O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, outubro 29, 2025

EM BUSCA DE SENTIDO

Quando se aproximam os dias em que a transitoriedade da vida se nos torna mais presente, levo até vós o livro ‘O Homem em Busca de Um Sentido’. O seu autor, Viktor Frankl, é um psiquiatra austríaco que, durante vários anos, foi prisioneiro e sofreu na pele os horrores dos ‘campos de concentração’ nazis. O meu primeiro contacto com este ‘best-seler’ remonta ao ano de 2006 quando a psicóloga que acompanhava o nosso José Carlos no IPO do Porto aconselhou a sua leitura. Já falei dele no texto “Quem semeia ventos…” (2/7/2025) Agora, retomo-o para me fazer eco de alguns dos seus pensamentos. A vontade do Sentido No campo de concentração, “não importava verdadeiramente o que esperávamos da vida, mas antes o que a vida esperava de nós. Precisávamos de deixar de perguntar pelo sentido da vida e tínhamos, em vez disso, pensar em nós mesmos como aqueles que estavam a ser questionados pela vida – em todas as horas de cada novo dia.” O significado do sofrimento “Não devemos nunca esquecer que podemos também descobrir sentido na vida quando confrontados com uma situação desesperada. Deixem que refira aqui um exemplo claro. Um clínico geral idoso consultou-me certa vez por causa de uma depressão grave. Não conseguia superar a perda da mulher, que tinha amado mais que tudo e que falecera dois anos antes. Perante isso, podia eu ajudá-lo? O que deveria dizer-lhe? Bom, evitei dizer fosse o que fosse e em vez disso confrontei-o com a questão: O que teria acontecido, doutor, se tivesse sido o senhor a morrer primeiro e a sua mulher tivesse de sobreviver sem si?’. ‘Oh’, disse ele, ‘para ela isso teria sido terrível, como teria sofrido!’. E nessa altura retorqui: ‘Está a ver, doutor, esse sofrimento foi-lhe poupado e foi o senhor quem lho poupou – a dizer a verdade, fê-lo ao elevado preço de ter de pagar agora de lhe sobreviver e de a chorar’. Não disse uma palavra, mas apertou-me a mão e deixou calmamente o meu consultório.” A transitoriedade da vida “As coisas que parecem tirar sentido à vida incluem não só o sofrimento como também a morte. Nunca me canso de dizer que os únicos aspetos realmente transitórios da vida são as suas potencialidades; mas, logo que são efectivadas, tornam-se realidades nesse preciso instante; são salvas e entregues ao passado, no qual são resgatadas e preservadas da transitoriedade. Pois, no passado nada está irremediavelmente perdido e tudo fica irrevogavelmente guardado. Assim sendo, a transitoriedade da nossa existência não a torna, de forma alguma, destituída de sentido. Mas constitui de facto a nossa responsabilidade.” O homem não é uma coisa “Há outra ideia que se me afigura como uma pressuposição errada e perigosa, a saber aquilo que designo como ‘pandeterminismo’. Designo com isso a perspetiva do Homem que ignora a sua capacidade para tomar posição relativamente a quaisquer condições. O Homem não é inteiramente condicionado e determinado; pelo contrário, determina-se a si mesmo no momento de saber se cede às condições envolventes ou se lhes faz frente. Um ser humano não é uma coisa entre outras: as coisas determinam-se umas às outras, mas o Homem é, em última instância, autodeterminado. Nos campos de concentração, pudemos testemunhar como camaradas nossos se comportavam como porcos enquanto outros agiam como santos. Afinal de contas, o Homem é esse ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz; no entanto, é igualmente o ser que entrou nas câmaras de gás de cabeça erguida, com o Pai Nosso ou Shema Yisrael nos lábios.” Termino com um pensamento que ilumina o meu entardecer. Que ele também ajude aqueles para quem a vida se vai alongando… “A dizer a verdade, o Homem habitualmente tem em conta somente o restolho do transitório e ignora os celeiros cheios do passado, onde guardou, de uma vez para sempre, todos os seus atos, as suas alegrias e também os seus sofrimentos. “ Não lamentemos a seara que o tempo ceifou, mas alegremo-nos com o celeiro cheio com a vida que vivemos e onde estão os que amámos e, agora, lembramos nas nossas orações... E, por eles, demos graças. (29/10/2025)

