'DESTRUÍDA PELA SUA DESCOBERTA SALVADORA'
Em 2013, fizemos uma viagem à Polónia para conhecer Wadowiche, a terra natal do Papa João Paulo II, e Cracóvia, a cidade de que foi arcebispo. Aterrámos em Varsóvia de que guardo três imagens: o Gueto de Varsóvia, onde morreram milhares de Judeus; o monumento a Chopin, o grande compositor romântico, daí natural; e a casa em que nasceu a primeira mulher a ganhar um Prémio Nobel e a única a ganhá-lo duas vezes em dois campos científicos diferentes: Física, em 1903, e Química, em 1911.
Lembrei-me desta viagem, ao ler a biografia ‘Marie Curie Na Noite da Ciência (1867 – 1934)”, a segunda do livro ‘Vinte Grandes Mulheres do Século XX’, de Inês Pedrosa que me ajudou a responder à pergunta:
Quem é esta polaca, chamada Marie Sklodowska que, por casamento com Pierre Curie - cientista que, com ela, recebeu o Prémio Nobel da Física – se fez também francesa e ficou conhecida como Madame Curie?
- Uma vida difícil
. Na infância - “No ano em que Maria veio ao mundo (1867), a Polónia russa perdeu até o nome que tinha: chamava-se agora ‘território do Vístula’. A língua russa foi imposta, e os polacos – entre os quais seu pai – foram progressivamente substituídos por russos em todos os cargos públicos.” (…)
O jugo russo foi roubando tudo à família: o pai começou por perder o lugar e a casa de professor oficial e acabou por ter de transformar o minúsculo casinhoto da família num pensionato de estudantes: aos seis anos, Maria dormia na sala e tinha de ter a cama feita às seis da manhã.”
. Na adolescência - Quando trabalhava como perceptora duma família rica, escreve a uma prima:” Não desejo nem ao meu pior inimigo que viva num inferno destes”. (…)
. Casada - “Pierre e Marie viviam mal, quase miseravelmente”.
. Viúva, devido a um relacionamento amoroso com um cientista casado, “a multidão moralista cercava-lhe as janelas, atirava-lhe pedras aos vidros, espumante de raiva: - Fora com a estrangeira!” (…) A Sorbonne incendiava-se: queriam retirar-lhe a cátedra, tentavam forçá-la a ir para a Polónia”.
- Um coração bom e humilde …
. “Aos dezassete anos, decidiu empregar-se para pagar os estudos da irmã Bronia, então com vinte. A irmã ainda hesitou em sacrificar desta forma Maria, mas ela foi taxativa: ‘Sejamos eficazes. Eu sou mais nova, posso esperar cinco anos.” (…)
. “Vivia com grandes dificuldades materiais – chegou mesmo a não ter dinheiro para os selos das cartas que gostaria de escrever. Aguentou tudo por amor aos irmãos: ‘É preciso que vocês os dois, pelo menos, orientem a vossa vida conforme os vossos dons (…) Quanto mais tenho pena de mim mesma, mais esperança tenho em vocês”.
- Solidária e benemérita…
. “Quando recebeu o primeiro pagamento (por um trabalho que lhe encomendaram em 1897) foi imediatamente reembolsar a Fundação Alexandrovitch de Varsóvia que lhe concedera a bolsa – reembolso que não estava previsto, mas que ela considerava um elementar dever de solidariedade social para permitir o aumento do número de bolseiros.”
. Quando, em 1914, rebentou o Primeira Guerra Mundial, Marie não só doou à França o que lhe restava do dinheiro dos Prémios, como, com a ajuda da filha Irène, então com dezassete anos (viria a ser a segunda mulher a receber um Prémio Nobel), organizou um serviço público de aparelhos de Raios X móveis, em ambulâncias francesas, que beneficiou um milhão de soldados feridos”.
- Generosa e desprendida:
“Marie recusou uma patente para a técnica de extracção e purificação do rádio que inventara, alegando que o rádio pertencia a todos os que quisessem usá-lo. Ou seja, recusou a fortuna que outros construiriam sobre a sua descoberta”.
- Vítima das suas descobertas:
“Porque se sentiriam os Curie tão cansados, mesmo durante as férias? (…) Não imaginavam que começavam a estar afectados pela radiação das substâncias activas que manipulavam. (…) Morrera a 5 de Julho de 1934, destruída pelas sua descoberta salvadora.”
- Uma pioneira:
“Madame Curie criara, mais do que uma revolução na ciência, uma nova linhagem de mulheres: as que não abdicam da inteligência criadora só por serem mulheres.”
(26/2/2025)