O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

ECOS (III) - DR. ALBINO


 No seminário “Duas figuras da Igreja do Porto”, José Maria Pacheco Gonçalves falou do Dr. Albino Moreira , privilegiando as cinquenta e três  cartas que escreveu entre 1973 e  1976 e o artigo “Uma Igreja pobre/ pátria da liberdade e comunhão” publicado em 1976 pela revista “A Mensagem”. Selecionei alguns dos  excertos apresentados.

- Sobre o Seminário de que foi professor e reitor (1964-72) - “Escola da Fé: quando fiz a aproximação com o Seminário Maior, não pensava fundar outra coisa, mas transformar o Seminário: uma teologia mais vivencial e fonte de vida e apostolado; um compromisso mais amplo, existencial e comunitário dos professores com os alunos”.

- A propósito dum conflito na diocese - “O Sr. Bispo (D. António) tem razão: o Evangelho não é uma ideologia (e quem pensa que é, é um idólatra). Mas é preciso, acho eu, que não se feche ao diálogo. E que não se canse de repetir a necessidade imperiosa de a Igreja de todos o ser especialmente dos pobres. Rezemos confiadamente.”

- Sobre o papel da Igreja na sociedade -  “Mais vale correr o risco de ‘sujar as mãos’ na construção da verdade, da justiça, do bem comum, aí, na vida obrigatória, do que ‘pairar acima’, na medida em que isso equivaleria a comportar-se como quem não tem mãos.”

- Esclarece o conceito de contemplação - “Contemplação, é adesão à Realidade com coração de Deus. -Adesão , olhar-compromisso, coração, amor, decisão, luz, afeição, felicidade, paz. Realidade: Deus, e quanto Deus põe no nosso caminho, a começar por nós próprios, com defeitos, limitações, dons. Indo até cada momento concreto, grande ou pequeno, da vida profissional e apostólica. Com o coração de Deus: e aqui está o mais sublime, o mais decisivo, a alma da contemplação. E o mais difícil. Pôr de lado os meus próprios gostos e critérios e prazeres, por mais legítimos que sejam,  para jogar exclusivamente na auscultação, acolhimento, execução e fruição da presença e moções do Espírito em mim. Com seus silêncios e noites. Em auto-esquecimento e em liberdade totais”.

- Sobre o que se pedia à Igreja portuguesa após 25 de Abril - “A Igreja não coincide adequadamente com o Mundo, mas é sacramento do Mundo a salvar. Tenha ela (tenhamos nós, seus membros) suficiente inventiva e generosidade de despojamento, de serviço e de amor, para significar a salvação do Portugal de hoje, abalado até aos fundamentos na necessária procura de uma ainda longínqua ordem nova, mais justa, mais livre e mais pacífica.”

Concluo. O Dr. Albino possuía aquela “inteligência espiritual”, fonte de liberdade e consciência crítica, de que falava Santa Edith Stein, que  nos abre à vida interior e à transcendência. Foi um bem maior para a Igreja. A diocese do Porto deve-lhe  memória e gratidão.

(10-2-2016)