QUEM SEMEIA VENTOS...
“A PSP está a investigar a brutal agressão, com soqueira, ao ator Adérito Lopes, anteontem à noite, em Lisboa. O presumível agressor, de 20 anos, foi identificado pela Polícia. As autoridades também investigam a eventual ligação do suspeito ao grupo neonazi ‘Sangue e Honra?” (JN, 12/6/2025).
“Três voluntárias foram agredidas, na noite de terça-feira, Dia de Portugal, quando distribuíam comida pelos sem-abrigo da cidade do Porto. Os agressores são dois homens, de 24 e 27 anos, que, fazendo a saudação nazi., terão alegado que as mulheres não podiam dar alimento a estrangeiros. “ (JN, 13/6/2025
Estas agressões hediondas, perpetradas por jovens, levaram-me a interrogar a Inteligência Artificial (ChatGPT) sobre o crescimento dos grupos neonazis na Europa e obtive a seguinte resposta:
“Sim, os grupos neonazis estão a crescer na Europa, incluindo em Portugal, com destaque para o aumento de organizações ligadas a artes marciais e à violência juvenil.”
A propagação desta ideologia assassina fez-me recordar o que vi em Dachau, na Alemanha, e em Auschwitz, na Polónia.
Mais do que falar dos horrores que aí contemplei, prefiro partilhar o testemunho do psiquiatra Viktor E. Frankl que os sofreu nesses dois campos de extermínio e os apresenta no seu livro ‘O Homem em busca de um Sentido’ - “A historia do interior de um campo de concentração, contada por um dos seus sobreviventes”.
Ida para o campo - “Mil e quinhentas pessoas viajavam de comboio há já vários dias e noites: havia 80 em cada carruagem. Tinham todas de se pôr em cima das suas bagagens, dos escassos restos dos seus haveres.”
Chegada ao campo – Foi dito para nos alinharmos de maneira a desfilarmos em duas filas perante um oficial das SS. (…) Tinha a mão direita erguida, e com o indicador dessa mão apontava vagarosamente pra a direita ou para a esquerda. (…)
Chegou a minha vez. (…) E ele voltou os meus ombros muito lentamente até ficar virado para a direita, e fui para esse lado.
O significado do jogo do dedo foi-nos explicado nessa noite. Era o primeiro veredito feito sobre a nossa existência ou não existência. Para a maioria dos que chegara no nosso transporte, cerca de 90 por cento, significou a morte A sentença foi executada nas horas que se seguiram. Os que foram mandados para a esquerda caminharam diretamente da estação para o crematório.”
“Fomos conduzidos à pancada para a antessala contígua aos duches. Aí, reunimo-nos em volta de um homem das SS. E então disse:
Vou dar-vos dois minutos. Nesses dois minutos vão despir-se totalmente e deixar tudo no local onde estão. (…)
Ouvimos então os primeiros sons de chicotadas; correias de pele a bater em corpos nus. De seguida fomos agrupados noutra sala para sermos rapados e não foram só as nossas cabeças que foram tosquiadas, não foi deixado no nosso corpo um único pelo.”
A vida no campo
“Quando as últimas camadas de gordura subcutânea desapareciam, deixando-nos com a aparência de esqueletos cobertos de pele e farrapos podíamos ver nossos corpos começarem a devorar-se a si próprios. O organismo digeria as próprias proteínas e os músculos desapareciam. O corpo ficava então sem qualquer capacidade de resistência. Um a seguir a outro, os membros da pequena comunidade do nosso barracão morreram.”
O último dia do campo - logro e extermínio
“O delegado da Cruz Vermelha assegurou-nos que tinha sido assinado um acordo e que o campo não deveria ser evacuado. Mas nessa noite as SS chegaram com camiões e trouxeram consigo uma ordem para limpar o campo. Os últimos prisioneiros deveriam ser levados para um campo central, do qual seriam enviados para a Suíça, dentro de 48 horas – para serem trocados por prisioneiros de guerra. (…)
Os nossos amigos que naquela noite pensaram estar a viajar rumo à liberdade tinham sido levados em camiões até esse campo e aí chegados foram encerrados nos barracões e queimados até à morte.”
Mais que comentários, deixo-vos num silêncio de horror, o mesmo com que percorri esses ‘campos de morte’.
E pergunto-me:
- Como é possível que esta ideologia assassina atraia a juventude?
- Que mundo estamos a criar?
- Até onde poderá levar-nos o discurso de violência e ódio que campeia na nossa sociedade, envenena as relações de convivência e é apadrinhado na ‘Casa da Democracia’?
- Que posso eu fazer? (2/7/2025)
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