NA HISTÓRIA DA MINHA TERRA, A HISTÓRIA DO MEU PAÍS
Nascemos numa terra e isso não é impune…
Este pensamento saltou-me à mente, quando, em 26 de setembro, na sede da Junta de Freguesia de Campo - a minha terra - participava na apresentação do livro “Campo e Sobrado – Duas Freguesias – Notas Monográficas’, de Paulo Caetano Moreira.
Como diz o povo, ‘há males que vêm para bem’. Esta obra da Junta surge como fruto maior duma “agregação forçada” que se iniciou em 2012 e agora chegou ao fim.
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Ao terminar a sua leitura, lembrei o que dizia o nosso saudoso D. Manuel Martins quando gostava dum livro: “este é para ser comido”: pelo rigor científico, pela documentação investigada, pela abundante informação. Exemplificando…
“Da história e da memória coletiva da freguesia de S. Marinho de Campo faz parte o Couto de Luriz.” (pág. 71)
Nascido dentro do território desse Couto, bem menino ouvi falar do ‘imposto da Mitra’, reminiscência do foro que as suas terras pagavam ao seu senhor, o Bispo do Porto. E aprendi que fora doado por D. Afonso Henriques, em 1140.
A monografia fez-me ver que estava errado porque, em 1140, foi doado, apenas, a “herdade e casal de Luriz”; o Couto só foi criado em 1147.
Ao ler os extratos do ‘Catálogo e História dos Bispos do Porto’, fiquei espantado com os nomes referidos, todos eles figuras maiores do início da nossa nacionalidade.
Vejamos…
- Doação da Herdade de Luriz - 1140
“Rey D. Afonso Heriques deu ao Bispo D. Pedro (Rabaldis) a herdade e cazal de Loris, a instâncias do Arcebispo de Braga D. Joam, que lhe pediu para a Igreja do Porto. (…) Era de Christo 1140. Confirma el Rey a doaçam e assinam nella como testemunhas, Egas Moniz, Garcia Medez. E outros senhores.”
- Quem fez a doação? - Afonso Henriques, o conquistador que alargou o nosso território desde Coimbra até aos confins do Alentejo; o conde que conseguiu elevar o Condado Portucalense à dignidade de Reino de Portugal.
- Quem pediu? – D. João (Peculiar) - bispo do Porto e arcebispo de Braga - o diplomata, o embaixador de Afonso Henriques que negociou com Afonso VII de Leão e Castela e esteve presente no Tratado de Zamora, em 1143 (fez no pssado dia cinco, 882 anos) que marca o início da nossa independência. E fez 14 viagens a Roma para convencer o Papa a reconhecer, internacionalmente, Portugal como um reino independente, o que veio a acontecer em 1179 com o Papa Alexandre III.
Quem testemunhou? – Egas Moniz, o ‘aio’ de Afonso Henriques, que esteve a seu lado na batalha de S. Mamede em 1128 e que, diz a tradição, foi a Toledo com a família, de corda ao pescoço, pedir perdão ao Rei de Castela por Afonso Henriques não lhe prestar vassalagem como tinha prometido aquando do cerco de Guimarães. Este episódio está retratado no seu túmulo no mosteiro de Paço de Sousa.
- Carta de doação do Couto – 1147
“Era de Christo 1147. O mesmo Rey D. Afonso Henriques fez huma doaçam ao Bispo D. Pedro 2 em que lhe fez Couto da herdade de Loriz, que avia dado a seu antecessor D. Pedro 1 (…) Assina nella com sua molher a raynha dona Mafalda e confirmam outros muitos senhores.”
- Quem assina? Além de Afonso Henriques, a sua esposa, a rainha D. Mafalda.
- A quem é feita a doação? A D. Pedro (Pitões), o bispo do Porto que, a pedido de Afonso Henriques, convenceu os Cruzados a irem por mar ajudá-lo a conquistar Lisboa e, com D. João Peculiar, seguiu na armada como garantia do cumprimento das promessas. Sem essa ajuda, Lisboa não seria conquistada.
- Em que ano? 1147, precisamente o ano da conquista de Lisboa. Coincidências?...…
Sinal maior, a comprovar a importância deste antigo couto, é a ponte medieval sobre o rio Ferreira, por onde passava a via romana que, do Porto, seguia para Penafiel e Entre-os-Rios.
Por ela, passaria, com a sua comitiva, a Rainha D. Mafalda, nas assíduas deslocações para o seu paço nas Caldas de Canaveses, cujas ‘águas utilizou’ onde ‘reconstruiu a ‘Ponte de Canaveses’ e edificou a Albergaria e as igrejas de S. Pedro e Santa Maria’. O que torna verosímil a tradição local de que a sua neta, a Rainha Santa Mafalda - que não se sabe onde veio à luz – terá nascido na Cortinha do Porto, deste Couto de Luriz
Com o seu presidente, Alfredo Costa Sousa, está de parabéns a Junta de Freguesia de Campo e Sobrado que, com esta publicação, faz memória do passado para que as novas gerações saibam o chão que pisam. Não se ama o que se não conhece… A cada geração a sua tarefa na construção dum mundo mais humano. (15/10/2025)
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