MOMENTOS DE SILÊNCIO.
Saturados de barulho, sentimos, muitas
vezes, necessidade de silêncio. Nos montes, na praia e também,
retirados, no meio da multidão. Mas se há silêncios que
procuramos, outros há, ensurdecedores, que vêm ter connosco e nos
esmagam. Já os havia vivenciado em Dachau e Auschewitz, máquinas de
tortura e morte fabricadas pela brutalidade humana. Há dias, vivi um
outro momento de silêncio em Pompeia, um campo de morte semeado pela
violência da natureza. Porém, enquanto nos primeiros, o horror
enchia o rosto dos visitantes, neste, os turistas, de mapa na mão,
admiravam mosaicos, frescos, estátuas, colunas, casas, templos,
termas, e só acordavam para a tragédia que acontecera naquele local
quando, nas casas, viam corpos que pareciam naturais, moldados com o
gesso injectado no espaço deixado pelas substâncias orgânicas
dissolvidas na lava.
O que acontecera?
Pompeia, importante centro viário a
dez quilómetros do Vesúvio, era uma cidade de 20.000 habitantes,
com numerosos mercadores, famílias patrícias e romanos que aí
tinham as suas “vilas” de férias. No dia 24 de agosto do ano 79
d. C., por volta do meio dia, o vulcão Vesúvio, considerado extinto
por muitos séculos, explodiu repentinamente e com extrema violência.
Sobre as chamas que se elevaram altíssimas, como um pinheiro de
fogo, formou-se uma nuvem escura que tapava o sol. Um dilúvio de
rochas vulcânicas e escórias incandescentes caiu sobre Pompeia. O
calor foi tanto que matou até quem se abrigava em refúgios. Muros e
telhados desabaram; relâmpagos rasgaram a escuridão; sucederam-se
terramotos e maremotos. Durou três dias este cenário dantesco de
lavas, pedras e cinzas. Os poucos habitantes que conseguiram fugir
para o mar foram mortos por gases venenosos. E da cidade que
rivalizava com Roma na antiguidade e com Nápoles, sua vizinha, na
grandeza, não ficou vivalma. Restou uma cobertura de morte com cinco
a seis metros de espessura que vai proteger as suas ruínas. Um
silêncio absoluto que durou quase dois mil anos. Após uns achados
esporádicos e ocasionais, no século XIX iniciaram-se escavações
profissionais que ainda prosseguem sempre com maior rigor e cuidado.
Pompeia, nos últimos anos, ressurge das cinzas e atrai turistas para
apreciarem o património monumental que a terra seca manteve intacto.
Terminei a visita no anfiteatro a ver a
exposição “Pompeia e Europa 1748-1943”. Aí
o silêncio era total. Corpos, muitos corpos, dos mais diversos
tamanhos, posições e expressões, como se tivessem acabado de
morrer. Pensei nos projetos que teriam ao acordar na manhã daquele
dia fatídico... E lembrei-me do livro de Job (14,1) “O homem
é como uma flor que germina e logo morre, uma sombra que foge sem
parar”.
(28/10/2015)
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