ERA UMA ARRECADAÇÃO CAMARÁRIA
Em tempos do Vaticano II…
Em dezembro de 1965, a Obra Diocesana iniciou o seu trabalho no bairro camarário de S. Roque da Lameira, em reuniões com moradores, na ‘Escola dos Rapazes’.
No final duma reunião, apareceu-me um grupo formado, entre outros, por Aida Matos, Carlos Pereira e Joaquim Costa, falando-me do desejo antigo de construir uma capela para qual já tinham as pedras e o sino duma outra que tinha sido destruída na Praça do Marquês (antigo Largo da Aguardente): o sino foi entregue à guarda do pároco de Campanhã. O P. Tavares Martins, o pároco de então, disse-me que o havia colocado na torre da igreja. O Cónego Milheiro, o pároco atual, confirmou-me que lá permanece: “é o do lado norte (o mais pequeno) que tem as seguintes inscrições: Real capella de Santo Antonio da Aguardente oferecido por Antonio Ferreira da Silva em 1877 Narcizo Antonio da Costa Braga me fez em Braga no anno de 1877”
Em toda a área da futura paróquia, não havia qualquer local de culto. No bairro do Cerco do Porto, comecei, em agosto de 1964, a celebrar na escola primária, por simpatia da Direção Escolar do Porto – a capela só viria a ser benzida em 1/11/1966. Outro local de oração nos bairros de S. Roque vinha mesmo a condizer com um dos meus princípios pastorais: Não são as pessoas que vão à igreja; mas é a Igreja que vai às pessoas.
Nos dias seguintes, ao passar no bairro camarário, reparei num pequeno barracão, encostado ao muro dos quintais, onde se guardavam os utensílios camarários, em dois compartimentos separados: um, para a ‘Limpeza’ e outro, para os ‘Jardins’.
Eram pequeninos, mas chegavam para uma Igreja que se queria fermento.
O pavimento era de cimento e o telhado, de telha-vã, com as telhas e as ripas, à vista. Uma capela, assim, pensei, dava corpo ao novo paradigma eclesiológico nascido no concílio Vaticano II: ‘Uma Igreja Pobre e Peregrina’. E, como tal, Missionária.
O grupo concordou com a ideia e, entusiasmados, fomos falar com o presidente de Câmara, Dr. Nuno Pinheiro Torres, que apadrinhou o projeto e, passado pouco tempo, os serviços camarários foram deslocados para a cave do Bloco 1.
Na Igreja, sopravam ventos de esperança. O País, porém, continuava vestido de luto: era a Guerra Colonial que ameaçava não ter fim. Muitos jovens partiam cheios de vida e regressavam estropiados ou num caixão. Nossa Senhora da Paz seria a mãe que reconfortava este povo sem esperança. A sua imagem é a de uma jovem, de rosto sereno e braços abertos em gesto de acolhimento a lembrar a Senhora da Misericórdia.
D. Florentino, Administrador Apostólico e grande devoto de Nossa Senhora, gostou do projeto e aceitou o nome que, então, lhe sugeri: Capela de Nossa Senhora da Paz.
A futura paróquia de Nossa Senhora do Calvário ficaria com duas capelas dedicadas a Nossa Senhora: da Paz, no bairro de S. Roque da Lameira; e outra, a construir de raiz, no bairro do Cerco do Porto com o nome da sua padroeira. Com a criação da paróquia – experimental em 1/1/1967 e definitiva em 1/1/1973 – ambas assumiram o estatuto de ‘igreja paroquial’.
E foi na simplicidade que se aí se celebrou a primeira Missa, em 7 de março de 1965 – domingo em que entrou vigor a Reforma Litúrgica, consagrada na Constituição Sacrosanctum Concilium.
D. Florentino, que não pôde estar presente por se encontrar em Roma a participar no Concílio, veio celebrar, no primeiro aniversário da sua inauguração, onde também esteve presente a vereadora D. Maria José Novais que, em 15 de novembro desse ano, numa reunião o executivo camarário, falou da capela do bairro de S. Roque da Lameira “que funciona numa dependência cedida pela Câmara, sob o nome de Nossa Senhora da Paz’ (No Princípio foi assim…)
Em 1968, por solicitação da paróquia experimental, a Câmara, sob o risco do arquiteto Fabião, fez uma remodelação que unificou os dois compartimentos e lhe deu a configuração atual.
E foi assim que D. António a conheceu, quando a visitou em 1972
Quantas pessoas foram marcadas pela sua singeleza!... E com carinho a evocam…
Ainda em setembro passado, um casal nela celebrou as suas ’bodas de ouro’ matrimoniais e enviou-me uma fotografia do seu casamento que dizia: ‘A celebrar um dia especial. Faz hoje 50 anos. o senhor casou este jovem casal. Hoje renovamos os mesmos votos de amor e fidelidade, no mesmo local. Obrigado.” (12/3/2025)
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