VAMOS CONHECER PORTUGAL - II - VALE DO TUA
Quando o verão se aproxima…
“Moda do Vale do Tua esgota caminhadas em poucos dias. O vale do rio Tua tem vindo a ser um caso sério de popularidade no contexto turístico de Trás-os-Montes e Alto Douro.” (JN, 10/01/2025)
Este encantamento fez-me recordar a visita que, há mais de vinte anos, fiz a Pombal de Ansiães e às Termas de S. Lourenço, de que dei notícia no jornal local.
Na sede da freguesia, comecei por dar relevo à “padaria onde o senhor Sebastião afavelmente nos acolheu e pudemos consolar-nos com o cheiro apetitoso do pão fresco, aquecer-nos com o lume que saía do forno e testemunhar a higiene e o carinho com que a massa era tratada. E soubemos que muito deste pão iria ser distribuído, também, pelas aldeias vizinhas, chegando mesmo a Alijó”.
Logo a seguir, demorei-me no ‘Lagar de Azeite’ onde fomos cordialmente recebidos pelo senhor Manuel: “Aí, vimos o nascer de uma dádiva da natureza que o homem soube transformar e aproveitar. Como era belo aquele fio de líquido dourado que escorria como produto final de um longo e penoso percurso cujo início nos transportava para os lindos olivais onde assisti ao varejar da azeitona. Terra farta em azeite que, para além de satisfazer as suas necessidades, ainda produz um excedente considerável para vender fora de portas!”.
A conversa com os seus habitantes levou-me a escrever: “E se tiverem a sorte de encontrar pessoas como o senhor António do Pinhal, na frescura dos seus 80 anos, no aprumo do seu porte, no vigor da sua palavra, na malícia dos seus ditos, no bucolismo do seu canto e no requinte do seu bigode… então, nunca mais esquecerão”.
Mas o êxtase estava reservado para o final que assim descrevi:
“Depois foi a descida até às termas de S. Lourenço, o proto-mártir, orago da freguesia e cuja imagem, com a grelha (instrumento do seu martírio) encima o pórtico da igreja paroquial.
E ao chegar a este local paradisíaco, sentimentos contraditórios se entrechocaram: ao deslumbramento sucedeu o desalento e a este sobrepôs-se a esperança.
Deslumbramento, porque a vista alonga-se pelas quebradas dos montes, povoados de oliveiras, e perde-se, lá no fundo, no espumar embravecido das águas nos rápidos do Tua; os ouvidos deliciam-se com a suavidade do chilrear dos pássaros e a musicalidade que sobe lá das profundezas dos desfiladeiros; o olfacto inebria-se com o perfume que as plantas exalam e as águas quentes que brotam da fonte acariciam-nos e amaciam-nos a pele. É o êxtase!... Deus esmerou-se!
Desalento, pelo abandono e pela desolação, porque o homem do presente não soube aproveitar esta dádiva nem merecer o trabalho dos seus antepassados. Estes construíram residências e balneários e pensões e uma linha de caminho de ferro que lhe corre aos pés. E vinham gentes de Lisboa, do Porto e até as pessoas das redondezas aproveitavam para descansarem após os trabalhos árduos das vindimas e para curarem os seus males de pele e de ossos.
Esperança, porque sei que a geração presente não quererá ficar marcada pelo ferrete da ingratidão frente a Deus e aos seus antepassados, nem desmerecer das gerações futuras. (…) E, sonhando, vejo (os turistas) a desvendarem os mistérios da serra.” (O pombal, 24 /01/2002).
Este sonho começou a ganhar corpo, em 2013, com a criação do Parque Natural Regional do Vale do Tua que engloba os municípios de Alijó, Murça, Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães, ‘uma região eminentemente rural, onde o património cultural e natural são praticamente indissociáveis.’
Muita coisa mudou, mas continuam a abundar motivos para as pessoas que gostam ‘de biodiversidade, natureza, gastronomia, tradições e cultura’ e queiram sentir que vale a pena fazer parte deste processo, como disse o diretor do Parque, António Marques.
Para conhecer ‘um mundo que já não existe’, nada melhor que uma visita ao ‘Museu da Memória Rural’ em Vilarinho da Castanheira, e ao ‘Centro Interpretativo do Vale do Tua’, junto da estação do caminho de ferro, na Foz do Tua onde existe um restaurante, com um nome bem típico, que sabe bem visitar… (11/06/2025
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