NOSSA SENHORA - RAINHA DO ADVENTO
Bem cedo nasceu em mim o desejo de conhecer as origens da nossa matriz cultural, greco-romana e judaico-cristã.
Foi, pois, com emoção que, no Jubileu, do ano 2000, visitei, na Terra Santa, os lugares matriciais do cristianismo a começar em Belém, passando por Nazaré e rio Jordão, e terminando em Jerusalém.
Seguiu-se Roma e Atenas. No verão passado, chegou a vez de visitar a Jónia da antiga Grécia, berço da filosofia ocidental - Tales, Anaximandro e Anaxímenes, de Mileto; Heráclito, de Éfeso, Pitágoras, de Samos - e Creta onde “floresceu a cultura minoica, a primeira grande civilização da Europa.”
No entanto, mais do que falar da Cultura Clássica, quero dar-vos nota dos locais que me transportaram para os tempos primordiais da nossa Fé.
A Casa da Virgem Maria
S. João diz-nos no seu Evangelho que Jesus, na cruz, lhe confiou Sua Mãe (Jo.19,27).
Os ‘Atos dos Apóstolos’ narram as perseguições em Jerusalém, após a morte de Jesus: Santo Estevão morreu apedrejado (At, 7,59) e São Tiago Maior, irmão de S. João, foi decapitado (At 12,2).
Entretanto, os Apóstolos dividiram o mundo para pregar o Evangelho. A S. João foi atribuída a Ásia Menor, e, ele, para cumprir a ordem do Mestre, trouxe consigo a Virgem Maria para Éfeso, a terceira maior cidade romana, após Roma e Alexandria, onde fundou a primeira comunidade cristã da cidade.
Temendo que a ‘Mãe’ corresse perigo, construiu, dentro dos bosques da montanha Bulbul, não longe da cidade, uma casa onde escondeu a Virgem Maria que, aqui, viveu e veio a morrer. Por isso, é conhecida como ‘Casa de Maria’. Também, nela viveu S. João até à sua morte, exceto enquanto esteve exilado em Patmos.
É considerada local sagrado pelos cristãos (católicos e ortodoxos) e muçulmanos que veneram Maria (Meriyem Ana) como mãe do profeta Jesus.
O Papa João XXIII declarou-a lugar de peregrinação. Em 1967, o papa Paulo VI visitou-a. Também aí estiveram João Paulo II, em 1979, e Bento XVI, em 2006. O Papa Francisco não chegou a visitá-la, mas, na sua viagem à Turquia em 2014, referiu-a como um sítio sagrado de grande significado para cristãos e muçulmanos.
(Fotografia - A Casa da Virgem Maria, em Éfeso)
A casa é uma pequena capela. A entrada faz-se por uma estreita porta abobadada. Na ábside, está uma estátua em bronze da Virgem Maria. Do lado direito, conserva-se um habitáculo que seria o dormitório da Virgem.
II – A Gruta do Apocalipse
“”Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência por Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Num domingo, fui arrebatado em espírito e ouvi, por trás de mim, voz forte com trombeta que dizia: ‘O que vês escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodiceia.”(Ap 1,9)
S. João, durante a segunda perseguição do Imperador Domiciano (95 d. C), foi desterrado para Patmos, uma ilha usada pelo Império Romano para exílio dos prisioneiros.
Vivia numa das numerosas grutas que nela abundam e foi precisamente numa delas que recebeu a milagrosa Revelação Divina. ‘Dentro da cova, o Evangelista ouviu a mensagem e ditou-a ao seu discípulo Prócoro que a escreveu com mão trémula’.
A gruta onde, segundo a tradição, esta Revelação aconteceu - “Gruta do Apocalipse” - converteu-se num local de peregrinação. A caverna, numa semipenumbra, abriga uma capela dedicada a Santa Ana, com vários ícones e turíbulos de incenso que lhe emprestam uma atmosfera mística e devocional.
Aí, estão preservados os locais onde S. João apoiava a cabeça para dormir e a mão ao levantar-se. Merece especial atenção o ícone de S. João o Teólogo.
Em 1999, foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO
Dois lugares de peregrinação para os cristãos, um – Casa de Maria – entregue, desde a sua restauração em 1950, aos frades Capuchinhos; outro – Gruta do Apocalipse - a cargo Mosteiro de São João o Teólogo que, desde que foi criado em 1088, sempre foi habitado por monges ortodoxos.
O mesmo Apóstolo, mas duas confissões cristãs. Qual o fundamento para esta divisão? Não, a grandeza de Deus; sim, a pequenez dos homens…
Que os 1700 anos do Concílio de Niceia e a recente viagem do Papa Leão XIV, à Turquia, possam ajudar a esbater as barreiras que separam os discípulos que, no Natal, festejam o Menino e veneram Sua Mãe.(VP, 17/12/2025)