O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 02, 2016

UMA MULHER DE ELEIÇÃO


 



Monsenhor Alexandrino Brochado apresentou-o como “Eloquência rara, espírito brilhante, orador até à ponta dos cabelos” (VP, Março de 2003). Há dias, sua sobrinha M. L., nossa assinante, enviou-me um texto que ele publicou em O Comércio do Porto (26/07/1970) com o título desta crónica, sobre “a Mulher Forte, porventura a mais forte que tenho conhecido na minha vida inteira”. Quem era este “Pregador de fama”? E esta “Mulher de Eleição”? Estou a falar do P. Luís Castelo Branco e de D. Sílvia Cardoso por ele considerada como “o mais perfeito exemplar de virtudes naturais e sobrenaturais”.

Começa por falar do primeiro encontro, no Gerês, em julho de 1942. “A senhora, que pela primeira vez me falava, fisicamente pouco sobre o forte, modestamente vestida, em toda a maneira de ser, uma simplicidade invulgar, porém sumamente impressionante no seu olhar e mais ainda no seu falar.” E acrescenta: “Deveras surpreso, soube que era a senhora D. Sílvia Cardoso, senhora que admirava e estimava sem conhecer. ”

 A admiração fez-se amizade que perdurou até à sua morte. Confessa: “Durante 26 anos convivi muito de perto com a senhora D. Sílvia Cardoso, prestei-lhe, da melhor vontade, os serviços que lhe foram úteis para o seu apostolado constante, frutuoso e até heróico, tive ensejo de perscrutar, até ao mais íntimo, a nobreza do seu carácter, a delicadeza dos seus sentimentos, a pureza da sua fé, o ardor da sua caridade que para mim era apanágio da sua maior grandeza”. Quão esclarecedor e valioso é o seu testemunho: “Numa actividade constante, dispersou as suas energias sobretudo na promoção de exercícios espirituais, para toda a classe de pessoas, principalmente das dioceses do Porto, Vila Real, Évora e Lisboa. Compadecia-se de todas as misérias físicas, procurando a tudo dar remédio eficaz, foi assombrosa no campo assistencial, porém o que mais a preocupava eram as misérias morais, que, por encanto, ou milagre, subtilmente lobrigava por todo o País. Perante factos calamitosos e deprimentes que tanto rebaixavam a natureza humana, D. Sílvia a ninguém disse uma palavra de recriminação, sanando tudo com palavras que só ela sabia dizer e com doçura, que só o seu coração sabia destilar”.

Como é eloquente a síntese final “Sílvia Cardoso, à maneira do raio branco que concentra em si todas as cores, que ostenta no arco-íris, também na sua humildade concentra e oculta as cores de todas as virtudes, o rubro da caridade ardente, o verde da esperança, quase certeza, o azul da pureza da alma, a mulher delicada e simples, cujos feitos portentosos fizeram vibrar de admiração os que tiveram a ventura de os conhecer”.

Honra para quem assim escreveu e glória a Deus por quem tais palavras mereceu!

(2/3/2016)