O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

ECOS...(II) - Dr. Narciso




A segunda voz do seminário "Duas figuras da Igreja do Porto" foi de Manuel António Ribeiro que apresentou o P. Narciso Rodrigues como " Um rosto de Igreja incarnada e inculturada".

O Dr. Narciso via em Cardijn "um exemplo que deveria iluminar o modo se ser padre nos meios operários" e no livro La France, pays de mission?, " um diagnóstico profético que se aplicava ao nosso país".

Filho de um "militante cristão ativo no movimento operário dos inícios do século XX", nasceu no Porto em 1915. Na família, numerosa e trabalhadora, bebeu a sensibilidade social e a capacidade de acolhimento que o levou a prometer ao pai, no dia da sua ordenação em Roma (1937) "que dedicaria toda a sua vida de padre ao serviço da classe operária". Em 1942, foi nomeado assistente diocesano da JOC, e, entre 1948 e 1966, assistente nacional da JOC masculina. Não foram fáceis esses tempos. Durante 24 anos, "viveu a dureza do ambiente de repressão política". Em 1966, voltou ao Porto e foi residir para o Seminário Maior onde estabeleceu uma relação de muita proximidade com os alunos "numa altura em que se vivia um grande clima de entusiasmo pelos ventos de renovação trazidos pelo Concílio Vaticano II". Inspirado na espiritualidade de Charles de Foucauld, o "seu trabalho de Diretor Espiritual era muito marcado pela ideia de uma Igreja que devia testemunhar o rosto misericordioso de Deus. Procurava incutir nos alunos uma hermenêutica dos evangelhos que ajudasse a perceber que Jesus não se dirige aos homens de altas virtudes que vivem num mundo ideal, mas às pessoas que se confrontam com os seus limites e fraquezas. Ajudava a perceber que o mundo do Evangelho não é uma espécie de cerca protegida reservada a uma elite, mas o mundo dos pequenos e dos pobres, do homem quotidiano." Assim marcou indelevelmente os seminaristas na década de 70 e início de 80. E os padres responsáveis pela pastoral operária ou que viviam junto das populações mais esquecidas do centro e da periferia do Porto. Também eles se sentiam ao serviço duma Igreja pobre em terra de missão.

Em Outubro de 1974, com o mesmo espírito de serviço e pobreza, foi paroquiar Coimbrões. Em 1983 foi nomeado assistente diocesano da LOC. Nunca escondeu a sua paixão pelo mundo operário como, de forma bem humorada, gostava de dizer: «A paróquia é minha mulher e a LOC é a minha amante».

Em conclusão, "no seu tempo e à sua maneira, foi um precursor do atual Papa, ao contribuir para dar vida a um rosto de Igreja que recorre ao remédio da misericórdia, em vez de brandir as armas da severidade." Como era bondoso o seu rosto!

Foi um dom de Deus para a Igreja e uma bênção para os que tiveram a graça de com ele conviver .(Continua)
3-2-2016