XAXU OLÁ
Numa conversa de avós, uma senhora dizia que os netos
são a sobremesa da vida. Ao que uma amiga retorquiu: - Mas ainda falta o café.
E outra, em tom de brincadeira, acrescentou: - E o digestivo… É que a sobremesa
indicia o fim da refeição…
Para atenuar esta conotação que, não deixando de ser
verdadeira também não precisa de ser enfatizada, prefiro dizer que os netos são
rebuçados de Deus que nos adoçam a vida num tempo em que temos mais
disponibilidade para os saborear tranquilamente. É esta serenidade interior que
nos delicia com pormenores que nos escaparam quando éramos pais. As
preocupações profissionais de então assoberbavam-nos de tal modo que não
deixavam tempo nem tranquilidade para deles nos apercebermos. Quando se diz que
os avós fazem aos netos o que não fizeram aos filhos, não é porque querem mais
àqueles do que a estes, as circunstâncias é que são diferentes. Atualmente, com
o aumento da “idade da reforma”, há avós que não podem acompanhar tão de perto
o crescimento dos netos. E, com a desorganização das famílias, muitos são os
que têm de assumir o papel de pais e a sua tarefa torna-se bem mais complexa.
Felizes as crianças que crescem com o amor exigente dos pais e o amor
benevolente dos avós!
Tempos atrás, minha neta, ao olhar para a imagem de
Cristo, disse “Xaxú”. Foi a sua terceira palavra, depois de “má” e “pá”. E
agora sempre que lhe perguntamos onde está o Jesus logo aponta para essa
imagem. Esta experiência fez-me pensar num texto sobre a pedagogia da fé que
aconselhava os pais (e os avós, acrescento) a terem em casa símbolos religiosos,
a levarem os bebés a igrejas vazias e a participarem em cerimónias litúrgicas.
O choro dum bebé, agora que há tão poucos, até torna a celebração mais festiva,
como, há dias, me dizia o meu pároco. Assim, a criança, pouco a pouco, vai
interiorizando o sentido do sagrado. A Fé bebe-se com o leite materno. A
catequese ensina a doutrina e procura exercitar a sua vivência mas tem muita
dificuldade em incutir a fé. Salvo raras exceções, quando as crianças não
trazem a semente de casa, é como água em terra dura, passa mas pouco penetra.
Uns dias depois, começou a dizer “olá” e, com a
mãozita, acenava a toda a gente: no café, no metro, na rua. Se há pessoas,
apressadas ou mal-humoradas, que nem reparam, outras há que, surpreendidas,
falam com ela e a acarinham. Humaniza os espaços. “Era bom que todos fôssemos
como ela”, comentava uma senhora no café.
Na última
semana, surpreendia-a a olhar para a imagem de Cristo e a dizer:” xaxú olá”. E
repetiu para o irmãozito de cinco anos que acrescentou: “Eu falo com Jesus que
está no nosso coração”. - Quem te ensinou? – Foi o pai.
E assim se interioriza o sentido da oração…e vai
germinando a semente da fé.
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Que doces rebuçados!
( 24-2-2016)
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