A CÂMARA DO PORTO E A OBRA DIOCESANA
Em 3 de maio, o Jornal de Notícias, sob o título “Moreira diz que o bispo terá de obter apoios junto dos privados”, informava:
“Nos últimos quatro anos, a Câmara do Porto subsidiou a Igreja com quase um milhão de euros (…) O autarca (…) já havia garantido que não voltará a aprovar mais apoios para a Igreja, designadamente a Obra Diocesana, que a Câmara subsidia, por se ter sentido ‘insultado’ pelo bispo na sequência da resposta que Manuel Linda deu ao ser questionado, por carta, sobre a permuta de 15 casas no bairro das Eirinhas, no Bonfim…” (3/5/2025).
Sem dúvida que essa permuta também me deixou, no mínimo, estupefacto… Mas pergunto: - O que tem a ver com isso a Obra Diocesana? – Nada. Se não, vejamos a sua história…
Como nasceu?
Escrevi em “Alvores da Obra Diocesana” (14/2/2014)
“Gerada no coração dum bispo, acalentada pelo humanismo dum presidente da Câmara, ganhou vida no saber de uma mulher. (…) D. Florentino foi a sua ‘alma-mater’, o Dr.Nuno Pinheiro Torres, o patrocinador, já D. Julieta Cardoso foi a ‘abelha-mestra”. (páp. 22).
* O que faz?
- “É já conhecida dos nossos leitores que está a desenvolver-se um importante movimento de acção social, educativa e religiosa na zona dos novos blocos camarários desta cidade. (…) O que se pretende é ajudar essas populações desenraizadas e heterogéneas a resolver os seus próprios problemas – sustento, emprego, habitação, doenças, promoção educativa, cultural e social etc” (A Voz o Pastor, 17/10/1964)
- Em 25 de abril de 2014, a Junta de Freguesia de Campanhã prestou-lhe homenagem pública e, no desdobrável, então distribuído, dizia: “A Obra Diocesana de Promoção Social (…) foi fundada em 1964, fruto da vontade conjugada da Diocese do Porto, da Câmara Municipal do Porto e do Instituto de Serviço Social do Porto. (…)
Para a realização dos seus objetivos, desenvolve a sua ação nos bairros do Carriçal, Cerco do Porto, Fonte da Moura, Lagarteiro, Machado Vaz, Pasteleira, Pinheiro Torres, Rainha D. Leonor, Regado, São João de Deus, São Roque da Lameira e São Tomé, apoiando a sua população mais carenciada. Aí, tem instalado 12 Centros Sociais, onde mantém as respostas sociais de Creche, Pré-Escolar, ATL, Centro de Dia, Centro de Convívio, Serviço de Apoio Domiciliário e ainda Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAP) e Cantina Social.
Atualmente, presta serviços a cerca de 2500 clientes e conta com a colaboração de cerca de 390 trabalhadores. “
Testemunho pessoal
Eu próprio, por solicitação do senhor Presidente da Câmara, vivi vários anos, numa casa do bairro do Cerco do Porto, para, como o P. Coelho, no bairro da Pasteleira, “ser vizinho entre vizinhos” (JN, 15/3/2025 – O padre que fez do barracão uma capela). E nunca me senti a receber um favor porque, com a minha presença, “criaram-se várias comissões de trabalho como as que se seguem:
Comissão para a instalação de telefone e marco de correio; Comissão de missa e catequese; Comissão para a instalação de um mercado; Comissão para um posto de enfermagem e creche; Comissão para obtenção de transportes e ainda uma Comissão de Auxílio Mútuo” (A Voz do Pastor, 17/10/1964).
Todas realizaram os seus objetivos, de que são exemplo as seguintes notícias:
- “A Obra Diocesana de Ação Social nos bairros do Porto continua a desenvolver extraordinária actividade junto dos aglomerados populacionais. (…) As iniciativas sucedem-se. Há dias, foi inaugurado um Posto de Enfermagem no Bairro do Cerco do Porto, graças ao magnífico trabalho desenvolvido…” (A Voz do Pastor, 15/5/1965)
- “No dia 2 de abril de 1966, o bairro de S. Roque esteve em festa. Inaugurou-se o Centro de Convívio, o primeiro fruto do trabalho social (…) o que deu motivo a grande regozijo entre os seus moradores” (cf. JN, 4/4/1966)
Criaram-se, ainda, outro Centro de Convívio no bairro do Cerco, a Casa dos Rapazes, a Casa das Raparigas, dois Centros Sociais, o Clube de Pesca do Bairro do Cerco do Porto e o Agrupamento 300 do CNE…
O Presidente da Câmara disse-me “A Câmara procura dar casas às pessoas. Mas isso não basta. É preciso dar-lhes alma. E essa tarefa nós não sabemos nem podemos fazer. Vós, sim. Por isso, vos apoiamos” (Nos Alvores da Obra Diocesana, pág. 39)
Concluindo. Como escreveu a Junta de Freguesia de Campanhã, a Obra Diocesana é “fruto da vontade conjugada da Diocese do Porto, da Câmara Municipal do Porto e do Instituto de Serviço Social do Porto”
Sem esse tripé, a Obra não existiria nem sobreviverá. Faz parte da sua constituição originária. Negá-lo, é renegar a sua história e esquecer todo o bem que ela faz e fez ao longo dos 61 anos de existência.
E quem sofre? – Como diz o povo: ‘é o mexilhão’, quem dela precisa e não tem culpa nenhuma.
- “Meus Senhores, por favor, entendam-se. Exige-o o bem social.”
Este é o clamor das gentes dos bairros camarários e o apelo de quem consagrou onze anos da juventude (1964-1975) ao seu serviço e, por isso, foi agraciado, pela Câmara Municipal, com a ‘Medalha de Mérito – Grau Ouro (9/7/2014) e, pela Obra Diocesana, com a ’Medalha de Mérito, Classe Ouro (6/2/2021).
E merece-o uma Obra que teve na sua direção pessoas como Dr. Francisco Sá Carneiro, Arquiteto Fernando Távora, D. Maria Elisa Acciaiuoli Barbosa.
“A Obra Diocesana é uma obra de e da, mas não para a Igreja.” - A Voz do Pastor, 17/10/1964 (13/5/2025)
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