VAMOS CONHECER A NOSSA TERRA - VII - POR TERRAS DA MAIA
Com a primavera, nada melhor que um passeio…
A ‘Terra da Maia’ formou-se bem antes da reorganização do Condado Portucalense (1096). Por mais de cem anos, permaneceu, na posse da família Mendes da Maia que muito contribuiu para a formação e independência de Portugal. Com destaque para Gonçalo Mendes da Maia (II) – o Lidador – que comandou os nobres portucalenses na batalha de S. Mamede, em 1128, contra o exército de D. Teresa e de Fernão Peres de Trava, dando origem, no dizer de Damião Peres, à ‘Primeira Tarde Portuguesa’. Esteve, ainda, na conquista de Beja onde era ‘fronteiro’ quando morreu (1170) em luta contra os Mouros.
”No seu todo, a Maia, na Idade Média, era um quadrilátero grosseiro, com vértices na foz do Ave, em Azurara, a noroeste; na ponta nascente de S. Martinho de Bougado, contra Refojos, a nordeste; na desembocadura do Douro, em S. João da Foz, a sudoeste; e na foz do rio Tinto, também na margem do Douro, a sudeste.”
A leste, incluía Rio Tinto, Valongo, Alfena, Folgosa (a única que continua a ser maiata) e Covelas, que confrontavam com a ‘Terra do Sousa’.
Nesta vasta região, só o “Porto, confinado ao velho burgo medieval” e alguns coutos e honras escapavam ao seu domínio.
Macieira da Maia é testemunho desta extensão pois, embora do atual concelho de Vila do Conde, mantém, no nome, a sua velha pertença.
Por isso, iniciamos este nosso passeio na ‘Ponte Românica do Ave’ também conhecida por ‘Dom Zameiro’ - a porta de entrada nas Terras da Maia. Construída nos séculos XII/XIII, possui oito arcos, com potentes talha-mares, a montante.
É idílico este lugar, embora já não tenha o bucolismo de antanho quando, a jusante, as águas acionavam os rodízios do moinho e movimentavam a nora que as elevava para os campos ribeirinhos.
Seguimos para o ‘Castro de Alvarelhos’, com vestígios da ‘Idade do Bronze’. Na ‘Idade do Ferro’, chamava-se ‘Castelum Madiae’ e foi romanizado no século I d.C.. Por aqui, viveu o povo madequisense que, devido a uma evolução fonética, está na origem do nome Maia: Madea > Madia > Maia. Mereceu-nos especial atenção o ‘núcleo calaico-romano’. Vale a pena uma visita pela riqueza do património, pela pureza do ar e pela beleza da paisagem.…
Para conhecer melhor a história destas terras e suas gentes, visitámos, no Castelo da Maia, o ’Museu. História. Etnologia da Terra da Maia’, no edifício onde, até 1902, funcionou a Câmara Municipal da Maia. Pelo seu espólio e pela sua organização museológica, bem merece a nossa visita.
Porque o espaço não me permite, limito-me a referenciar:
- A ‘Perda Partida de Ardegães’ (Águas Santas) um bloco de granito, com inúmeras gravações com motivos geométricos - exemplar notável da arte megalítica europeia - Com cerca de 5 000 anos, remontará à Idade do Bronze.
- A ‘Ara dos Madequisenses – Inscrição de Alvarelhos, do século IV d. C., diz: “Os Madequisenses erigiram e de livre vontade este monumento…” É da maior importância para a história do nome da Maia pois faz referência, como já dissemos, ao povo que estará na sua origem.
E terminámos na igreja de Nossa Senhora do Ó ou de Águas Santas’, reedificada em 1120. É o que resta do antigo mosteiro cuja primeira referência data de 974 e que subsistiu até meados do século XIX. O povo não o esqueceu e continua a designar a igreja por ‘mosteiro’.
Com realce para as colunas e colunelos, pórticos e janelas, capitéis e cachorradas, frisos e arquivoltas, de estilo românico, ainda apresenta, na nave lateral, dois capitéis visigóticos. Mais que uma descrição, merece ser vista no local.
“Não restam dúvidas que a ‘cabeça’ da Terra da Maia (onde viveram os Mendes da Maia) era no hoje designado ‘Monte do Castelo’, na freguesia de Águas Santas.”
Razão tiveram os antigos em chamar à coroa desse monte o Alto da Maia e os modernos em abrir, bem perto, a avenida Lidador da Maia
A toponímia é de facto, um precioso repositório histórico… (9/4/2025)