O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, outubro 01, 2025

NÃO TEMOS O DIREITO DE PERMANECER EM SILÊNCIO

‘Padres e leigos ortodoxos russos insurgem-se contra a guerra.’ Este é o título do texto, assinado por Manuel Pinto, publicado no jornal digital 7Margens, 5/2/2025, que me encantou e, por isso, com vénia, partilho convosco. A notícia: “O dia de Natal na Rússia (7 de janeiro) registou, este ano, um gesto profético: o ‘nascimento’ de uma tomada de posição e apelo apresentado por um grupo de membros do clero e leigos da Igreja Ortodoxa Russa, no qual se rejeita a guerra e se faz uma contundente crítica da orientação adotada pelo Patriarca Cirilo, de Moscovo. “Não temos o direito de permanecer em silêncio.” Fundamentos para esta contestação Das oito teses, todas elas centralizadas em Jesus e nos valores evangélicos, limito-me a referenciar as seguintes: - “Não usarás em vão o nome do Senhor teu Deus.” (…) “O que chama a atenção é a frivolidade com que não só os políticos e jornalistas, mas também os ministros da igreja usam o nome de Deus, na sua retórica, e, destemidamente, atribuem e ditam ao Criador o lado de que Ele deve estar nos conflitos terrestres e qual dos governantes terrenos Ele deveria apoiar.” - “O Reino de Deus” “ É incompatível com a fidelidade a Cristo (…) uma situação em que a Igreja se torna um departamento ideológico do aparelho estatal, que atua como um ‘suporte’ para satisfazer as necessidades políticas de um regime particular.” - “A dignidade humana” “O ser humano está acima da nação, do estado e do partido – e isso não é uma ‘heresia global de adoração humana’, mas uma consequência do ensinamento cristão de que o ser humano é a imagem de Deus. Também por isso, o uso indevido do ser humano como instrumento, como uma peça de engrenagem ou parafuso, como um consumível para o Estado ou outras instituições terrenas é incompatível com os ensinamentos de Cristo.” - “A igualdade das nações perante Deus” “Qualquer subalternização ou menorização de um povo e exaltação de outro ou qualquer forma de messianismo ou autoglorificação nacional é incompatível com o ensinamento de Cristo, especialmente quando, sob o lema ‘Deus está connosco!’, se atribui a um povo o direito de decidir o destino de outros povos. E, por isso, não aceitam que valores e significados cristãos estejam a ser impostos a uma agenda geopolítica, uma ideologia que substitui a fé em Cristo pela fé no ‘mundo russo’, no destino especial do povo russo e do Estado russo.” - “O amor cristão” “Mesmo quando a violência possa ser aceitável, quando é para evitar uma violência maior, mesmo aí não deixa de ser um mal, recordam, para afirmar que ‘qualquer pregação que glorifique a violência, seja ela política ou social, pública ou doméstica, é incompatível com os ensinamentos de Cristo’. Tal como o é ‘declarar uma guerra como ‘santa’…, mesmo que seja uma guerra defensiva. Especialmente se for uma guerra de agressão.” - “A Igreja de Cristo” “Tomando o que diz Mateus (Mt 20: 25-27), sobre o poder como serviço aos irmãos enquanto caraterística das comunidades cristãs, apontam: ‘nem a exaltação dos superiores nem a humilhação dos subordinados, nem a identificação da Igreja com o clero, que degrada os leigos, nem a transformação da hierarquia espiritual num ‘poder vertical’ burocrático – nada disso é compatível com os ensinamentos de Cristo.” - “O ministério da reconciliação” “A Igreja não pode servir de mediadora entre diferentes forças políticas, se apoiar explicitamente uma delas; ou se os seus representantes incitam ao ódio contra outros povos e países em vez de pregar a paz.” Concluindo… Esta corajosa e arriscada tomada de posição mostra que nem toda a Igreja Ortodoxa Russa - Patriarcado de Moscovo - concorda com a invasão da Ucrânia e com o seu patriarca Cirilo que a abençoa. A fidelidade ao Evangelho está acima de qualquer regime político. Em tempo de eleições, que belo exemplo e quão apelativo tema de reflexão… (1/10/2025)