O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, outubro 24, 2016

TEMPOS IDOS...



 

 


 

 

 


Quem conhece estas placas? Onde se localizavam? Para que serviam?

Espalhadas pela cidade do Porto, ainda se podem ver, designadamente, no antigo “Campo Pequeno” e nas igrejas de S. Lourenço, de Nª Srª da Esperança e da Vitória. Eram afixadas na base de uma torre onde uma caixa em ferro escondia a extremidade dum cabo que, por dentro dum tubo, subia até ao sino. Encimadas pelos dizeres: “Câmara Municipal 1853”, apresentam uma lista de locais do Porto e seus limítrofes, a que corresponde um determinado número. Assim: “Sé-4; Stº Ildefonso-5; Orfãos-6; Campanhã-7; Bonfim- 8; Stª Catarina-9; Aguardente-10; Paranhos-11; Lapa-12; Cedofeita-13; P. de Cristal-14; Carmo-15; Trindade-16; P. de D. Pedro-17; Misericórdia-18; S. Nicolau-19; Vª Nova de Gaia-20; Miragaia-21; Massarelos-22; Lordelo-23; Foz-24; Para Parar-3”.


Hoje, fornecem-nos preciosas informações toponímicas, mas a sua finalidade era outra. Vêm do tempo em que as corporações de bombeiros eram incipientes ou nem existiam. As casas estavam sujeitas a muitos incêndios por causa das lareiras e da madeira das suas estruturas. E como as ruas eram estreitas e as casas contíguas, a propagação era rápida e devastadora. Por isso, quando alguém se apercebia dum foco de incêndio, corria à torre mais próxima, puxava a corda do sino e tocava a fogo, dando as badaladas correspondentes ao local do incêndio: quatro se fosse na zona da Sé ou… Como as igrejas estavam em pontos estratégicos onde se ouvia de umas para as outras (veja-se a localização das igrejas que ainda têm essas placas), logo alguém corria à igreja próxima e repercutia a mensagem, repetindo o “toque a fogo” que ouvira. E assim sucessivamente… a cidade era avisada do incêndio e sua localização. Toda a vizinhança abandonava o que estava a fazer e, com baldes, machados, enxadas e tudo o que tivesse à mão, acorria para ajudar. A luta contra as chamas era uma tarefa hercúlea que irmanava toda a gente. Ninguém ficava em casa. Em momentos de aflição, esqueciam-se rivalidades, ódios e zangas. “Todos por um e um por todos.” O fogo era o único inimigo que urgia combater. Quando era extinto e o sino dava as três badaladas “Para Parar”, a cidade respirava de alívio. Belo exemplo para o nosso tempo em que tanto se fala de “solidariedade”…

As gentes do Porto poderiam desconhecer esta palavra mas sabiam vivê-la na abundância do coração.

Outros tempos em que a entreajuda era grande mas sem badalação, à maneira do Evangelho: “Guardai-vos de fazer vossas obras diante dos homens para serdes vistos por eles (Mt,6)”

 

( 12-10-2016)