O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, dezembro 16, 2015

PEREGRINAR PELA MEMÓRIA



“A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta desejada. (…) A mentalidade contemporânea, talvez mais que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. “ (O Rosto da Misericórida)
Em jeito de catarse desta cultura onde “a palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar”, visitei o Museu da Misericórdia do Porto (MMIPO). E confirmei o que o Provedor escreveu: “Neste espaço museológico vai encontrar os homens do Porto, as mulheres que ajudaram a construir impérios, as crianças que desejavam viver, mas também os benfeitores e a filantropia dos torna-viagem ou a generosidade de imensos anónimos que ajudaram a criar a Misericórdia”. A Confraria da Misericórdia do Porto foi fundada em 1499, um ano após a de Lisboa, por sugestão do Rei D. Manuel I. O Mesário do Culto e Cultura diz que “A do Porto fez o seu caminho, singular e único, assente na visão exigente e muito humanista das chamadas Obras de Misericórdia. Para as levar à prática, organizou-se, administrou pequenos hospitais-albergarias e construiu a sua sede numa rua nova e obrigatória na circulação e no comércio urbano.”
Como pórtico, o museu apresenta as “Obras de Misericórdia”, propósito fundador da Santa Casa, que enuncia assim: “Sete espirituais – Ensinar os símprezes; Dar bom conselho a quem o pede; Castigar com caridade os que erram; Consolar os tristes e desconsolados; Perdoar a quem errou; Sofrer as injúrias com paciência; Rogar a Deus pelos vivos e mortos. Sete corporais – Remir cativos e presos; Visitar e curar os enfermos; Cobrir os nus; Dar de comer aos famintos e pobres; Dar de beber aos que ham sede; Dar pousada aos peregrinos e pobres; Enterrar os finados” .
Ao caminhar ao longo do tempo, o visitante vai encontrar momentos que evidenciam o cumprimento destas Obras.
O MMIPO é um museu multifacetado. Para além deste peregrinar pela memória da misericórdia, expõe o seu riquíssimo espólio artístico que nos permite uma visão antropológica do homem do Porto com suas vivências religiosas e práticas humanitárias. Fala-nos da história do Porto que, a partir do século XVI, entra em simbiose com a sua.
O Santo Padre quer que, em cada diocese, se abra uma Porta da Misericórdia. “Assim cada Igreja particular estará diretamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual”.
Uma visita ao MMIPO - que nos abre a porta da memória duma das “instituições da misericórdia” (cf. VP, 9/12, pag.9) - poderá ajudar-nos a viver mais plenamente o Ano Santo que, há dias, se iniciou.

(16/12/2015)