O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 05, 2025

A HISTÓRIA DA ÚLTIMA MULHER QUE GOVERNOU A CHINA

s O filme “1911 - A Revolução” que retrata as revoltas violentas que levaram à queda da Dinastia Quing e à implantação da República na China, incentivou-me a ler o romance histórico: “Imperatriz, a História da última mulher que governou a China” A sua autora, Pearl S. Buck – prémio Nobel da Literatura em 1938 – filha de missionários presbiterianos, nasceu nos Estados Unidos (1892), mas foi criada na China. Neste livro, afirma-o no Prefácio, tentou “retratar a Imperatriz Cixi com o maior rigor possível, recorrendo às fontes disponíveis e à sua própria memória da ideia que os chineses que conheceu na infância faziam dela”. Mais do que a vida da ‘Imperatriz Viúva’, como ficou conhecida, - a ‘avó’ do último Imperador da China - que governou durante 47 anos (1861- 1908), interessou-me descobrir, nas entrelinhas, o que, historicamente, os líderes chineses pensavam dos povos estrangeiros e perceber a intencionalidade negocial que se esconde sob a impassibilidade da face e a opacidade do seu olhar. Lembro sempre o que dizia o meu primo, diretor duma grande multinacional: “Estamos frente a frente horas e horas e, no fim, fico sem saber o que pensam… Nós falamos, falamos… e eles escrevem, escrevem… No seu rosto, nada transparece. No final, guardam criteriosamente as notas, fecham a pasta com a solenidade com que a abriram e saem com a vénia e o sorriso com que entraram. Posteriormente, comunicam-nos, por escrito, a sua decisão”. Mais do que comentários e contextos, limito-me a partilhar convosco algumas pistas que fui respigando ao longo das suas 495 páginas. Os estrangeiros – inimigos. O mestre da futura Imperatriz, “Falou-lhe da invasão dos inimigos vindos além das planícies do Norte –Russos; e dos mares do Oriente - Europeus e Japoneses.” (pág. 74) Vindos por terra – A Rússia, inimiga, mas aliada “Estamos rodeados por inimigos insatisfeitos, homens que nos são estranhos. Temos, porém, de evitar a guerra a todo o custo, pois entrar em guerra contra tantos seria, com efeito, montar um tigre. É prudente por conseguinte, aliciar um inimigo a tornar-se nosso aliado. Que este seja o do Norte, a Rússia. Entre todos, a Rússia é o mais asiático, como nós, um povo que nos é estranho, é verdade, mas asiático.” (pág. 442) Vindos do mar- os mais temíveis Europeus - “Contou-lhe que esses invasores, trezentos anos antes, foram, primeiro, homens de Portugal, em busca do comércio das especiarias. Devido às riquezas obtidas graças às suas pilhagens sem lei, tentaram outros homens europeus a fazer o que eles tinham feito, e vieram os conquistadores espanhóis e os holandeses em navios, e depois os ingleses que armaram uma guerra pelo comércio do ópio, e depois os franceses e os alemães.” (pág. 74) Japoneses - “Por duas vezes, aqueles inimigos ilhéus, os homens do Japão, tinham sido comprados para não fazer a guerra pela concessão de direitos sobre o povo tributário da Coreia. (Não fora isso) “e aqueles pigmeus ilhéus castanhos não sonhariam agora engolir todo o vasto reino. Teriam sido “repelidos para o mar e para as suas próprias ilhas tristes rodeadas de rochedos. Que morressem à fome!” (pág. 415) Pergunto: A Imperatriz dizia aos seus embaixadores: “Temos de negociar e aplacar, até as nossa forças serem suficientemente fortes para alcançar a vitória” (pág. 445). Este princípio continuará a nortear a diplomacia chinesa? Ontem como hoje… A China prepara-se para ser, no plano militar, o que já é no domínio económico e político, uma superpotência mundial a ombrear com os Estados Unidos, mas, no seu modo de agir, continua a respeitar as orientações a sua última Imperatriz: - “Suplico-vos que adieis a decisão e inventeis pretextos, não cedendo, mas também não recusando, até o modo ficar claro” (pág. 112) - “Não ceder, mas não resistir… ainda não. Prometer e quebrar as promessas “(pág. 151) Em síntese: “Os chineses são como os gatos. Esgueiram-se por todas as frestas em silêncio, farejando o caminho” (pág. 421). Como dizia a Imperatriz: - “Esperarei. Tenho sempre descoberto a minha sabedoria na espera. Conheço o meu próprio génio." (pág. 418)