano missionário que foi incrementado 24 anos mais tarde. No Porto, enfrentou os poderes da República que queria erradicar o cristianismo da Pátria portuguesa e afirmou a independência da Igreja e a sua luta pela liberdade. Também nós vivemos tempos difíceis. A Europa do deus-dinheiro faliu, foi a crise dos banqueiros. Nós somos os surdos-mudos de que fala o Evangelho de hoje. Temos de abrir os ouvidos e o coração ou serão os que agora chegam à Europa, cristãos, muçulmanos e outros, que nos farão acordar. E terminou fazendo votos para que a comunidade local, honrando a memória de D. António Barroso, organize uma equipa sócio-caritativa que atenda os mais pobres e acolha os irmãos que, fugindo à fome e à guerra, nos irão bater à porta.


No final de Eucaristia, Amadeu Araújo, vice-postulador da causa de D. António Barroso, agradeceu a presença dos familiares de D. António, dos representantes da Câmara de Barcelos, Junta de Remelhe, Bombeiros de Barcelos e Barcelinhos, e realçou o empenho do bispo do Porto, D. António Francisco, que, na semana seguinte, durante a Visita ad limina, iria falar pessoalmente com o Santo Padre sobre o processo de beatificação de D. António Barroso.
Deixo o pedido de uma oração para que o “bispo dos pobres” seja beatificado antes do primeiro centenário da sua morte que ocorrerá em 31 de agosto de 2018.



(23/9/2015)