UMA MULHER DE ELEIÇÃO
Monsenhor Alexandrino Brochado
apresentou-o como “Eloquência rara, espírito brilhante, orador até à ponta dos
cabelos” (VP, Março de 2003). Há dias, sua sobrinha M. L., nossa assinante,
enviou-me um texto que ele publicou em O Comércio do Porto (26/07/1970)
com o título desta crónica, sobre “a Mulher Forte, porventura a mais forte que
tenho conhecido na minha vida inteira”. Quem era este “Pregador de fama”? E
esta “Mulher de Eleição”? Estou a falar do P. Luís Castelo Branco e de D.
Sílvia Cardoso por ele considerada como “o mais perfeito exemplar de virtudes
naturais e sobrenaturais”.
Começa por falar do primeiro encontro,
no Gerês, em julho de 1942. “A senhora, que pela primeira vez me falava,
fisicamente pouco sobre o forte, modestamente vestida, em toda a maneira de
ser, uma simplicidade invulgar, porém sumamente impressionante no seu olhar e
mais ainda no seu falar.” E acrescenta: “Deveras surpreso, soube que era a
senhora D. Sílvia Cardoso, senhora que admirava e estimava sem conhecer. ”
A
admiração fez-se amizade que perdurou até à sua morte. Confessa: “Durante 26
anos convivi muito de perto com a senhora D. Sílvia Cardoso, prestei-lhe, da
melhor vontade, os serviços que lhe foram úteis para o seu apostolado constante,
frutuoso e até heróico, tive ensejo de perscrutar, até ao mais íntimo, a
nobreza do seu carácter, a delicadeza dos seus sentimentos, a pureza da sua fé,
o ardor da sua caridade que para mim era apanágio da sua maior grandeza”. Quão
esclarecedor e valioso é o seu testemunho: “Numa actividade constante,
dispersou as suas energias sobretudo na promoção de exercícios espirituais,
para toda a classe de pessoas, principalmente das dioceses do Porto, Vila Real,
Évora e Lisboa. Compadecia-se de todas as misérias físicas, procurando a tudo
dar remédio eficaz, foi assombrosa no campo assistencial, porém o que mais a
preocupava eram as misérias morais, que, por encanto, ou milagre, subtilmente
lobrigava por todo o País. Perante factos calamitosos e deprimentes que tanto
rebaixavam a natureza humana, D. Sílvia a ninguém disse uma palavra de
recriminação, sanando tudo com palavras que só ela sabia dizer e com doçura,
que só o seu coração sabia destilar”.
Como é eloquente a síntese final “Sílvia
Cardoso, à maneira do raio branco que concentra em si todas as cores, que
ostenta no arco-íris, também na sua humildade concentra e oculta as cores de
todas as virtudes, o rubro da caridade ardente, o verde da esperança, quase
certeza, o azul da pureza da alma, a mulher delicada e simples, cujos feitos
portentosos fizeram vibrar de admiração os que tiveram a ventura de os
conhecer”.
Honra para quem assim escreveu e glória
a Deus por quem tais palavras mereceu!
(2/3/2016)
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