ECOS (III) - DR. ALBINO
No seminário “Duas figuras da Igreja do Porto”, José Maria Pacheco Gonçalves falou do Dr. Albino Moreira , privilegiando as cinquenta e três cartas que escreveu entre 1973 e 1976 e o artigo “Uma Igreja pobre/ pátria da liberdade e comunhão” publicado em 1976 pela revista “A Mensagem”. Selecionei alguns dos excertos apresentados.
- Sobre o Seminário de que foi professor e
reitor (1964-72) - “Escola da Fé: quando fiz a aproximação com o Seminário
Maior, não pensava fundar outra coisa, mas transformar o Seminário: uma
teologia mais vivencial e fonte de vida e apostolado; um compromisso mais
amplo, existencial e comunitário dos professores com os alunos”.
- A propósito dum conflito na diocese - “O Sr.
Bispo (D. António) tem razão: o Evangelho não é uma ideologia (e quem pensa que
é, é um idólatra). Mas é preciso, acho eu, que não se feche ao diálogo. E que
não se canse de repetir a necessidade imperiosa de a Igreja de todos o ser
especialmente dos pobres. Rezemos confiadamente.”
- Sobre o papel da Igreja na sociedade - “Mais vale correr o risco de ‘sujar as mãos’
na construção da verdade, da justiça, do bem comum, aí, na vida obrigatória, do
que ‘pairar acima’, na medida em que isso equivaleria a comportar-se como quem
não tem mãos.”
- Esclarece o conceito de contemplação - “Contemplação,
é adesão à Realidade com coração de Deus. - “Adesão ,
olhar-compromisso, coração, amor, decisão, luz, afeição, felicidade, paz. Realidade:
Deus, e quanto Deus põe no nosso caminho, a começar por nós próprios, com
defeitos, limitações, dons. Indo até cada momento concreto, grande ou pequeno,
da vida profissional e apostólica. Com o coração de Deus: e aqui está o
mais sublime, o mais decisivo, a alma da contemplação. E o mais difícil. Pôr de
lado os meus próprios gostos e critérios e prazeres, por mais legítimos que
sejam, para jogar exclusivamente na
auscultação, acolhimento, execução e fruição da presença e moções do Espírito
em mim. Com seus silêncios e noites. Em auto-esquecimento e em liberdade
totais”.
- Sobre
o que se pedia à Igreja portuguesa após 25 de Abril - “A Igreja não coincide
adequadamente com o Mundo, mas é sacramento do Mundo a salvar. Tenha ela
(tenhamos nós, seus membros) suficiente inventiva e generosidade de
despojamento, de serviço e de amor, para significar a salvação do Portugal de
hoje, abalado até aos fundamentos na necessária procura de uma ainda longínqua
ordem nova, mais justa, mais livre e mais pacífica.”
Concluo.
O Dr. Albino possuía aquela “inteligência espiritual”, fonte de liberdade e
consciência crítica, de que falava Santa Edith Stein, que nos abre à vida interior e à transcendência.
Foi um bem maior para a Igreja. A diocese do Porto deve-lhe memória e gratidão.
(10-2-2016)
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