ANTES DO "25 DE ABRIL"
A
propósito, recordo a homilia de 17 “padres do Porto” que lhes valeu a suspensão
dos passaportes e um “processo político” que só não teve outras consequências
porque, entretanto, se deu a “Revolução de Abril”. O Governador Civil, em carta
para o Governo, classificou-a como “declaração de guerra em dia de paz”. Os
excertos retirados do livro As Mentiras
de Marcello Caetano mostram como a Igreja nunca abdicou da função profética
de anunciar, denunciar e interpelar.
·
A
homilia começa pelo anúncio:
“1
de Janeiro, Dia Mundial da Paz. Em 1973 era-nos lembrado que «a Paz é
possível». Este ano o mesmo nos é repetido, mas acrescenta-se: A Paz depende de ti!”
·
A
seguir, denuncia:
“Lançando
os olhos e reconhecendo muitos sinais de falta de paz, não desistiremos. Há 13
anos que Portugal mantém uma guerra, com toda uma série de consequências que nos
tocam de perto: - Militares mutilados, ou enfraquecidos na saúde e gastos nos
nervos; - famílias abaladas pela ausência ou morte de militares; - angústia e
medo em que vivem as populações nas zonas de guerra; - mortes, violências e
massacres dum e doutro lado; - cada vez mais ódio, intolerância e extremismo; -
gastos extraordinários. Há em Portugal situações que nos interpelam: - a
aflição em que vive grande parte da população, economicamente mais débil,
perante o crescente aumento do custo de vida; - as condições infra-humanas em
que tantos vivem, diminuídos por graves carências de alimentação, habitação,
higiene e saúde; - condições de trabalho e ritmo de produção que fazem dessas
pessoas máquinas; - a insegurança dos trabalhadores em risco de despedimento
sem justa causa; - desequilíbrio entre os lucros das empresas e os ordenados; -
os conflitos com estudantes e o recurso sistemático à intimidação e repressão
como meio de resolver estes problemas e outros…
Não
podemos deixar de referir os condicionalismos que estão na raiz desta situação:
- as informações que a T.V., os jornais e a rádio nos fornecem são
frequentemente incompletas, quando não falsas; - os cidadãos são impedidos de
se reunirem, de se associarem e de exprimirem livremente as suas opiniões; - e,
o que é pior, chega-se a criar em muitos a ilusão de que participam
efectivamente na vida pública, quando na realidade são cortadas as condições
para a formação recta e exacta da opinião pública. É a esta luz que encaramos,
por exemplo: - as eleições para a Assembleia Nacional; - as limitações no
funcionamento dos sindicatos; - a alteração dos nomes de realidades que
permanecem (casos da A.N.P. - U.N.; Exame prévio - Censura e D.G.S. - P.I.D.E.”
·
E
termina com um apelo:
“A PAZ - e portanto a guerra - TAMBÉM DEPENDE DE TI”.
O
serviço da Palavra é raiz e primeira missão da Igreja: “Ide e ensinai.”
(Mt28,19)
(20-4-2016)
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