VAMO CONHECER A NOSSA TERRA - (V) - ENTRE O LEÇA E O ONDA
No primeiro aniversário da morte do P. Pedro Gradim, inicio esta viagem em Leça do Balio onde foi pároco durante décadas e veio a falecer.
Estamos na frente de “um dos mais notáveis exemplares da nossa arquitetura guerreira-religiosa da Idade Média, um admirável templo gótico do séc. XIV”, como o P. Pedro disse quando (23/5/2018), recebeu e guiou o grupo Boa Memória na visita à sua igreja/mosteiro.
Já em 1003 há notícias de um mosteiro que D. Teresa, mãe do nosso primeiro Rei, veio a doar, no séc. XII, à Ordem Militar dos Hospitalários (Ordem do Crato, Ordem de Malta) que fez dele a sua sede.
Mais do que a monumentalidade do edifício e a lembrança do casamento de D. Fernando com Leonor Teles (15/5/1372), mergulhei nas minhas memórias pessoais.
Recuei ao ano de 1959 em que, por convite do então vice-reitor do seminário da Sé, Dr, Manuel Martins, natural desta freguesia, aqui vim tirar o compasso.
E não pude ignorar o Coro Gregoriano do Porto que, para além dum concerto de homenagem a D. Manuel Martins, aqui veio cantar nas suas exéquias.
E ao olhar a residência paroquial, lembrei o P. Pedro que, nas ‘bodas de prata’ da ordenação presbiteral, convidou os condiscípulos para uma celebração eucarística na capela do seminário da Sé a que se seguiu o almoço nesta casa paroquial. Como recordo a felicidade com que nos mostrou as obras da paróquia.
Se Leça do Balio é terra de remotas origens, bem mais antigo é o castro do Monte Castelo ou de Guifões, o primeiro lugar habitado do atual concelho de Matosinhos.
Da ‘Idade do Ferro’, foi habitado durante mil anos - desde o século V a. C. até ao século V d. C.. Importante entreposto comercial situado junto do estuário do rio Leça, aí chegavam mercadorias vindas do mar e daí partiam produtos trazidos da terra.
Quando o visitei estava encoberto por silvas e arbustos e sem qualquer placa indicativa. Valeu-me o senhor Joaquim que cultiva umas hortas nas margens do Leça junto das ruínas da ponte medieval derrubada pelas cheias de 1978/79…
Em Matosinhos, demorámo-nos na igreja matriz, um esplendoroso templo (séc. XVI), com a fachada barroca (sé. XVIII) de Nicolau Nazoni, em cujo altar-mor, magnífico de talha dourada, se destaca a imagem do ‘Senhor de Bouças/Matosinhos’, do séc. XII/XIII.
Próximo da praia, admirámos o monumento barroco do ‘Senhor do Padrão’, no local onde, segundo a lenda, terá aparecido, em 3 de maio de 124, a imagem do ‘Senhor de Matosinhos’.
Seguiu-se a mítica ‘Boa Nova’. No rochedo por detrás da Casa de Chã, de Siza Vieira, lemos a quadra de António Nobre, o poeta ultrarromântico (1867-19000): “NA PRAIA LÁ DA BOA NOVA, um dia /Edifiquei (foi esse o grande mal) /Alto Castelo, o que é a phantasia/ Todo de lapis-lazzuli e coral”
No miradouro por detrás da capela, alongámos o olhar pelo esverdeado do mar que, nos confins do horizonte, se confundia com o azul do céu. Deixámo-nos ficar em silêncio a ouvir as ondas que marulhavam a nossos pés. E veio-me à mente o livro de S. Boaventura, ‘Itinerário da Mente para Deus’…
Reconfortados, prosseguimos por caminhos da história e parámos na praia da Memória, junto do obelisco inaugurado em 1840, onde uma placa explica a razão do seu nome: “Em honra de Sua Majestade Imperial Dom Pedro , Duque de Bragança – primeiro Imperador do Brazil e quarto Rei deste nome em Portugal – Comandante em chefe do Exército Libertador aqui desembarcado em oito de Julho de mil oitocentos e trinta e dois – Para restituir o throno a sua Augusta Filha – a Rainha reinante Dona Maria Segunda e a Liberdade aos Portuguezes - se erigiu este padrão para perpétua memória”.
E o passeio terminou na praia de Angeiras nos tanques que os Romanos cavaram nas rochas para salga do peixe onde produziam o famoso ‘garum’ (molho de peixe) que levavam para Roma.
E termino com uma invocação como iniciei… Porque estava em Lavra, terra do P. José Domingues, pároco de Labruge, Aveleda e Vilar do Pinheiro, rebobinei a fita do tempo até julho de 1972 e lembrei a sua missa nova. Pareceu-me ainda ver sorrisos de felicidade no rosto de toda a gente… Como sabe bem recordar… (24/7/2024)