O AMOR É O CHÃO QUE NOS SUSTENTA...
No dia 16 de agosto, assisti, na casa de um amigo, ao programa “Em Casa d’Amália” transmitido pela RTP1, a partir de Moura.
Quando o fadista Ricardo Ribeiro, ao cantar ‘Fado Menor”, disse “Cada um é para o que nasce E eu nasci para o fado”, ouvi uma senhora, já bisavó, sussurrar para o marido: - Eu não nasci para o fado, eu nasci para ti e tu para mim”.. E este, emocionado, afagou-lhe, ternamente, o rosto.
Logo a seguir, FF cantou “Como é bom esperar alguém”, a canção da sua autoria com que concorreu ao Festival da Canção de 2022, que diz:
“Eu não sei rezar, mas sei que amar é uma prece. (…)
Um dia, velhinhos livres de esperar, voamos do ninho pra no céu morar.”
Quase no final, Miguel Moura, após afirmar que o povo de Moura ama muito a sua padroeira, pôs os seus conterrâneos a cantar em coro o cântico que acompanha a procissão na sua festa. Foi emocionante ver uma praça inteira, com um sorriso no coração, a cantar em uníssono: “Nossa Senhora do Carmo, que está no seu altar todos lá vamos rezar, e a cantar, a cantar, vamos rezar.”
Estes factos foram para mim ‘sacramentos’ (Leonardo Boff), porque, na sua imanência transpareceu a transcendência, e eu lembrei o que escreveu Edith Stein – a santa de quem falei na semana passada - a respeito da coerência que subjaz à vida humana e a toda a criação.
Começa por afirmar: “A coerência da nossa própria vida é, talvez, a mais adequada para mostrar o que se quer dizer. Em linguagem coloquial, diferencia-se entre o que fazemos ‘segundo um plano’ (e isto equivale ao que ‘faz sentido’ e é ‘compreensível) e o que acontece ‘por casualidade’ que parece sem sentido e por isso ‘incompreensível”.
Exemplifica: “Pensei realizar um determinado estudo e, para isso, procurei uma universidade para o fazer. Isto tem sentido e é compreensível. Num certo dia, conheço uma pessoa que, ‘casualmente’ estuda na mesma universidade e converso com ela acerca da visão do mundo. Isto não me parece, à primeira vista, algo coerente e compreensível. Porém, passados uns anos, ao refletir sobre a minha vida, concluo claramente que aquela conversa me influenciou decisivamente; que, quiçá, foi ‘mais essencial’ que todo o meu estudo e penso que, talvez, fosse a ‘verdadeira razão’ por que fui para aquela universidade. O que não estava no meu plano, estava no plano de Deus”.
Conclui: ”Quanto mais acontece algo semelhante, mais viva se torna em mim a consciência, que tenho pela fé, de que – aos olhos de Deus – não há ‘casualidade’ alguma; que toda a minha vida, até aos mínimos pormenores, está pré-traçada no plano da providência divina e é, diante dos olhos de Deus que tudo vê, uma coerência de sentido levada à plenitude. (…) Isto é verdade não só para a vida humana individual, mas também para a vida de toda a humanidade”.
Explica: A ‘coerência no Logos’ é a coerência de um’ todo-com-sentido’, de uma obra de arte complexa na qual todos os atos individuais têm lugar e encaixam na harmonia dum padrão universal. (…)
O que compreendemos do ‘sentido das coisas’, o que entra no nosso entendimento, relaciona-se com aquele ‘todo de sentido’, como os sons individuais perdidos duma sinfonia, interpretada muito longe, que nos chega trazia pelo vento.
Na linguagem dos teólogos, à coerência de sentido de todo o ente chama-se ‘o plano divino da criação. A história do mundo, desde o seu começo, é a sua realização.” (Ser finito e ser eterno, pág. 134)
Estes pensamentos de Santa Teresa Benedita da Cruz, que foi assassinada em plena 2.ª Guerra Mundial, recordam-me o livro “O Fenómeno Humano’ onde Teilhard Chardin apresenta Cristo como ponto de chegada da evolução histórica, sendo a meta final da evolução cósmica e humana, o ponto Ómega.
Somos fruto do Amor de Deus que nos criou e cria a cada momento. Recordo o que aprendi em tempos idos: o Amor vivido no seio da Santíssima Trindade – ‘Amor ad intra’ – extravasou e deu origem à Criação – ‘Amor ad extra’ - de que somos parte integrante. O Amor é fecundo…Sublime! Cheira a ‘Laudato Si’.
- “Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo, valeis mais do que muitos pardais.” (Lc, 12,7)
- “Eu sou o Alfa e o Ómega, (o Princípio e o Fim) diz o Senhor Deus. - Apoc 1,8” (17/9/2025)