O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, setembro 12, 2025

EDITH STEN EA iNTELIGÊNCIA ESPIRITUAL

No dia em que demos graças por cinquenta anos de cumplicidade, minha esposa ofereceu-me o livro ‘Ser Finito e Ser Eterno’, a principal obra filosófica de Edith Stein, porque, nesse dia, a Igreja celebra a festa de Santa Teresa Benedita da Cruz. Fazia, então, 83 anos que os nazis assassinaram esta filósofa alemã que, na História, ficou conhecida pelo seu nome de família: Edith Stein. Quem é Edith Stein? Filha de judeus praticantes, nasceu em 12 de outubro de 1891, em Breslávia, hoje, da Polónia. Apesar do ambiente religioso em que foi criada, perdeu a Fé ainda jovem. Com a Primeira Guerra Mundial, interrompeu os estudos na Universidade, em 1915, e, voluntária da ‘Cruz Vermelha’, partiu para a Áustria como auxiliar de enfermagem. Em 1916, concluiu o doutoramento com ‘summa cum laude’ - a segunda mulher doutorada em filosofia na Alemanha - e tornou-se assistente do seu professor, o mais eminente filósofo do seu tempo, Edmundo Husserl, pai da Fenomenologia. Em 1921, inspirada por Santa Teresa de Ávila, converteu-se ao catolicismo. E, em 1933, professou, como Carmelita Descalça, no mosteiro de Colónia, onde assumiu o nome de Teresa Benedita da Cruz. Face à ascensão no nazismo, e porque era judia, foi enviada, por precaução, para o Carmelo de Echt, na Holanda. Em 1940, as tropas de Hitler ocuparam a Holanda, e, em 1942, os bispos holandeses, devido às perseguições aos judeus, publicaram uma carta de crítica ao nazismo. Em represália, os nazis encetaram uma perseguição aos judeus convertidos ao catolicismo. Edite e sua irmã Rosa foram presas. Entregues à Gestapo foram levadas para Auschwitz onde chegaram e foram mortas, em 9 de agosto de 1942. Canonizada, em 1998, como Santa Teresa Benedita da Cruz, o papa João Paulo II, proclamou-a, em 1999, co-padroeira da Europa. Se for aprovado o processo em curso, tornar-se-á a quinta ‘Doutora da Igreja’. O que é a ‘Inteligência Espiritual’? É um conceito é bem recente. Surgiu em 2000 com a publicação do livro ‘Inteligência Espiritual”, por Danah Zohar e Ian Marshall. É posterior à morte de Edih Stein e, por isso, ela nunca o utilizou, embora seja um exemplo vivo desta inteligência que envolve o autoconhecimento, a busca de sentido existencial, a capacidade de resiliência, a empatia profunda com os outros, a abertura à transcendência. Com efeito… - Desde muito nova, mostrou uma enorme inquietação pela verdade que a levou a escrever, mais tarde: “Quem busca a verdade, busca a Deus, quer o saiba ou não”. Por isso, esperamos, receberá o título de ‘Doutora da Verdade”. - Na sua obra, a inteligência integra o sentido da transcendência. No ‘Ser Finito e Ser Eterno” escreveu: “Porque o facto inegável de que meu ser é fugaz, que se mantém de momento a momento e que está exposto à possibilidade de não ser, corresponde-lhe outro facto, igualmente inegável que, apesar desta fugacidade, sou e sou mantido no ser e, no meu ser fugaz, abraço um ser que perdura. (…) O nosso ser aponta para o verdadeiro ser. (página 84)” - A sua espiritualidade estava encarnada na vida. Lutou contra a discriminação então vigente na Alemanha que nunca permitiu que ela, por ser mulher, fosse aceite como professora universitária, apesar do seu prestígio. E em 1928, participou em conferências sobre a questão da mulher por toda a Alemanha e países vizinhos. Esta preocupação pelo outro era bem antiga como prova o seu doutoramento com a tese “Sobre o Problema da Empatia”. Em dia de memória e louvor, desejei: - Que a lembrança de Edith Stein nos desperte para os horrores do nazismo que matou milhões de inocentes - só em Aushwitz-Birkenau terão morrido cerca de um milhão e cem mil prisioneiros. - Que a empatia – capacidade de se colocar no lugar do outro – vença a linguagem de ódio que começa a subverter a nossa cultura e a envenenar as relações de convivência. - Que a inteligência espiritual nos faça compreender e pôr em prática as palavras de Jesus: “Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, assim fazei também vós a eles” (Mt 7,12) Somos um povo de emigrantes, como lembrou, em Fátima, o arcebispo-emérito de Urgel na ‘Peregrinação Nacional do Migrante e do Refugiado’, no passado dia 13 de agosto, que nos pediu “coerência histórica e evangélica”. “Os imigrantes têm de ser vistos como uma ‘mais-valia’. “Devemos tratá-los com cuidado, amor e respeito”, disse o Padre Eduardo Duque, no Curso de Missiologia, em Fátima -7Margens, 29/08/2025 VP-10/9/2025)