UMA VIDA AO SERVIÇO DOS MAIS POBRES E FRAGILIZADOS
A Comunicação Social deu a notícia no dia 14 de junho. Está a fazer um mês…
Jornal de Notícias - “O padre madeirense Martins Júnior, que esteve suspenso quatro décadas, morreu anteontem à noite, aos 86 anos. O histórico pároco da Ribeira Seca, no concelho de Machico, foi suspenso ‘a divinis’, em julho de 1977. (…) por se ter recusado a entregar a chave da igreja de Ribeira Seca e participou na política como presidente da Câmara de Machico.”
7Marggens - “Dizem os seus conterrâneos que partiu ‘em paz, sereno, e – como sempre desejou – de pé’. Literalmente de pé, mas também, e mais importante, de pé no sentido figurado. Porque se há algo que quem o conhecia bem garante é que ele tinha ‘uma coluna vertebral inquebrantável’, que sustentou toda uma vida ao serviço dos mais pobres e fragilizados.”
E eu, em sua memória, relembro o artigo que aqui publiquei, em 2008:
“O Pe. Martins Júnior ordenou-se presbítero em 1962. Em 27 de Julho de 1977, o então Bispo do Funchal, D. Francisco Santana, suspendeu-o do exercício sacerdotal, devido à sua actividade política, considerada contrária às orientações canónicas. Foi presidente da Câmara de Machico entre 1990 e 1998. (…) Em 1974, fora nomeado pároco de Ribeira Seca e, graças ao apoio do povo nunca mais abandonou a paróquia mesmo depois de ser suspenso do exercício sacerdotal. Por isso, o Ministério Público, após denúncia, instaurou-lhe, em 1991, um processo-crime de “abuso de designação, sinal ou uniforme”, conforme a Concordata de 1940. Como, entretanto, a Concordata fora revista, o seu julgamento foi suspenso.
“Quando em Agosto, soube que o novo Bispo do Funchal, D. António Carrilho, que eu conhecera como bispo auxiliar da nossa Diocese, tinha dado início a “um ciclo de diálogo”, escrevi-lhe a seguinte carta, em 19 de Agosto, a que, cordialmente, me respondeu, com um “Bem Haja!”, num cartão pessoal, logo no dia 28 desse mês.”
“Excia Reverendíssima
Esta carta ter-lhe-á causado surpresa até porque poderá não estar a reconhecer-me. (…)
Em 1992, visitei, com minha esposa e meus dois filhos, a Ilha da Madeira. Nessa data, quis falar com o Pe. Martins Júnior que conhecia apenas pela comunicação social e que, então, era o presidente da Câmara do Machico.
Dirigi-me ao edifício da Câmara e apresentei-me à sua Secretária como sendo um cristão da diocese do Porto que estava de visita à Madeira e gostaria de falar com o Pe. Martins. Logo que foi avisado do meu pedido, saiu do seu gabinete, saudou-me efusivamente bem como aos meus familiares e convidou-nos a entrar. Falámos longamente sobre a Igreja do Porto que ele afirmou muito admirar bem como de D. António Ferreira Gomes, (o nosso bispo que pagou com um exílio de dez anos a coragem de enfrentar a política do Estado Novo: era o seu modelo.) Falou-me com entusiasmo da sua actividade pastoral. E nada me disse da sua ação política. (…) Não teve uma palavra de censura para com a hierarquia. Falou-me sempre como ”homem da Igreja”. Senti que amava a Igreja e a parcela do Povo de Deus que esta lhe confiara.
Foi, pois, com muito agrado, que soube que o Senhor Bispo iniciara “um ciclo de diálogo e aproximação, tendo em vista a reconciliação e a integração plena (do Pe. Martins) na comunhão da Igreja”
Fiquei feliz ao ver que há um bispo que, colaborando “em tudo aquilo que seja para o bem comum, afirma a isenção e autonomia”, face ao poder político. E o Pe. Martins é um problema de Igreja que só a esta compete resolver. (…) (VP, 12/11/2008)”
Em 2009, encontrei o P. Martins numa semana de teologia no seminário da Boa Nova. Relembrei-lhe o nosso encontro e dei-lhe a ler o artigo que publicara. Ficou emocionado e teve palavras de elogio para a Voz Portucalense.
A ansiada e justa revogação chegou bem mais tarde, como informava o mencionado Jornal de Notícias:
“Em junho de 2019, o atual bispo da diocese do Funchal, Nuno Brás, anunciou a revogação da suspensão”.
A minha admiração pela sua verticalidade de ‘antes quebrar que torcer’, ao serviço duma Igreja que salva na Fraternidade. Que Deus o tenha na Sua Paz! (9/7/2025)
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