O Tanoeiro da Ribeira

sábado, maio 10, 2025

A VITALIDADE DUMA INSTITUIÇÃO MULTISSECULAR

“Colocamos o coração em tudo o que fazemos.” Esta é a mensagem do opúsculo que orientou as cerimónias comemorativas da fundação da Santa Casa da Misericórdia do Porto, no passado dia 23 de março, na sua igreja privativa da rua das Flores. Nele, a ‘Mensagem do Provedor’, Dr. António Tavares, começa por dizer: ”Assinalamos, hoje, 526 anos de uma trajetória de excelência, marcada por feitos que permanecem vivos na nossa memória coletiva, mas, sobretudo, por uma visão de futuro que permanece em construção. A Santa Casa da Misericórdia do Porto, ao longo dos séculos, consolidou-se como um pilar de referência, sendo, no presente, um farol de compromisso e resiliência, e no futuro, um agente de transformação social.” E terminava com as palavras que inspiram o trabalho da Santa Casa e presidiram a essa celebração: “Colocamos o coração em tudo o que fazemos.” Na homilia, o capelão-mor, Cónego Jorge Cunha, sintetizou: “os pobres são o sujeito da Santa Casa”. Após a Eucaristia, seguiu-se a ‘entronização’ de 82 novos irmãos, numa cerimónia solene que terminou com o ‘juramento’: “Juro pela minha honra conhecer, cumprir e fazer cumprir, o compromisso desta Santa Casa, vivenciando as 14 Obras de Misericórdia. Assim Deus me ajude por intercessão da Nossa Senhora”. E eu regressei aos tempos de menino e vi-me, novamente, sentado num molho/feixe de erguiço /caruma, em casa da Mestra Maruja que me ensinava: As obras de misericórdia são 14; sete, corporais e sete, espirituais. As Corporais são: 1.ª Dar de comer a quem tem fome. - 2.ª Dar de beber a quem tem sede. - 3.ª Vestir os nus. - 4.ª Dar pousada aos peregrinos. - 5.ªAssistir aos enfermos. - 6.ª Visitar os presos. - 7.ª Enterrar os mortos. As Espirituais são: 1.ª Dar bom conselho. – 2.ª Ensinar os ignorantes. – 3.ª Corrigir os que erram. – 4.ª Consolar os tristes. - 5.ª Perdoar as injúrias. - 6.ª Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo. - 7.ª Rogar a Deus por vivos e defuntos. O ‘Compromisso da Irmandade’, no seu artigo 4.º, contextualiza os conceitos e explicita: “No campo social (a Santa Casa da Misericórdia) exercerá a sua ação através da prática das 14 Obras de Misericórdia, tanto espirituais como corporais, interpretadas à luz da moderna Doutrina Social da Igreja e da cultura da solidariedade”. E, como “a gratidão é a memória do coração”, o senhor Provedor, com eloquentes palavras de encómio, agraciou, com o titulo de ‘Irmão Honorário”, os senhores Alberto Cândido Alves Baldaque Lobo, António José Brito Silva Santos e João Luís Mariz Rozeira; homenageou os 38 colaboradores que cumpriram 25 anos de serviço, em 2024 com um realce especial para o senhor António Maria Canceles Pinto, o único que, nesse ano, cumpriu 50 anos ao serviço. E não foram esquecidos os 46 colaboradores que, entretanto, se aposentaram. O presente é gratidão, mas, também, sonho. Assim, a celebração culminou na apresentação da ‘Comissão Organizadora das Comemorações dos 530 anos da fundação da Santa Casa da Misericórdia do Porto’ que será presidida pelo Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva, Mesário do Culto e da Cultura. Toda esta cerimónia, pautada pelo tema da Misericórdia, trouxe-me à memória as palavras com que o Papa Francisco, cuja morte nos escurece o coração, anunciou o Jubileu deste ano: ‘um dom especial de graça da misericórdia de Deus’: “Agora aproxima-se a meta dos primeiros vinte e cinco anos do século XXI e somos chamados a realizar uma preparação que permita ao povo cristão viver o Ano Santo e todo o seu significado pastoral. Neste sentido, constituiu uma etapa significativa o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que nos permitiu redescobrir toda a força e ternura do amor misericordioso do Pai a fim de, por nossa vez, sermos suas testemunhas” Fica o testemunho e o apelo… Neste ano jubilar e em tempo pascal, coloquemos o coração em tudo o que fizermos… (7/5/2025)