O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 20, 2016

ANTES DO "25 DE ABRIL"



 

A propósito, recordo a homilia de 17 “padres do Porto” que lhes valeu a suspensão dos passaportes e um “processo político” que só não teve outras consequências porque, entretanto, se deu a “Revolução de Abril”. O Governador Civil, em carta para o Governo, classificou-a como “declaração de guerra em dia de paz”. Os excertos retirados do livro As Mentiras de Marcello Caetano mostram como a Igreja nunca abdicou da função profética de anunciar, denunciar e interpelar.

·        A homilia começa pelo anúncio:

“1 de Janeiro, Dia Mundial da Paz. Em 1973 era-nos lembrado que «a Paz é possível». Este ano o mesmo nos é repetido, mas acrescenta-se: A Paz depende de ti!”

·        A seguir, denuncia:

“Lançando os olhos e reconhecendo muitos sinais de falta de paz, não desistiremos. Há 13 anos que Portugal mantém uma guerra, com toda uma série de consequências que nos tocam de perto: - Militares mutilados, ou enfraquecidos na saúde e gastos nos nervos; - famílias abaladas pela ausência ou morte de militares; - angústia e medo em que vivem as populações nas zonas de guerra; - mortes, violências e massacres dum e doutro lado; - cada vez mais ódio, intolerância e extremismo; - gastos extraordinários. Há em Portugal situações que nos interpelam: - a aflição em que vive grande parte da população, economicamente mais débil, perante o crescente aumento do custo de vida; - as condições infra-humanas em que tantos vivem, diminuídos por graves carências de alimentação, habitação, higiene e saúde; - condições de trabalho e ritmo de produção que fazem dessas pessoas máquinas; - a insegurança dos trabalhadores em risco de despedimento sem justa causa; - desequilíbrio entre os lucros das empresas e os ordenados; - os conflitos com estudantes e o recurso sistemático à intimidação e repressão como meio de resolver estes problemas e outros…

Não podemos deixar de referir os condicionalismos que estão na raiz desta situação: - as informações que a T.V., os jornais e a rádio nos fornecem são frequentemente incompletas, quando não falsas; - os cidadãos são impedidos de se reunirem, de se associarem e de exprimirem livremente as suas opiniões; - e, o que é pior, chega-se a criar em muitos a ilusão de que participam efectivamente na vida pública, quando na realidade são cortadas as condições para a formação recta e exacta da opinião pública. É a esta luz que encaramos, por exemplo: - as eleições para a Assembleia Nacional; - as limitações no funcionamento dos sindicatos; - a alteração dos nomes de realidades que permanecem (casos da A.N.P. - U.N.; Exame prévio - Censura e D.G.S. - P.I.D.E.”

·        E termina com um apelo:

 “A PAZ -  e portanto a guerra - TAMBÉM DEPENDE DE TI”.

O serviço da Palavra é raiz e primeira missão da Igreja: “Ide e ensinai.” (Mt28,19)

(20-4-2016)