Olho por olho…

Uma semana atrás, visitei, em Toledo, a sinagoga de “Santa Maria”, do século XII.
Surpreendeu-me ver nela sinais claros da arquitectura islâmica: as cinco naves correspondentes aos cinco mandamentos fundamentais do Corão e os arcos em ferradura.

Perante a minha admiração, o guia explicou que foram os judeus que a mandaram edificar mas foram os muçulmanos que a construíram. Nessa época, em Toledo, judeus e muçulmanos conviviam em paz.
Chegado ao Porto, logo no dia 24 de Março, os jornais noticiavam: “Atentado no centro de Jerusalém faz um morto e 39 feridos”.
Este contraste fez-me recordar a afirmação que, há uns anos, ouvira a propósito do conflito Israelo-Árabe: “eles nunca se entenderão" porque são povos semitas com a mesma matriz cultural que se sintetiza na lei de talião: “olho por olho, dente por dente. Não sabem perdoar. Jesus, ao pregar e ao praticar o perdão, marginalizou-se da cultura do seu povo. Essa foi a grande novidade do Evangelho.
Confesso que, então, considerei exageradas estas afirmações, apesar do crédito que me merecia quem as proferiu. Por isso, a minha agradável surpresa na sinagoga toledana e a minha desilusão perante este novo atentado em Jerusalém.
Na passada 5ª feira, visitei uma sinagoga e pedi um comentário às afirmações que citei.

Foi-me, então dito que, de facto, Judeus e Árabes têm a mesma matriz cultural porque descendem de Abraão: os Judeus através de Isaac, filho de Sara, esposa de Abraão e os Árabes por Ismael, filho da escrava Agar.
Mas o que se passa entre Israel e os Árabes é uma simples questão de herança. Aquela terra, “Terra da Promessa”, foi dada por Deus aos Judeus. Eles têm obrigação de defender essa dádiva de Javé como uma herança de família. Não há que dar a outra face. Se atacados, têm que a defender com armas e a própria vida, se necessário. Por sua vez, os Árabes consideram que essa terra lhes pertence porque foi conquistada e habitada pelos seus antepassados. Daí o seu direito e a obrigação de lutarem pela sua posse.

Sabendo nós
que Jerusalém é “Cidade Santa” para Judeus e Árabes…
que o Monte do Templo é o espaço mais sagrado dos Judeus e é no “muro das lamentações” que se congregam em oração Judeus de todo o mundo...
que as mesquitas Al Aqsa e a de Omar, construídas sobre esse Monte, são os símbolos do movimento nacionalista palestiniano…
que a Mesquita Al-Aqsa é das mais sagrada dos muçulmanos por, nesse local, Maomé ter ascendido ao céu…
que a Mesquita de Omar é para os Judeus a “Cúpula da Rocha” por dentro dela estar a pedra onde Abraão iria sacrificar Isaac…
Ficam as dúvidas:
será que o conflito israelo-palestiniano terá solução?
E Jerusalém, a cidade onde morreu e ressuscitou o “Príncipe da Paz”, está condenada a ser o pomo da discórdia destes dois povos?
CONTRADIÇÕES...