OS CEGOS E O ELEFANTE
Certo
dia, um príncipe indiano reuniu um grupo de cegos de nascença, no
pátio do palácio. Colocou diante deles um elefante e disse-lhes que
o apalpassem.
Quando todos o tinham feito, cada um explicou aos
outros como era o elefante. O que tinha apalpado a barriga, disse que
era como uma enorme panela. O que apalpara a cauda discordou e disse
que o elefante parecia uma vassoura. O que tinha apalpado a orelha
contradisse: "Parece um grande leque aberto". O que
apalpara a tromba protestou: "O elefante tem a forma, as
ondulações e a flexibilidade de uma mangueira de água".
"Não", replicou o que apalpara a perna. "Ele é
rígido como um poste...". Envolveram-se numa discussão sem
fim. Cada um, apoiado na sua experiência, queria impor a sua
verdade.
O príncipe, quando percebeu que eram incapazes de aceitar
que os outros podiam ter tido outras experiências, explicou "O
elefante é tudo isso que vocês falaram. Mas o que cada um disse é
só uma parte do elefante. Não devem negar o que os outros
perceberam. Deveriam juntar as experiências de todos e tentar
imaginar como a parte que cada um apalpou se une com as outras para
formar esse todo que é o elefante."
Na
“Semana da Unidade dos Cristãos”, recordo esta parábola que
Xabier Pikaza cita, no contexto mais amplo do diálogo
inter-religioso, para exemplificar as versões que os homens têm de
Deus, um Deus de que todos têm uma visão parcelar mas ninguém
possui a compreensão integral. Segundo este teólogo, para haver
diálogo religioso é necessário atender à transcendência e à
complementaridade. “Precisamente para abrir-se ao infinito, a
religião nunca pode converter-se num sistema nem dominar todos os
planos da vida humana. Ela sabe que há coisas que não pode
resolver. Cada religião deve assumir a sua identidade (experiência
de graça) em comunicação dialogante. Devemos fazer um esforço
para sermos o que somos e apresentarmos aos outros a nossa própria
opção”. A experiência cristã tem por base a gratuitidade do
amor ao serviço da reconciliação universal. Só assim “pode ser
fermento de concórdia e humanização sobre a Terra. As igrejas
cristãs creem num Deus trinitário (quer dizer, num Deus
comunitário, que é diálogo de amor).” Como entender, então, a
divisão das igrejas? Razões históricas poderão explicar a sua
origem mas nada justifica a sua continuidade. O poder divide. Só o
serviço congrega. Que falta para acabar com este escândalo? A
divisão dos cristãos é um vergonhoso contra-testemunho de que as
igrejas terão de prestar contas a Deus. Deixemo-nos de ambiguidades
e meias tintas! Não sejamos cegos nem surdos. Ouçamos a voz do
Príncipe da Paz: “Que todos sejam um, assim como
tu, Pai, estás em mim e eu em ti. (...) E o mundo creia que tu me
enviaste.(Jo, 17,21)”.
(20/1/2016)
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