OS ANO ATENUAM A DOR, MAS AVOLUMAM A SAUDADE...
"Viver mais tempo do que o seu filho não é natural" (Papa Francisco, 31/10/2024)
Quinze anos são passados… E o teu sorriso continua a iluminar-nos a saudade…
Há uns meses, a Clarinha disse-nos: - ‘Quando for grande, quero ser veterinária, como o tio Zé”.
Invoquei esta conversa na Eucaristia em que celebrámos mais um aniversário da tua partida para o Pai.
A vida sorria-te. Apaixonado pelo exercício físico, praticaste natação no Porto e andebol no Vigorosa. No ICBAS, criaste o grupo de futebol a que, com o teu humor sempre presente, chamaste “Cinco Vacas Loucas e um Atum” – era o tempo da doença das ‘vacas loucas’ e a equipa era formada por alunos de ‘Veterinária’ e de ‘Ciências do Meio Aquático’.
O desporto deu-te uma forte compleição física. Porém, em 2004, começaste a sentir dores nas costas que atribuías ao esforço na tua atividade profissional.
Tinhas acabado o curso de Veterinária, com uma especialização em pequenos animais, em Bristol e já trabalhavas em clínicas da Maia e de Espinho.
A tua paixão pelos animais de companhia, contagiou toda a família. E os gatos encheram as nossas casas: Tucha, Aia, Shakty e Ruça. Ao ponto de o teu avô, um dia, ser ouvido a dizer: “Ruça, nós estamos velhos; não sei o que vai ser de ti quando morrermos’ E tu brincavas com ele: “Avô, se fosse possível deixar a herança aos animais, já estava deserdado!...”
Na véspera do casamento do teu irmão, fomos buscar os resultados dos exames clínicos que havias feito. Foi, então, que soubemos que tinhas um tumor maligno no ilíaco. E decidiste nada dizermos, mesmo à mãe, para não estragar a festa do João Miguel e da Eliana.
Nessa noite, ao jantar com amigos, ainda tiveste forças para seres, como sempre, o animador com a piada certeira, a espontaneidade do teu humor, a alegria das tuas gargalhadas. E na celebração do casamento, eras o padrinho feliz que sorria para os noivos. O teu rosto não deu sinais de tristeza. Ainda agora os olhos se me humedecem quando recordo os olhares cúmplices que trocávamos entre nós…
Iniciaste então a tua “via-sacra” que passou por sucessivas sessões de Químio e Rádio no IPO do Porto; pelo Instituto Rizzoli em Bolonha com seis cirurgias; pelo Hospital Universitário de Lovaina na Bélgica; por visitas a especialistas de Barcelona e Londres; por incontáveis idas à urgência.
A mãe foi sempre a tua companheira, enquanto eu mantinha a minha atividade docente, sem qualquer falta, de tal modo que só os mais próximos se aperceberam da nossa situação.
Durante os meses que estiveste em Bolonha, metia-me no avião na 6.ª feira e regressava no domingo. E, só após a primeira chamada dos exames nacionais, é que fiquei convosco.
A última vez que foste para o hospital, estava eu a trabalhar e só no fim das aulas é que li o SMS da mãe: “O Zé sentiu-se mais mal, ao almoço não venhas para casa, vai ter connosco ao IPO”. E não mais voltaste…
Como te sentias reconfortado e agradecido. Jamais esquecemos as tuas palavras: ´Vós sois duas árvores tombadas, a vossa sorte é que caíste uma sobre a outra e , por isso, vos aguentais de pé’…
No teu longo calvário, nunca tiveste uma palavra de revolta e, nos momentos mais duros, o teu maior queixume era: ‘Estou triste’.
Nas horas mais horríveis em Bolonha, rezavas o terço. Quando te sentias melhor, levávamos-te à igreja onde participavas na Eucaristia. Aí, te ofereceram a medalha de Nª Senhora que, com o “tau franciscano”, sempre te acompanhou, até no caixão. A “maca” era o altar do teu sacrifício.
Partiste. E o sorriso que te iluminava o rosto permanece vivo naqueles que te amam. E a tua memória vive no carinho dos sobrinhos que não chegaram a conhecer-te. (29/1/2025)