terça-feira, outubro 21, 2025

Quando uma brisa de esperança paira sobre a Terra Santa…

O amanhecer da paz na ‘Terra Prometida’ fez-me evocar a presença duma missionária comboniana, na Eucaristia do santuário do Monte da Virgem. (25/1/2025) Depois de falar sobre as missões, ofereceu o ‘n.º 150 do seu jornal ‘evangelizar a voz da mulher na missão’ de que, pela sua pertinência, realço dois artigos: O primeiro, sob o título ‘Construtores da paz precisam-se’, dá-nos conta do trabalho das Irmãs Combonianas, desde 1966. em Betânia, no sudoeste da fronteira com Jerusalém, na Terra Santa. . Informa sobre a finalidade da sua missão: “As irmãs procuram superar as divisões entre Israel e a Palestina. A sua presença missionária visa valorizar e apoiar o trabalho daqueles que, de ambos os lados, fazem um esforço por viver a comunhão e a unidade em tempos difíceis de divisão e violência. Há pessoas de Paz tanto do lado israelita como do lado palestiniano. A sua presença significa também e sobretudo denunciar a violência contra ambos os grupos e reconhecer os direitos de cada povo.” . Testemunha a violência dos ocupantes: “Em 2009, a missão em Betânia sofreu a divisão da construção da muralha na Cisjordânia, pelos israelitas. A residência das irmãs ficou do lado de dentro do muro, na parte controlada por Israel. A paróquia, o jardim infantil, o projecto com as mulheres e as suas outras actividades apostólicas ficaram do outro lado do muro, na área de jurisdição palestiniana. Assim, a casa de Betânia passou a situar-se fisicamente no extremo limite entre palestinianos e israelitas.” . Afirma a necessidade de construir pontes entre os dois povos: “Através desta experiência, as missionárias ganharam consciência da sua posição entre dois povos que se combatem. Uma oportunidade para assumir um papel mediador de maior escuta das injustiças enfrentadas por palestinianos e também a escuta dos medos das famílias israelitas. Trabalhando com pessoas de ambos os lados do muro – desde palestinianos a rabinos empenhados na paz e no diálogo – a comunidade comboniana procura construir pontes de encontro que façam a diferença.” . E exemplifica um dos seus trabalhos: “Na comunidade nasceu, em 2011, o projecto com beduínos, no deserto da Judeia, na Palestina, ao qual se dedicam três irmãs. Percorrem os caminhos do deserto, ensinando às crianças a dinâmica das construções improvisadas. Os jardins de infância tornaram-se centros culturais também para adultos, onde beduínos se reúnem para discutir as questões de suas comunidades.” A humanidade destes testemunhos suscitou em mim um hino de louvor, mas também me deixou o sabor amargo: as televisões, que se enchem com reportagens sobre Judeus e Palestinianos, nunca falaram deste trabalho em favor da paz … Só porque é realizado por religiosas, Se fosse um outro grupo, seria badalado, penso eu. Estarei enganado? O segundo texto intitula-se ‘O testemunho de fé de minha avó’ e narra o trajeto vocacional da Irmã Isabel Maria Pinho, natural de Ovar, que ‘presentemente trabalha com o povo Adu, na diocese de Malindi, no oceano Índico, onde “desenvolve um projeto de agricultura destinado a oferecer às pessoas a alternativa de uma dieta mais equilibrada, incluindo vegetais frescos que as ajudem a prevenir as doenças”. Depois de dar a conhecer o seu percurso familiar e cristão, realça o papel da avó: “A sua avó paterna, Maria do Carmo, era a estrela pela qual Isabel se deixava guiar. Umas vezes orientava-a com bons conselhos, noutras, mostrava-lhe o caminho com o testemunho da oração e com a assiduidade da prática cristã. A sua vocação missionária nasce então dum desejo e de uma vontade. O desejo de querer conhecer mais em profundidade o Jesus da sua fé, que se tornou importante na sua vida de adolescente, e a vontade de o dar a conhecer a outras pessoas. Aos 25 anos, em 2005, Isabel faz a sua consagração a Deus para a missão. Um ano depois parte para o Quénia.” Estas palavras fizeram-me recordar o que o Papa Francisco escreveu na página 49 do seu livro de memórias, Esperança: “Amei muito a minha avó Rosa. Representou para mim um testemunho quotidiano de santidade comum. Foi dela que recebi o primeiro anúncio cristão e foi belíssimo. Ela, que não pudera ir à escola para além da primária, foi para mim uma grande professora. Aquela que selou a minha religiosidade”. Abençoadas avós! E felizes netos!... (22/10/2025)

