TUDO ME FAZ LEMBRAR MINHA MÃE...
E, desta vez, foi a Encíclica Amou-nos (Dilexit nos), do Papa Francisco.
Esconde-se no mais recôndito da minha infância, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus que, com o ‘Divino Espírito Santo’ e Nossa Senhora, formava o tripé da prática devocional em que fui educado.
Minha mãe era zeladora do ‘Sagrado Coração de Jesus’ e, todos os sábados, ia enfeitar o ‘Seu’ altar na igreja da minha terra.
E eu, num domingo de maio, sempre acompanhado pela gancheta e a roda, ia receber a quota anual dos ‘Associados’. Ainda sinto o cheiro das flores que bordejavam os caminhos e o chilrear dos passarinhos por entre os arvoredos…
E nunca faltava à ‘primeira sexta-feira’ do mês. No dia anterior, após a escola, íamos ao ‘confesso’ e, às vezes, até combinámos os pecados a confessar… E, na sexta-feira, às sete da manhã – no inverno, ainda era escuro e o frio enregelava as mãos – já estávamos na igreja para comungar.
Recordo a vez que mais me custou. Na quinta feira, realizou-se, em casa do meu tio Nogueira, a espadelada do linho. E, como de costume, no fim, não faltaram os petiscos onde abundavam os ‘bolinhos de bacalhau’ que, ontem como hoje, me deliciam. Mas… nem os pude cheirar porque, quando o serão terminou, já passava da meia noite. E, para comungar, tinha de estar em jejum desde a meia noite anterior. Minha mãe trouxe-me mais cedo para casa e guardou-me uns ‘bolinhos’ para o dia seguinte… Mãe é mãe…
Em 1957, no seminário de Vilar, a Academia Beato Nun’Álvares fundou a ‘Associação do Sagrado Coração de Jesus’, incentivada pelo diretor espiritual, P. Manuel Vieira Pinto que nos dizia: ‘a Igreja precisa de padres de coração quente e não de testa fria’. Ainda me vejo a receber as insígnias de zelador, na capela do Seminário.
É, pois, com redobrada emoção que, no início do ‘Mês do Sagrado Coração de Jesus’, partilho convosco alguns números da Encíclica ‘Amou-nos - Sobre o Amor Humano e Divino do Coração de Jesus’, publicada em Roma, pelo Papa Francisco, a 24 de outubro de 2024, que me fez sentir a presença de duas pessoas de ‘coração quente’ a quem devo muito do que sou.
- A veneração da sua imagem
. “52. Convém notar que a imagem de Cristo com o seu coração, ainda que de maneira nenhuma possa ser objeto de adoração, não é uma imagem qualquer, entre muitas outras que poderíamos escolher.”
.”53. Há uma experiência humana universal que torna esta imagem única. Pois não há dúvida que, ao longo da história e em várias partes do mundo, o coração se tornou um símbolo da intimidade mais pessoal e também do afeto, emoções e capacidade de amar.”
.”55. A imagem do coração deve remeter-nos para a totalidade de Jesus Cristo, no seu centro unificador, e, a partir desse, simultaneamente, deve levar-nos a contemplar Cristo em toda a sua beleza e riqueza da sua humanidade e da sua divindade.”
. “58. Não devemos esquecer que esta imagem do coração nos fala de carne humana, da terra e, por isso, nos fala também de Deus que quis entrar na nossa condição histórica, fazer-se história e partilhar o nosso caminho terreno.”
- Em comunhão de serviço
. “212. Não se deve pensar nesta missão de comunicar Cristo como se fosse algo apenas entre mim e Ele. Ela é vivida em comunhão com a própria comunidade.”
. “213. É um amor que se torna serviço comunitário. Não me canso de recordar que Jesus disse com grande clareza: ‘Sempre que o fizeste a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizeste’ (Mt 25,49). Ele propõe-te que O encontres também aí, em cada irmão e em cada irmã, especialmente, nos mais pobres, desprezados e abandonados da sociedade. Que lindo encontro!”
E minha mãe encontrava-O, como escreveu um vizinho que a conheceu muito bem: “Ti Maria Rosa Tanoeiro, a pessoa mais bondosa que eu conheci até hoje”.
Ainda há dias, me surpreendi quando um amigo de infância, hoje bem na vida, mas que, em criança, passou fome - era o tempo da Guerra, com o desemprego, o racionamento e mercado negro alimentar - me confessava:
“Tua mãe, quando eu ia a vossa casa, antes de me dar um bom naco de broa, sempre me perguntava: “Não será que tu queres um bocado do nosso pão?”
Delicada, mesmo nas dádivas…
Em ‘Comunhão’ com ela e convosco, repito: Sagrado Coração de Jesus, que tanto nos amais…(4/6/2025)
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