PEREGRINAR PELA MEMÓRIA
“A
vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que
percorre uma estrada até à meta desejada. (…) A mentalidade
contemporânea, talvez mais que a do homem do passado, parece opor-se
ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a
tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. “ (O
Rosto da Misericórida)
Em jeito de catarse
desta cultura onde “a palavra e o conceito de misericórdia parecem
causar mal-estar”, visitei o Museu da Misericórdia do Porto
(MMIPO). E confirmei o que o Provedor escreveu: “Neste espaço
museológico vai encontrar os homens do Porto, as mulheres que
ajudaram a construir impérios, as crianças que desejavam viver, mas
também os benfeitores e a filantropia dos torna-viagem ou a
generosidade de imensos anónimos que ajudaram a criar a
Misericórdia”. A Confraria da Misericórdia do Porto foi fundada
em 1499, um ano após a de Lisboa, por sugestão do Rei D. Manuel I.
O Mesário do Culto e Cultura diz que “A do Porto fez o seu
caminho, singular e único, assente na visão exigente e muito
humanista das chamadas Obras de Misericórdia. Para as levar à
prática, organizou-se, administrou pequenos hospitais-albergarias e
construiu a sua sede numa rua nova e obrigatória na circulação e
no comércio urbano.”
Como
pórtico, o museu apresenta as “Obras de Misericórdia”,
propósito fundador da Santa Casa, que enuncia assim: “Sete
espirituais – Ensinar
os símprezes; Dar bom conselho a quem o pede; Castigar com caridade
os que erram; Consolar os tristes e desconsolados; Perdoar a quem
errou; Sofrer as injúrias com paciência; Rogar a Deus pelos vivos e
mortos. Sete corporais
– Remir cativos e
presos; Visitar e curar os enfermos; Cobrir os nus; Dar de comer aos
famintos e pobres; Dar de beber aos que ham sede; Dar pousada aos
peregrinos e pobres; Enterrar os finados” .
Ao caminhar ao
longo do tempo, o visitante vai encontrar momentos que evidenciam o
cumprimento destas Obras.
O MMIPO é um museu
multifacetado. Para além deste peregrinar pela memória da
misericórdia, expõe o seu riquíssimo espólio artístico que nos
permite uma visão antropológica do homem do Porto com suas
vivências religiosas e práticas humanitárias. Fala-nos da história
do Porto que, a partir do século XVI, entra em simbiose com a sua.
O
Santo Padre quer que, em cada diocese, se abra uma Porta da
Misericórdia. “Assim cada
Igreja particular estará diretamente envolvida na vivência deste
Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação
espiritual”.
Uma visita ao MMIPO
- que nos abre a porta da memória duma das “instituições da
misericórdia” (cf. VP, 9/12, pag.9) - poderá ajudar-nos a viver
mais plenamente o Ano Santo que, há dias, se iniciou.
(16/12/2015)
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