quarta-feira, outubro 15, 2025

NA HISTÓRIA DA MINHA TERRA, A HISTÓRIA DO MEU PAÍS

Nascemos numa terra e isso não é impune… Este pensamento saltou-me à mente, quando, em 26 de setembro, na sede da Junta de Freguesia de Campo - a minha terra - participava na apresentação do livro “Campo e Sobrado – Duas Freguesias – Notas Monográficas’, de Paulo Caetano Moreira. Como diz o povo, ‘há males que vêm para bem’. Esta obra da Junta surge como fruto maior duma “agregação forçada” que se iniciou em 2012 e agora chegou ao fim. . Ao terminar a sua leitura, lembrei o que dizia o nosso saudoso D. Manuel Martins quando gostava dum livro: “este é para ser comido”: pelo rigor científico, pela documentação investigada, pela abundante informação. Exemplificando… “Da história e da memória coletiva da freguesia de S. Marinho de Campo faz parte o Couto de Luriz.” (pág. 71) Nascido dentro do território desse Couto, bem menino ouvi falar do ‘imposto da Mitra’, reminiscência do foro que as suas terras pagavam ao seu senhor, o Bispo do Porto. E aprendi que fora doado por D. Afonso Henriques, em 1140. A monografia fez-me ver que estava errado porque, em 1140, foi doado, apenas, a “herdade e casal de Luriz”; o Couto só foi criado em 1147. Ao ler os extratos do ‘Catálogo e História dos Bispos do Porto’, fiquei espantado com os nomes referidos, todos eles figuras maiores do início da nossa nacionalidade. Vejamos… - Doação da Herdade de Luriz - 1140 “Rey D. Afonso Heriques deu ao Bispo D. Pedro (Rabaldis) a herdade e cazal de Loris, a instâncias do Arcebispo de Braga D. Joam, que lhe pediu para a Igreja do Porto. (…) Era de Christo 1140. Confirma el Rey a doaçam e assinam nella como testemunhas, Egas Moniz, Garcia Medez. E outros senhores.” - Quem fez a doação? - Afonso Henriques, o conquistador que alargou o nosso território desde Coimbra até aos confins do Alentejo; o conde que conseguiu elevar o Condado Portucalense à dignidade de Reino de Portugal. - Quem pediu? – D. João (Peculiar) - bispo do Porto e arcebispo de Braga - o diplomata, o embaixador de Afonso Henriques que negociou com Afonso VII de Leão e Castela e esteve presente no Tratado de Zamora, em 1143 (fez no pssado dia cinco, 882 anos) que marca o início da nossa independência. E fez 14 viagens a Roma para convencer o Papa a reconhecer, internacionalmente, Portugal como um reino independente, o que veio a acontecer em 1179 com o Papa Alexandre III. Quem testemunhou? – Egas Moniz, o ‘aio’ de Afonso Henriques, que esteve a seu lado na batalha de S. Mamede em 1128 e que, diz a tradição, foi a Toledo com a família, de corda ao pescoço, pedir perdão ao Rei de Castela por Afonso Henriques não lhe prestar vassalagem como tinha prometido aquando do cerco de Guimarães. Este episódio está retratado no seu túmulo no mosteiro de Paço de Sousa. - Carta de doação do Couto – 1147 “Era de Christo 1147. O mesmo Rey D. Afonso Henriques fez huma doaçam ao Bispo D. Pedro 2 em que lhe fez Couto da herdade de Loriz, que avia dado a seu antecessor D. Pedro 1 (…) Assina nella com sua molher a raynha dona Mafalda e confirmam outros muitos senhores.” - Quem assina? Além de Afonso Henriques, a sua esposa, a rainha D. Mafalda. - A quem é feita a doação? A D. Pedro (Pitões), o bispo do Porto que, a pedido de Afonso Henriques, convenceu os Cruzados a irem por mar ajudá-lo a conquistar Lisboa e, com D. João Peculiar, seguiu na armada como garantia do cumprimento das promessas. Sem essa ajuda, Lisboa não seria conquistada. - Em que ano? 1147, precisamente o ano da conquista de Lisboa. Coincidências?...… Sinal maior, a comprovar a importância deste antigo couto, é a ponte medieval sobre o rio Ferreira, por onde passava a via romana que, do Porto, seguia para Penafiel e Entre-os-Rios. Por ela, passaria, com a sua comitiva, a Rainha D. Mafalda, nas assíduas deslocações para o seu paço nas Caldas de Canaveses, cujas ‘águas utilizou’ onde ‘reconstruiu a ‘Ponte de Canaveses’ e edificou a Albergaria e as igrejas de S. Pedro e Santa Maria’. O que torna verosímil a tradição local de que a sua neta, a Rainha Santa Mafalda - que não se sabe onde veio à luz – terá nascido na Cortinha do Porto, deste Couto de Luriz Com o seu presidente, Alfredo Costa Sousa, está de parabéns a Junta de Freguesia de Campo e Sobrado que, com esta publicação, faz memória do passado para que as novas gerações saibam o chão que pisam. Não se ama o que se não conhece… A cada geração a sua tarefa na construção dum mundo mais humano. (15/10/2025)

