TEMPOS IDOS...
Quem conhece estas placas? Onde
se localizavam? Para que serviam?
Espalhadas pela cidade do Porto,
ainda se podem ver, designadamente, no antigo “Campo Pequeno” e nas igrejas de
S. Lourenço, de Nª Srª da Esperança e da Vitória. Eram afixadas na base de uma
torre onde uma caixa em ferro escondia a extremidade dum cabo que, por dentro dum
tubo, subia até ao sino. Encimadas pelos dizeres: “Câmara Municipal 1853”,
apresentam uma lista de locais do Porto e seus limítrofes, a que corresponde um
determinado número. Assim: “Sé-4; Stº Ildefonso-5; Orfãos-6; Campanhã-7;
Bonfim- 8; Stª Catarina-9; Aguardente-10; Paranhos-11; Lapa-12; Cedofeita-13;
P. de Cristal-14; Carmo-15; Trindade-16; P. de D. Pedro-17; Misericórdia-18; S.
Nicolau-19; Vª Nova de Gaia-20; Miragaia-21; Massarelos-22; Lordelo-23; Foz-24;
Para Parar-3”.
Hoje, fornecem-nos preciosas
informações toponímicas, mas a sua finalidade era outra. Vêm do tempo em que as
corporações de bombeiros eram incipientes ou nem existiam. As casas estavam
sujeitas a muitos incêndios por causa das lareiras e da madeira das suas
estruturas. E como as ruas eram estreitas e as casas contíguas, a propagação
era rápida e devastadora. Por isso, quando alguém se apercebia dum foco de
incêndio, corria à torre mais próxima, puxava a corda do sino e tocava a fogo,
dando as badaladas correspondentes ao local do incêndio: quatro se fosse na
zona da Sé ou… Como as igrejas estavam em pontos estratégicos onde se ouvia de
umas para as outras (veja-se a localização das igrejas que ainda têm essas
placas), logo alguém corria à igreja próxima e repercutia a mensagem, repetindo
o “toque a fogo” que ouvira. E assim sucessivamente… a cidade era avisada do
incêndio e sua localização. Toda a vizinhança abandonava o que estava a fazer
e, com baldes, machados, enxadas e tudo o que tivesse à mão, acorria para
ajudar. A luta contra as chamas era uma tarefa hercúlea que irmanava toda a
gente. Ninguém ficava em casa. Em momentos de aflição, esqueciam-se rivalidades,
ódios e zangas. “Todos por um e um por todos.” O fogo era o único inimigo que
urgia combater. Quando era extinto e o sino dava as três badaladas “Para Parar”, a cidade respirava de
alívio. Belo exemplo para o nosso tempo em que tanto se fala de “solidariedade”…
As gentes do Porto poderiam
desconhecer esta palavra mas sabiam vivê-la na abundância do coração.
Outros tempos em que a entreajuda
era grande mas sem badalação, à maneira do Evangelho: “Guardai-vos de fazer
vossas obras diante dos homens para serdes vistos por eles (Mt,6)”
( 12-10-2016)
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