De quem é esta obra prima?
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Sem data nem assinatura, sabemos que se
chama “Fons Pietatis, Fons Vitae e Fons Misericordiae”
mas, quanto ao resto, abundam as dúvidas e as opiniões. Os
estudos críticos dão-na como pintada entre 1515 e 1517 por um
artista flamengo para a Santa Casa da Misericórdia do Porto.
O tema central do Fons Vitae
desenvolve-se em dois planos confluentes. O superior - o Céu- é
ocupado pela cruz, quase escondida pelo Corpo de Cristo, colocada
sobre uma taça, para onde jorra o sangue que sai da chaga do Seu
lado. Com a cabeça levemente inclinada para a direita, não
apresenta ferimentos. É doce o olhar dorido da Mãe e de espanto o
de S. João.
No plano inferior - a Terra-,
ajoelhados em redor da fonte, estão o Rei D. Manuel I e a Rainha D.
Maria, ladeados pelos filhos com realce para o futuro rei D. João
III e D. Isabel de Portugal, futura esposa de Carlos V e imperatriz
de Espanha, que se encontram, respetivamente, ao lado do Rei e da
Rainha.
A cruz marca o ponto central da
composição e nos pés de Cristo encontra-se o ponto geométrico
onde o Céu e a Terra confluem. E curiosamente é precisamente nesse
ponto que se concentra o olhar de D. Manuel. Toda a pintura enaltece
o lema manuelino: “Deo in celo tibi autem in mundo”(A
Deus no céu e a ti na terra). Não
é por acaso que o sangue de Cristo jorra na sua direção. Assim
teremos um Emanuel no Céu e um Manuel na Terra, num paralelismo
claro entre o poder de Cristo e o do Rei.
A obra terá sido encomendada por
alguém do círculo de influências de D. Manuel, com boas relações
com a Flandres e com a Santa Casa da Misericórdia do Porto. O Rei
terá participado na escolha do tema dado nela constar o retrato da
sua família.
O Fons Vitae terá
chegado ao Porto em 1517 e seria o painel central do tríptico
encomendado para retábulo-mor da capela da Misericórdia, mais tarde
conhecida por capela de Santiago, no claustro velho da Sé. Em 1550,
foi levado para a nova sede na rua das Flores, onde foi guardado e
esquecido até que foi inventariado em1824.
Pertença da Santa Casa da Misericórdia
do Porto, integra o novo Museu da Misericórdia. Porque uma obra
artística, quando exposta, deixa de pertencer ao seu autor e abre-se
à contemplação dos seus apreciadores que a recriam, o Fons
Vitae também pode ser nosso. Basta visitá-lo e com ele
dialogar. Uma boa sugestão para este Natal. Quem o fizer, no dia 28,
poderá assistir ao concerto que o Coro Gregoriano do Porto irá
apresentar, às 18 horas. (cf. VP, 9/12, pág. 5). Um Santo Natal
para todos. (22/12/2015)
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