terça-feira, outubro 07, 2025

POR TERRAS DO FORCÃO...

(Fotografia anexa) Mural em Alfaiates, com o forcão de madeira, do lado direito. O forcão é o instrumento de madeira usado na lide do touro bravo, a capeia. Um grupo de homens, manejando o forcão, provoca e defende-se das arremetidas do touro. Terras do Forcão é a designação que engloba as terras raianas do Sabugal onde se realiza a capeia. “O melhor mural do mundo fica nas Terras do Forcão”. Esta notícia levou-nos a revisitar Alfaiates. Este concelho medieval orgulha-se de, na igreja de S. Sebastião, então a sua matriz, se ter realizado os esponsais (26/3/1328) de D. Maria de Portugal - a ‘formosíssima Maria’ (Os Lusíadas, Canto III, 102), filha do nosso D. Afonso IV - com Afonso XI de Castela que, mais tarde, pediu a ajuda do sogro para a Batalha do Salado ((30/10/1340). E este com tal bravura o fez que ficou na história com o cognome de ‘O Bravo’. O castelo, o pelourinho e a dita igreja testemunham os seus pergaminhos de antanho. Não muito longe, fomos visitar o que resta do santuário de Sacaparte. A igreja, cujas raízes remontarão à época visigótica, tornou- se num dos santuários nacionais mais frequentados quando, em 1321, foi doada à Ordem de São Domingos. O Convento nasceu, em 1726, sob os auspícios de D. João V que deu à igreja a sua feição atual. O concelho do Sabugal, criado em meados do século XIX, que integrou cinco concelhos medievais - Sabugal, Alfaiates e Vila Maior, na margem direita do Côa; Sortelha e Vila do Touro, na margem esquerda - bem merece a nossa visita, apesar da desolação provocada pelos incêndios deste verão Vila Maior Após Sacaparte, dirigimo-nos para este antigo concelho que fazia parte do reino de Leão até à sua integração definitiva em Portugal, com o Tratado de Alcanizes, em 1297. A muralha será do século XI/XII. Em 27 de novembro de 1296, D. Dinis concedeu-lhe carta de foral e acrescentou ao castelo a torre de menagem. D. Manuel I renovou o foral da vila, em 1 de junho de 1510, época de que datará o pelourinho. Para além do castelo e do pelourinho, mereceu-nos atenção especial as ruínas da igreja gótica de Santa Maria do Castelo e uma ponte medieval sobre o rio Cesarão. Sabugal Contiuando na margem direita, seguimos para a sede do concelho – Sabugal – e maravilhámo-nos com o seu castelo que, de dia, espanta pela sua imponência, e, de noite, iluminado, transporta-nos para um conto de fadas… A partir do Sabugal, com uma paragem no ‘viveiro de trutas’, subimos à serra da Malcata e das Mesas para beber na fonte onde nasce o rio Côa, Sortelha Refrescados e extasiados pela amplitude da paisagem, descemos, cruzámos o rio, e demandámos em busca desta povoação amuralhada num ponto estratégico da maior relevância na defesa da fronteira antes do Tratado de Alcanizes e a integração da Comarca de Ribacoa no território português. Testemunhos da sua grandeza são o castelo roqueiro debruçado sobre o vale do Côa, o pelourinho manuelino e casa da Câmara. Bem significativa da sua importância comercial são as medidas medievais - a vara e o côvado - gravadas na ombreira da porta da muralha virada a ocidente. Vila de Touro Também esta povoação, que foi sede de concelho desde o século XIII até aos meados do século XIX, perdeu importância estratégica com o Tratado de Alcanizes. Do seu castelo, subsistem apenas dois panos de muralha. Em 1319, a Vila do Touro, com a extinção da Ordem do Templo, passou para a Ordem de Cristo, tendo visto o seu foral renovado por D. Manuel, em 1510. Para além do castelo, o que mais nos captou a atenção foram os diversos tabuleiros de jogo gravados nas rochas e as janelas manuelinas que ornamentam muitas casas dos ‘monges militares’, os seus Senhores a partir do século XIII. E, para recuperar de tão ásperos caminhos, nada melhor que um banho na piscina lúdica da estância termal do Cró que lhe fica próximo… (8/18/2025)

