O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, janeiro 20, 2016

OS CEGOS E O ELEFANTE



Certo dia, um príncipe indiano reuniu um grupo de cegos de nascença, no pátio do palácio. Colocou diante deles um elefante e disse-lhes que o apalpassem. 
Quando todos o tinham feito, cada um explicou aos outros como era o elefante. O que tinha apalpado a barriga, disse que era como uma enorme panela. O que apalpara a cauda discordou e disse que o elefante parecia uma vassoura. O que tinha apalpado a orelha contradisse: "Parece um grande leque aberto". O que apalpara a tromba protestou: "O elefante tem a forma, as ondulações e a flexibilidade de uma mangueira de água". "Não", replicou o que apalpara a perna. "Ele é rígido como um poste...". Envolveram-se numa discussão sem fim. Cada um, apoiado na sua experiência, queria impor a sua verdade. 
O príncipe, quando percebeu que eram incapazes de aceitar que os outros podiam ter tido outras experiências, explicou "O elefante é tudo isso que vocês falaram. Mas o que cada um disse é só uma parte do elefante. Não devem negar o que os outros perceberam. Deveriam juntar as experiências de todos e tentar imaginar como a parte que cada um apalpou se une com as outras para formar esse todo que é o elefante."
Na “Semana da Unidade dos Cristãos”, recordo esta parábola que Xabier Pikaza cita, no contexto mais amplo do diálogo inter-religioso, para exemplificar as versões que os homens têm de Deus, um Deus de que todos têm uma visão parcelar mas ninguém possui a compreensão integral. Segundo este teólogo, para haver diálogo religioso é necessário atender à transcendência e à complementaridade. “Precisamente para abrir-se ao infinito, a religião nunca pode converter-se num sistema nem dominar todos os planos da vida humana. Ela sabe que há coisas que não pode resolver. Cada religião deve assumir a sua identidade (experiência de graça) em comunicação dialogante. Devemos fazer um esforço para sermos o que somos e apresentarmos aos outros a nossa própria opção”. A experiência cristã tem por base a gratuitidade do amor ao serviço da reconciliação universal. Só assim “pode ser fermento de concórdia e humanização sobre a Terra. As igrejas cristãs creem num Deus trinitário (quer dizer, num Deus comunitário, que é diálogo de amor).” Como entender, então, a divisão das igrejas? Razões históricas poderão explicar a sua origem mas nada justifica a sua continuidade. O poder divide. Só o serviço congrega. Que falta para acabar com este escândalo? A divisão dos cristãos é um vergonhoso contra-testemunho de que as igrejas terão de prestar contas a Deus. Deixemo-nos de ambiguidades e meias tintas! Não sejamos cegos nem surdos. Ouçamos a voz do Príncipe da Paz: “Que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. (...) E o mundo creia que tu me enviaste.(Jo, 17,21)”.

(20/1/2016)