quarta-feira, outubro 01, 2025

NÃO TEMOS O DIREITO DE PERMANECER EM SILÊNCIO

‘Padres e leigos ortodoxos russos insurgem-se contra a guerra.’ Este é o título do texto, assinado por Manuel Pinto, publicado no jornal digital 7Margens, 5/2/2025, que me encantou e, por isso, com vénia, partilho convosco. A notícia: “O dia de Natal na Rússia (7 de janeiro) registou, este ano, um gesto profético: o ‘nascimento’ de uma tomada de posição e apelo apresentado por um grupo de membros do clero e leigos da Igreja Ortodoxa Russa, no qual se rejeita a guerra e se faz uma contundente crítica da orientação adotada pelo Patriarca Cirilo, de Moscovo. “Não temos o direito de permanecer em silêncio.” Fundamentos para esta contestação Das oito teses, todas elas centralizadas em Jesus e nos valores evangélicos, limito-me a referenciar as seguintes: - “Não usarás em vão o nome do Senhor teu Deus.” (…) “O que chama a atenção é a frivolidade com que não só os políticos e jornalistas, mas também os ministros da igreja usam o nome de Deus, na sua retórica, e, destemidamente, atribuem e ditam ao Criador o lado de que Ele deve estar nos conflitos terrestres e qual dos governantes terrenos Ele deveria apoiar.” - “O Reino de Deus” “ É incompatível com a fidelidade a Cristo (…) uma situação em que a Igreja se torna um departamento ideológico do aparelho estatal, que atua como um ‘suporte’ para satisfazer as necessidades políticas de um regime particular.” - “A dignidade humana” “O ser humano está acima da nação, do estado e do partido – e isso não é uma ‘heresia global de adoração humana’, mas uma consequência do ensinamento cristão de que o ser humano é a imagem de Deus. Também por isso, o uso indevido do ser humano como instrumento, como uma peça de engrenagem ou parafuso, como um consumível para o Estado ou outras instituições terrenas é incompatível com os ensinamentos de Cristo.” - “A igualdade das nações perante Deus” “Qualquer subalternização ou menorização de um povo e exaltação de outro ou qualquer forma de messianismo ou autoglorificação nacional é incompatível com o ensinamento de Cristo, especialmente quando, sob o lema ‘Deus está connosco!’, se atribui a um povo o direito de decidir o destino de outros povos. E, por isso, não aceitam que valores e significados cristãos estejam a ser impostos a uma agenda geopolítica, uma ideologia que substitui a fé em Cristo pela fé no ‘mundo russo’, no destino especial do povo russo e do Estado russo.” - “O amor cristão” “Mesmo quando a violência possa ser aceitável, quando é para evitar uma violência maior, mesmo aí não deixa de ser um mal, recordam, para afirmar que ‘qualquer pregação que glorifique a violência, seja ela política ou social, pública ou doméstica, é incompatível com os ensinamentos de Cristo’. Tal como o é ‘declarar uma guerra como ‘santa’…, mesmo que seja uma guerra defensiva. Especialmente se for uma guerra de agressão.” - “A Igreja de Cristo” “Tomando o que diz Mateus (Mt 20: 25-27), sobre o poder como serviço aos irmãos enquanto caraterística das comunidades cristãs, apontam: ‘nem a exaltação dos superiores nem a humilhação dos subordinados, nem a identificação da Igreja com o clero, que degrada os leigos, nem a transformação da hierarquia espiritual num ‘poder vertical’ burocrático – nada disso é compatível com os ensinamentos de Cristo.” - “O ministério da reconciliação” “A Igreja não pode servir de mediadora entre diferentes forças políticas, se apoiar explicitamente uma delas; ou se os seus representantes incitam ao ódio contra outros povos e países em vez de pregar a paz.” Concluindo… Esta corajosa e arriscada tomada de posição mostra que nem toda a Igreja Ortodoxa Russa - Patriarcado de Moscovo - concorda com a invasão da Ucrânia e com o seu patriarca Cirilo que a abençoa. A fidelidade ao Evangelho está acima de qualquer regime político. Em tempo de eleições, que belo exemplo e quão apelativo tema de reflexão… (1/10/2025)